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EM TRANSE
Economistas afirmam que o Brasil terá de reestruturar sua dívida e que bancos devem sofrer com processo
Debate nos EUA vê país à beira da bancarrota
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Antes mesmo das eleições de
domingo e da posse de um novo
presidente brasileiro, os mercados e principais economistas nos
EUA já desenharam um futuro
para o país: 1) independentemente de quem for eleito, o Brasil irá à
bancarrota; 2) Luiz Inácio Lula da
Silva deve vencer as eleições.
Essas são as conclusões de um
raro debate sobre o Brasil, realizado ontem no IIE (Institute for International Economics), em Washington. Durante duas horas e
meia, o financista George Soros, o
ex-presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA),
Paul Volcker, e o economista
Morris Goldstein não só deram o
calote da dívida pública brasileira
como certo como também traçaram cenários pós-bancarrota.
"O PIB vai cair 5% em 2003 e os
bancos, lotados de papéis do governo, teriam problemas sérios",
disse Goldstein, ex-funcionário
do FMI (Fundo Monetário Internacional). "Não acho que os mercados darão uma chance ao Brasil", disse Soros. "No entanto, como se trata de um país grande, vai
sobreviver à reestruturação.
Quem talvez não sobreviva é a
globalização, já que o país deverá
impor controles de capital."
Voz solitária no debate, o economista inglês radicado nos EUA,
John Williamson, tentou defender sua idéia de que ainda é possível sustentar os pagamentos da
dívida brasileira. No entanto, pela
primeira vez desde que assumiu a
defesa da equipe econômica brasileira em Washington, Williamson foi obrigado a reconhecer
dois fatos: o país terá que fazer um
esforço duríssimo para recolocar
a dívida numa trajetória declinante; e que, mantidos indefinidamente os atuais câmbio e risco-país, talvez seja melhor jogar a
toalha e reestruturar a dívida.
"Equilibrar a dívida talvez signifique elevar o superávit primário
logo no começo de 2003 e manter
uma política rígida pelos próximos dois anos. O crescimento ficaria para os últimos três anos do
próximo governo", disse ele.
O debate foi acompanhado pela
nata do sistema financeiro internacional. Além do vice-presidente do Citigroup, Stanley Fischer,
do presidente do BC mexicano,
Guillermo Ortiz e do ex-diretor
do Tesouro dos EUA, Ted Truman, estavam na platéia entre 10 e
15 funcionários graduados do
FMI.
Goldstein disse que a crise de
pagamentos brasileira deverá
ocorrer nos próximos seis meses e
que a realidade derrotara os pressupostos otimistas de Williamson.
Parafraseando Maria Antonieta, a célebre rainha da França, Soros afirmou que o Brasil já perdeu
a capacidade de definir se terá ou
não que reestruturar sua dívida:
"Não cabe mais ao Brasil decidir.
Se o país não conseguir pegar dinheiro emprestado a taxas razoáveis, não haverá opção. Não é
uma questão de comer pães ou
brioches, como dissera Maria Antonieta."
Segundo Soros, os acionistas
americanos estão punindo a exposição de bancos no Brasil. "As
ações de bancos com operações
no Brasil estão caindo. Os bancos
têm que reagir saindo do Brasil.
Essa é a lógica."
Volcker admitiu não conhecer
muito a situação brasileira, mas
disse raramente ter visto uma
aversão ao risco similar à observada atualmente. "A aversão é muito grande. Não é um problema só
do Brasil, mas de toda periferia. É
difícil sobreviver nesse ambiente"
E justificou da seguinte forma o
pânico dos mercados. "Basta esse
debate para entender a dinâmica
do nervosismo dos mercados.
Quem iria comprar papéis brasileiros depois de ouvir as previsões
de Morris (Goldstein)"
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