São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

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ANÁLISE

Mudanças nas taxas feitas pelo BC desvirtuam sistema

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A meta oficial de inflação para o próximo ano é de 4%; o Banco Central projeta, para o mesmo ano, uma taxa de 4,5%; o próprio BC anuncia que sua atuação visará atingir uma inflação de 5%; e o mercado, também para 2003, prevê uma taxa de 5,5%.
Os dados mostram que o sistema brasileiro de metas de inflação desvirtuou o princípio mais básico de uma política desse tipo: as metas fixadas devem ter credibilidade suficiente para balizar as expectativas de empresários, investidores e consumidores.
Pela lógica simples que rege o mecanismo, se todos acreditam que o BC perseguirá com sucesso seu objetivo, não há razão para remarcações preventivas de preços ou reivindicações salariais extras -e esse comportamento leva à inflação desejada.
Hoje, porém, o que ocorre é quase o oposto: o BC anuncia, com grande antecedência, que não buscará a meta central de inflação do próximo ano, e sim uma taxa mais próxima às previsões anteriores do mercado.
E não se trata de uma exceção à regra: também foram abandonadas, sempre de forma transparente, as metas de 2001 e de 2002.

Dificuldades
A experiência internacional ajuda a entender os problemas na economia do Brasil com o regime adotado em 1999, após o início da desvalorização do real ocorrido em janeiro daquele ano.
Inglaterra, Canadá e Nova Zelândia estão entre os pioneiros na adoção do sistema de metas, que, na maior parte dos casos, foi iniciado tendo como ponto de partida uma inflação já baixa ou em processo de queda.
Também se recomenda que o país utilize um índice que expurgue eventuais choques transitórios na economia -idéia que o governo rejeitou, por temer acusações de manipulação.
Um estudo divulgado ontem pelo Banco Central mostra que o Brasil, entre 12 países com sistema de metas, é o que tem a inflação mais afetada por oscilações da taxa de câmbio. Essa lista inclui economias emergentes, como Chile, Tailândia, África do Sul e República Tcheca.
A mesma comparação evidencia as dificuldades do país com a adaptação ao regime de câmbio flutuante -que, com as metas de inflação, é citado entre os maiores progressos da gestão do Banco Central.
Pela concepção original do governo Fernando Henrique Cardoso, o dólar livre só viria após uma série de reformas estruturais que dessem ao país maior estabilidade econômica. Foi a escassez de reservas do Banco Central que, em 99, precipitou sua adoção.
(GUSTAVO PATÚ)


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