São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2004

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PROJEÇÃO

Apesar de elevar estimativa para o PIB, relatório traça cenário para preços até mais pessimista que o previsto pelo mercado

BC vê expansão maior, mas inflação em alta

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central revisou para cima a sua estimativa para o crescimento econômico, mas apresentou números piores para sustentar os seus temores em relação à inflação. Em português claro, foi reforçada a tendência de alta dos juros para frear o consumo daqui para a frente.
Em seu relatório trimestral de inflação, divulgado ontem, o Banco Central prevê uma expansão de 4,4% do PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas no país) neste ano, praticamente idêntica à de 4,36% registrada em 2000, no melhor resultado nos últimos nove anos.
Para a inflação, as projeções ficaram mais pessimistas. Avalia-se que, mantidos os juros atuais, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fechará o ano em 7,2% e 2005 em 5,6% -neste último caso, acima tanto da meta oficial de 4,5% como dos 5,1% que o Banco Central diz buscar de fato no próximo ano.
Mais que isso: o BC também projetou a inflação de 2005 a partir das trajetórias de juros e câmbio previstas pelo mercado -e chegou a uma conclusão mais pessimista que a do próprio mercado: um IPCA de 6,4%, contra 5,8% esperados por bancos e consultorias.
O novo cálculo para o PIB basicamente atualiza a projeção oficial e a torna compatível com as expectativas de analistas e investidores divulgadas nas últimas semanas.
Ao otimismo com o desempenho do consumo e da produção, porém, o BC contrapõe a ameaça de ser preciso desacelerar a economia para evitar a inflação.
"A partir da consolidação desse quadro, ganham relevância no debate econômico temas pertinentes à sustentabilidade do crescimento", diz o documento.

Riscos
O BC não chega, obviamente, a tachar de insustentável o atual ritmo de atividade econômica, mas o diretor de Estudos Especiais, Eduardo Loyo, enumera -não necessariamente em ordem de importância- quatro riscos para a inflação:
1) PIB no limite - O desempenho econômico é, nas palavras de Loyo, "uma surpresa". A melhora sobre a recessão do ano passado foi mais rápida e mais forte que o esperado, e há sinais de que a produção se aproxima do máximo permitido pela capacidade do país ou, em economês, do "produto potencial".
Tal cenário traz duas possibilidades: ou os investimentos aumentam o bastante para elevar a capacidade de produção ou o consumo de bens e serviços acabará superando a oferta, com conseqüente alta da inflação.
O que vai acontecer? O BC simplesmente não sabe, ou diz não saber. O relatório afirma que há uma boa recuperação dos investimentos, mas aponta que o nível atual é inferior aos 25% do PIB verificados há dez anos;
2) preço do petróleo - Vem batendo recordes sucessivos no mercado internacional e, mais cedo ou mais tarde, levará a um reajuste da gasolina e outros derivados no Brasil.
As projeções do Copom levam em conta o preço externo de US$ 35 por barril, que seria compatível com uma alta de 9,5% da gasolina neste ano. O preço do barril, porém, já anda mais próximo da casa dos US$ 50;
3) expectativas - Apesar de falar desde agosto em aumento dos juros e de ter levado a cabo a ameaça em setembro, o BC não conseguiu evitar o aumento da inflação esperada pelo mercado em 2005.
Essas são as chamadas expectativas auto-realizáveis. Se todos prevêem uma inflação maior, empresas e trabalhadores buscarão reajustar preços e salários com base no índice esperado, que acaba se confirmando;
4) preços no atacado - O BC detectou um aumento desses preços na indústria, o setor mais aquecido da economia. Pela lógica, esses aumentos chegarão ao varejo -e ao IPCA. Não se sabe quando, nem em que proporção.
Embora não se arrisque a fazer previsões de crescimento em 2005, o BC também trata de enumerar razões para um resultado favorável. A principal delas é a perspectiva de queda da proporção entre a dívida pública e o PIB.
Conta-se ainda com um cenário favorável no comércio exterior, apesar de estar nos cálculos uma redução do superávit, de US$ 30 bilhões esperados neste ano para US$ 24,5 bilhões em 2005.


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