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EM TRANSE
Disparada do dólar leva banco a abandonar índice de 4% por um maior, de 5%; alta dos preços será calibrada pelos juros
BC admite estouro da inflação em 2003
NEY HAYASHI DA CRUZ
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central desistiu de perseguir a meta de 4% fixada para a
inflação de 2003. De agora em
diante, o BC irá usar a taxa de juros para manter a alta dos preços
em até 5% no ano que vem. A mudança foi anunciada ontem pelo
diretor de Política Econômica da
instituição, Ilan Goldfajn.
Segundo Goldfajn, a mudança
foi feita para ajustar a meta do governo aos choques sofridos pela
economia brasileira. Entre eles, a
disparada do dólar. Esses choques
seriam responsáveis por um aumento de até um ponto percentual na inflação de 2003.
A explicação do BC é que o efeito desses choques sobre a inflação
não pode ser compensado por
uma eventual elevação dos juros.
Para 2003, os choques seriam
dois. Um está ligado ao que o BC
chama de "inércia inflacionária".
Em outras palavras, espera-se que
parte dos choques sofridos pela
economia neste ano ainda afetarão a inflação de 2003.
Outro choque estaria relacionado aos preços administrados pelo
governo, como as tarifas públicas
e os combustíveis. Esses preços
são muito influenciados pelo dólar. Somados, os efeitos de ambos
os choques sobre a inflação ficariam em torno de um ponto percentual, nas contas do BC.
Como tanto os preços administrados como os efeitos da inércia
inflacionária são pouco sensíveis
às variações dos, o BC faz uma espécie de "expurgo" desses choques sobre a meta oficial. Ou seja,
a meta oficial continua a ser de
4%, mas o número a ser perseguido pelo BC passa para 5%.
Pelo sistema de metas de inflação, a meta central de 2003 foi fixada em 4%, mas pode variar até
2,5 pontos percentuais para cima
ou para baixo -a meta terá sido
cumprida mesmo que o IPCA, do
IBGE, chegue a 6,5% no ano.
Crescimento
Em tese, a mudança na meta a
ser alcançada pelo BC abre espaço
para o corte nos juros básicos, hoje em 18% ao ano. O BC projeta
que, mantida essa taxa, a inflação
de 2003 fique em 4,5%. A estimativa foi feita considerando que a
cotação do dólar se estabilize em
R$ 3,20 e consta do Relatório de
Inflação divulgado ontem.
Quando a inflação projetada está abaixo da meta, o BC pode reduzir os juros. Juros são mantidos
em níveis elevados para desestimular o consumo, o que favorece
o controle dos preços.
O problema é a inflação deste
ano, que continua bastante acima
do esperado. O BC estima em
6,7% o aumento de preços que
deve ocorrer neste ano, bem acima dos 5,5% fixados pelo teto da
meta do governo.
A manutenção dos juros elevados explica também o desaquecimento da economia que ocorre
neste ano. O BC espera que o crescimento vá ficar em 1,4%, abaixo
dos 2% previstos em junho e ligeiramente menor do que o 1,5% estimado em 2001.
De acordo com o BC, o estouro
da meta de inflação deste ano e a
queda no crescimento são consequências da disparada do dólar
ocorrida nos últimos meses. A
desvalorização do real seria consequência da "aproximação das
eleições e da deterioração da conjuntura internacional".
Esses fatores colaboraram para
"agravar as condições de crédito",
ou seja, diante do nervosismo do
mercado, os bancos ficaram mais
cautelosos para emprestar dinheiro a seus clientes.
Além disso, a alta do dólar leva
ao aumento dos preços, em especial das tarifas públicas. A maioria
das tarifas é corrigida pelo IGP-M,
índice de inflação que é bastante
afetado por produtos importados. Isso explica, diz o BC, o descumprimento da meta deste ano.
"Os principais focos de incerteza em relação às perspectivas para
a taxa de inflação até o final de
2003 referem-se, principalmente,
ao comportamento da taxa de
câmbio, à evolução da economia
mundial e à possibilidade de uma
guerra no Iraque e seu impacto
sobre os preços dos derivados de
petróleo", diz o relatório do BC.
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