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PROJEÇÃO
Apesar de elevar estimativa para o PIB, relatório traça cenário para preços até mais pessimista que o previsto pelo mercado
BC vê expansão maior, mas inflação em alta
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central revisou para cima a sua estimativa para o crescimento econômico, mas apresentou números piores para sustentar os seus temores em relação à
inflação. Em português claro, foi
reforçada a tendência de alta dos
juros para frear o consumo daqui
para a frente.
Em seu relatório trimestral de
inflação, divulgado ontem, o Banco Central prevê uma expansão
de 4,4% do PIB (Produto Interno
Bruto, soma das riquezas produzidas no país) neste ano, praticamente idêntica à de 4,36% registrada em 2000, no melhor resultado nos últimos nove anos.
Para a inflação, as projeções ficaram mais pessimistas. Avalia-se
que, mantidos os juros atuais, o
IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fechará o ano em
7,2% e 2005 em 5,6% -neste último caso, acima tanto da meta oficial de 4,5% como dos 5,1% que o
Banco Central diz buscar de fato
no próximo ano.
Mais que isso: o BC também
projetou a inflação de 2005 a partir das trajetórias de juros e câmbio previstas pelo mercado -e
chegou a uma conclusão mais
pessimista que a do próprio mercado: um IPCA de 6,4%, contra
5,8% esperados por bancos e consultorias.
O novo cálculo para o PIB basicamente atualiza a projeção oficial e a torna compatível com as
expectativas de analistas e investidores divulgadas nas últimas semanas.
Ao otimismo com o desempenho do consumo e da produção,
porém, o BC contrapõe a ameaça
de ser preciso desacelerar a economia para evitar a inflação.
"A partir da consolidação desse
quadro, ganham relevância no
debate econômico temas pertinentes à sustentabilidade do crescimento", diz o documento.
Riscos
O BC não chega, obviamente, a
tachar de insustentável o atual ritmo de atividade econômica, mas
o diretor de Estudos Especiais,
Eduardo Loyo, enumera -não
necessariamente em ordem de
importância- quatro riscos para
a inflação:
1) PIB no limite - O desempenho econômico é, nas palavras de
Loyo, "uma surpresa". A melhora
sobre a recessão do ano passado
foi mais rápida e mais forte que o
esperado, e há sinais de que a produção se aproxima do máximo
permitido pela capacidade do
país ou, em economês, do "produto potencial".
Tal cenário traz duas possibilidades: ou os investimentos aumentam o bastante para elevar a
capacidade de produção ou o
consumo de bens e serviços acabará superando a oferta, com
conseqüente alta da inflação.
O que vai acontecer? O BC simplesmente não sabe, ou diz não
saber. O relatório afirma que há
uma boa recuperação dos investimentos, mas aponta que o nível
atual é inferior aos 25% do PIB verificados há dez anos;
2) preço do petróleo - Vem batendo recordes sucessivos no
mercado internacional e, mais cedo ou mais tarde, levará a um reajuste da gasolina e outros derivados no Brasil.
As projeções do Copom levam
em conta o preço externo de US$
35 por barril, que seria compatível
com uma alta de 9,5% da gasolina
neste ano. O preço do barril, porém, já anda mais próximo da casa dos US$ 50;
3) expectativas - Apesar de falar
desde agosto em aumento dos juros e de ter levado a cabo a ameaça em setembro, o BC não conseguiu evitar o aumento da inflação
esperada pelo mercado em 2005.
Essas são as chamadas expectativas auto-realizáveis. Se todos
prevêem uma inflação maior, empresas e trabalhadores buscarão
reajustar preços e salários com
base no índice esperado, que acaba se confirmando;
4) preços no atacado - O BC detectou um aumento desses preços
na indústria, o setor mais aquecido da economia. Pela lógica, esses
aumentos chegarão ao varejo -e
ao IPCA. Não se sabe quando,
nem em que proporção.
Embora não se arrisque a fazer
previsões de crescimento em
2005, o BC também trata de enumerar razões para um resultado
favorável. A principal delas é a
perspectiva de queda da proporção entre a dívida pública e o PIB.
Conta-se ainda com um cenário
favorável no comércio exterior,
apesar de estar nos cálculos uma
redução do superávit, de US$ 30
bilhões esperados neste ano para
US$ 24,5 bilhões em 2005.
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