São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cresce a dívida do governo atrelada ao câmbio

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A dívida interna do governo federal atrelada ao câmbio (à variação do dólar) deverá bater recorde histórico em setembro e ultrapassar 40% do estoque total de papéis públicos em poder do mercado. Em agosto, a exposição cambial da dívida ficou em 34,98%.
A Folha apurou que o volume global da dívida mobiliária (em títulos, certificados de débitos do governo) deverá encerrar setembro próximo de R$ 650 bilhões. Isso representa um aumento de 4,5% em relação ao saldo verificado no final de agosto, quando o total da dívida somou R$ 622 bilhões.
O aumento da exposição cambial é resultado da escalada do dólar (Ptax), que subiu 28,87% apenas em setembro. Ontem, a cotação Ptax -a taxa de câmbio calculada pela média ponderada pelo Banco Central- fechou em R$ 3,89 contra R$ 3,02 no encerramento de agosto.
A elevação da exposição cambial da dívida ocorreu mesmo com o resgate líquido (recompra) de cerca de R$ 5 bilhões realizado pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central em setembro.
Na prática, isso quer dizer que o governo retirou do mercado R$ 5 bilhões a mais em títulos do que emitiu. Somente na semana passada, o Banco Central recomprou US$ 1,5 bilhão em papéis cambiais. O motivo dessa estratégia do BC é a alta da taxa de juros em dólar. O mercado vem cobrando um alto preço para a rolagem dessa dívida, taxa de juros que o BC não quer pagar.

Tensão realimentada
O volume da dívida pública atrelada ao câmbio tem sido motivo de preocupação constante do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do mercado. O governo tem respondido que, da mesma forma que a alta da moeda estrangeira aumenta a exposição cambial, a queda do dólar contribui para reduzi-la.
Além disso, a variação da moeda norte-americana, segundo o governo, apenas provoca gasto efetivo no momento do resgate dos títulos no mercado.
Esse movimento pôde ser observado em agosto, quando houve depreciação da moeda americana. No mês anterior (julho), a exposição cambial tinha atingido 37,05%. Com a queda do dólar, essa proporção caiu para 34,98%.
Julho havia sido o mês em que a participação dos títulos com correção cambial batera o recorde histórico de participação no total da dívida mobiliária desde que o Tesouro Nacional começou a fazer um levantamento sistemático desses dados, em dezembro de 1999.
A dívida do governo federal atrelada ao câmbio inclui papéis corrigidos pela cotação da moeda norte-americana e contratos de "swap" cambial.
Os contratos de "swap" pagam ao investidor tudo o que a oscilação do dólar superar a variação acumulada pela taxa de juros num determinado período.


Texto Anterior: Dólar alto leva dívida a 66% do PIB
Próximo Texto: Em transe: Debate nos EUA vê país à beira da bancarrota
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.