São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

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Situação é grave com Lula ou Serra, diz Soros

DE WASHINGTON

Um dia depois de prever a bancarrota do Brasil, o financista George Soros disse ontem não ter nada contra o PT ou contra a capacidade da atual equipe econômica de administrar a dívida.
"Mesmo se Serra (José Serra, candidato do PSDB à Presidência) fosse eleito, não acho que os juros (reais sobre a dívida) cairiam para um patamar nem próximo de 10%. A economia ficaria cambaleante, sangrando lentamente, do mesmo modo", disse à Folha.
Soros disse ainda compreender a reação negativa do presidente do BC, Armínio Fraga, e do ministro da Fazenda, Pedro Malan, a suas declarações pessimistas de domingo, na TV americana ABC. Soros dissera: "O Brasil está perto de ter eleições. Será eleito um presidente que não é apreciado pelos mercados. As taxas de juros (risco-país) vão chegar a 25%. A essa altura, o Brasil estará falido."
Ontem, o financista disse que não vê razões para se retratar, mas compreende os motivos de Armínio. "Posso entender. Sou um grande admirador de Armínio. Ele tem suas razões para não concordar comigo. É compreensível."
Antes de assumir o BC, Armínio administrou um dos fundos especulativos de Soros em Nova York. A Folha perguntou a Soros se os dois conversaram nos últimos dias, já que ambos vieram a Washington para a reunião anual do FMI e seminários paralelos. "Não quero entrar nesse assunto."
Segundo o financista, suas críticas não são ao Brasil, mas sim ao sistema financeiro internacional e aos mercados. "Tenho certeza de que Lula pode ser amigo dos mercados, desde que eles permitam que ele o seja. Se Lula conseguir convencer os mercados a cobrar taxa de juros reais de 10%, e não de 25%, tenho certeza de que ele optaria por administrar a dívida, sem reestruturá-la. Mas não acho que os mercados darão uma chance a ele. Talvez dêem, mas eu ficaria surpreso." Para Soros, trata-se de um grave problema de aversão ao risco no mundo - insolúvel, seja Lula ou Serra o próximo presidente brasileiro.


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