São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2004

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RETOMADA

Valor investido em máquinas, equipamentos e construção recua no 2º trimestre; taxa de poupança é a maior desde 91

Investimento cai e poupança cresce no país

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Considerada por especialistas como um dos principais pilares de sustentação de um crescimento econômico duradouro, a taxa de investimento na economia caiu de 19,3% do PIB (Produto Interno Bruto) nos três primeiros meses do ano para 18,6% no segundo trimestre, informou ontem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O percentual, porém, é maior do que o registrado no segundo trimestre de 2003, quando havia ficado em 17,2%.
A taxa representa o valor investido em máquinas, equipamentos e construção, multiplicado por cem e dividido pelo valor total do PIB no período.
Já a taxa de poupança, impulsionada pelo crescimento do saldo na transação de bens e serviços (ocasionado especialmente por causa das exportações), é a maior desde 1991. Ficou em 24,9% no segundo trimestre, contra 23,4% dos primeiros três meses do ano. No segundo trimestre de 2003, o percentual havia sido de 21,6%.
Divulgado ontem, o PIB (conjunto das riquezas produzidas pelo país) em valores correntes (sem desconto da inflação) somou R$ 429,117 bilhões no segundo trimestre deste ano. No semestre, a cifra acumulada é de R$ 816,8 bilhões. A taxa de crescimento do PIB havia sido divulgada no mês passado pelo IBGE e apontou alta, no semestre, de 4,2% sobre os seis primeiros meses de 2003.
O nível atual da taxa de investimento está bem abaixo do que especialistas consideram ideal para países emergentes sustentarem um crescimento contínuo da economia por vários anos. O percentual desejável, segundo eles, para uma expansão na casa dos 4% a 5%, é de ao menos 25%.
"É uma taxa de investimento muito baixa, mas o que importa é que a tendência daqui para a frente deve ser de crescimento, acompanhando a expansão da economia", disse o economista Alex Agostini, da Global Invest.
Para o IBGE, a comparação com o trimestre imediatamente anterior, na qual a taxa de investimento apresentou retração, não é a mais adequada. O problema é a sazonalidade -ou seja, sempre existem períodos nos quais os investimentos se concentram, como perto do final do ano.
De acordo com Roberto Olinto, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, o importante não é a variação da taxa, mas sim o fato de que os investimentos na economia estão crescendo num ritmo maior do que o PIB. Enquanto o PIB subiu 4,2% no semestre, o investimento teve uma alta de 6,8%.
Segundo Olinto, a taxa de investimento pode cair ou subir em razão dos preços de máquinas e equipamentos, sem apontar necessariamente uma mudança no volume de produção.
De acordo com Bráulio Borges, os preços relativos de máquinas e equipamentos estão subindo numa proporção muito maior do que os demais preços da economia. Tal situação, diz, "inflou" a taxa de investimento. "Se não fosse por isso e se a taxa fosse calculada a partir de preços constantes, a taxa de investimento seria ainda menor", diz.
Embora o consumo das famílias tenha reagido nos últimos meses, Borges ressalta que sua participação caiu para 55% do PIB como conseqüência da forte redução da renda em 2003 -o rendimento médio teve queda de 7,4%, de acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio). Historicamente, o consumo das famílias, segundo ele, corresponde a 60% do PIB.

Poupança recorde
A poupança nacional é a renda nacional bruta (o PIB menos rendas de propriedade e remunerações do trabalho enviados para fora) menos as despesas de consumo. O cálculo é feito multiplicando por cem o valor da poupança e dividindo pelo valor do PIB no período.
Em valor, a poupança bateu outro recorde: R$ 107 bilhões, o mais alto patamar desde 1994.
O motivo foi o bom desempenho da balança de bens e serviços. Isso levou o país a registrar uma capacidade de financiamento de R$ 14,8 bilhões no semestre.
Boa parte dessa folga de caixa foi utilizada para amortizar dívidas tanto do governo como da iniciativa privada. No segundo trimestre, o país pagou dívida no valor de R$ 17 bilhões, sendo R$ 4,2 bilhões para o FMI (Fundo Monetário Internacional).
"A capacidade de financiamento foi utilizada não para aplicar, mas para amortizar dívida. Não foi apenas uma iniciativa do governo, mas também do setor privado", afirmou Adriana Beringuy, da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE.


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