São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

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EM TRANSE

Economistas afirmam que o Brasil terá de reestruturar sua dívida e que bancos devem sofrer com processo

Debate nos EUA vê país à beira da bancarrota

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Antes mesmo das eleições de domingo e da posse de um novo presidente brasileiro, os mercados e principais economistas nos EUA já desenharam um futuro para o país: 1) independentemente de quem for eleito, o Brasil irá à bancarrota; 2) Luiz Inácio Lula da Silva deve vencer as eleições.
Essas são as conclusões de um raro debate sobre o Brasil, realizado ontem no IIE (Institute for International Economics), em Washington. Durante duas horas e meia, o financista George Soros, o ex-presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), Paul Volcker, e o economista Morris Goldstein não só deram o calote da dívida pública brasileira como certo como também traçaram cenários pós-bancarrota.
"O PIB vai cair 5% em 2003 e os bancos, lotados de papéis do governo, teriam problemas sérios", disse Goldstein, ex-funcionário do FMI (Fundo Monetário Internacional). "Não acho que os mercados darão uma chance ao Brasil", disse Soros. "No entanto, como se trata de um país grande, vai sobreviver à reestruturação. Quem talvez não sobreviva é a globalização, já que o país deverá impor controles de capital."
Voz solitária no debate, o economista inglês radicado nos EUA, John Williamson, tentou defender sua idéia de que ainda é possível sustentar os pagamentos da dívida brasileira. No entanto, pela primeira vez desde que assumiu a defesa da equipe econômica brasileira em Washington, Williamson foi obrigado a reconhecer dois fatos: o país terá que fazer um esforço duríssimo para recolocar a dívida numa trajetória declinante; e que, mantidos indefinidamente os atuais câmbio e risco-país, talvez seja melhor jogar a toalha e reestruturar a dívida.
"Equilibrar a dívida talvez signifique elevar o superávit primário logo no começo de 2003 e manter uma política rígida pelos próximos dois anos. O crescimento ficaria para os últimos três anos do próximo governo", disse ele.
O debate foi acompanhado pela nata do sistema financeiro internacional. Além do vice-presidente do Citigroup, Stanley Fischer, do presidente do BC mexicano, Guillermo Ortiz e do ex-diretor do Tesouro dos EUA, Ted Truman, estavam na platéia entre 10 e 15 funcionários graduados do FMI.
Goldstein disse que a crise de pagamentos brasileira deverá ocorrer nos próximos seis meses e que a realidade derrotara os pressupostos otimistas de Williamson.
Parafraseando Maria Antonieta, a célebre rainha da França, Soros afirmou que o Brasil já perdeu a capacidade de definir se terá ou não que reestruturar sua dívida: "Não cabe mais ao Brasil decidir. Se o país não conseguir pegar dinheiro emprestado a taxas razoáveis, não haverá opção. Não é uma questão de comer pães ou brioches, como dissera Maria Antonieta."
Segundo Soros, os acionistas americanos estão punindo a exposição de bancos no Brasil. "As ações de bancos com operações no Brasil estão caindo. Os bancos têm que reagir saindo do Brasil. Essa é a lógica."
Volcker admitiu não conhecer muito a situação brasileira, mas disse raramente ter visto uma aversão ao risco similar à observada atualmente. "A aversão é muito grande. Não é um problema só do Brasil, mas de toda periferia. É difícil sobreviver nesse ambiente" E justificou da seguinte forma o pânico dos mercados. "Basta esse debate para entender a dinâmica do nervosismo dos mercados. Quem iria comprar papéis brasileiros depois de ouvir as previsões de Morris (Goldstein)"


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