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RETOMADA
Valor investido em máquinas, equipamentos e construção recua no 2º trimestre; taxa de poupança é a maior desde 91
Investimento cai e poupança cresce no país
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Considerada por especialistas
como um dos principais pilares
de sustentação de um crescimento econômico duradouro, a taxa
de investimento na economia
caiu de 19,3% do PIB (Produto Interno Bruto) nos três primeiros
meses do ano para 18,6% no segundo trimestre, informou ontem o IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística).
O percentual, porém, é maior
do que o registrado no segundo
trimestre de 2003, quando havia
ficado em 17,2%.
A taxa representa o valor investido em máquinas, equipamentos
e construção, multiplicado por
cem e dividido pelo valor total do
PIB no período.
Já a taxa de poupança, impulsionada pelo crescimento do saldo na transação de bens e serviços
(ocasionado especialmente por
causa das exportações), é a maior
desde 1991. Ficou em 24,9% no segundo trimestre, contra 23,4%
dos primeiros três meses do ano.
No segundo trimestre de 2003, o
percentual havia sido de 21,6%.
Divulgado ontem, o PIB (conjunto das riquezas produzidas pelo país) em valores correntes (sem
desconto da inflação) somou R$
429,117 bilhões no segundo trimestre deste ano. No semestre, a
cifra acumulada é de R$ 816,8 bilhões. A taxa de crescimento do
PIB havia sido divulgada no mês
passado pelo IBGE e apontou alta,
no semestre, de 4,2% sobre os seis
primeiros meses de 2003.
O nível atual da taxa de investimento está bem abaixo do que especialistas consideram ideal para
países emergentes sustentarem
um crescimento contínuo da economia por vários anos. O percentual desejável, segundo eles, para
uma expansão na casa dos 4% a
5%, é de ao menos 25%.
"É uma taxa de investimento
muito baixa, mas o que importa é
que a tendência daqui para a frente deve ser de crescimento, acompanhando a expansão da economia", disse o economista Alex
Agostini, da Global Invest.
Para o IBGE, a comparação com
o trimestre imediatamente anterior, na qual a taxa de investimento apresentou retração, não é a
mais adequada. O problema é a
sazonalidade -ou seja, sempre
existem períodos nos quais os investimentos se concentram, como perto do final do ano.
De acordo com Roberto Olinto,
gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, o importante não é a variação da taxa, mas
sim o fato de que os investimentos
na economia estão crescendo
num ritmo maior do que o PIB.
Enquanto o PIB subiu 4,2% no semestre, o investimento teve uma
alta de 6,8%.
Segundo Olinto, a taxa de investimento pode cair ou subir em razão dos preços de máquinas e
equipamentos, sem apontar necessariamente uma mudança no
volume de produção.
De acordo com Bráulio Borges,
os preços relativos de máquinas e
equipamentos estão subindo numa proporção muito maior do
que os demais preços da economia. Tal situação, diz, "inflou" a
taxa de investimento. "Se não fosse por isso e se a taxa fosse calculada a partir de preços constantes, a
taxa de investimento seria ainda
menor", diz.
Embora o consumo das famílias
tenha reagido nos últimos meses,
Borges ressalta que sua participação caiu para 55% do PIB como
conseqüência da forte redução da
renda em 2003 -o rendimento
médio teve queda de 7,4%, de
acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio). Historicamente, o consumo
das famílias, segundo ele, corresponde a 60% do PIB.
Poupança recorde
A poupança nacional é a renda
nacional bruta (o PIB menos rendas de propriedade e remunerações do trabalho enviados para
fora) menos as despesas de consumo. O cálculo é feito multiplicando por cem o valor da poupança e dividindo pelo valor do
PIB no período.
Em valor, a poupança bateu outro recorde: R$ 107 bilhões, o mais
alto patamar desde 1994.
O motivo foi o bom desempenho da balança de bens e serviços.
Isso levou o país a registrar uma
capacidade de financiamento de
R$ 14,8 bilhões no semestre.
Boa parte dessa folga de caixa
foi utilizada para amortizar dívidas tanto do governo como da iniciativa privada. No segundo trimestre, o país pagou dívida no valor de R$ 17 bilhões, sendo R$ 4,2
bilhões para o FMI (Fundo Monetário Internacional).
"A capacidade de financiamento foi utilizada não para aplicar,
mas para amortizar dívida. Não
foi apenas uma iniciativa do governo, mas também do setor privado", afirmou Adriana Beringuy, da Coordenação de Contas
Nacionais do IBGE.
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