São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2004

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Retomada exige ajuste, diz Palocci

NEY HAYASHI DA CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O processo de retomada do crescimento econômico no Brasil ainda exige "ajustes", e é necessário ao Banco Central continuar "vigilante" em relação ao controle de inflação. A avaliação foi feita ontem pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), para quem a recente elevação dos juros não prejudicará a economia.
"O crescimento, quando começa a se tornar consistente, exige ajustes, que servem para garantir que ele não se limite ao curto prazo", disse Palocci, que está em Washington para a reunião anual do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial.
No mês passado, o BC elevou os juros de 16% para 16,25% ao ano, sob o argumento de ter como objetivo manter a inflação dentro das metas fixadas pelo governo. Segundo Palocci, "parte da inflação é resultado do crescimento".
A recuperação do nível de atividade pode gerar aumento nos preços quando as empresas não conseguem produzir o suficiente para atender todos os consumidores.
Por outro lado, o ministro afirmou também que a alta da inflação reflete, em parte, o aumento nos custos das empresas, como a recente alta do preço do petróleo no mercado internacional. "Isso não se controla com política monetária", declarou.
Ainda que o BC projete uma alta de 5,6% para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) em 2005 -acima da meta de 5,1% fixada pelo próprio BC-, Palocci disse que "a inflação não está descontrolada" e que a economia está crescendo "a taxas muito razoáveis". O BC estima em 4,4% a expansão a ser registrada pela economia neste ano, abaixo da média mundial, que, segundo o FMI, ficará em 5%.
Palocci voltou a insistir na idéia de que a alta dos juros é necessária para manter o crescimento no longo prazo. "Se nós deixarmos que a inflação corroa a renda das famílias, estaremos, num curto espaço de tempo, comprometendo o processo de crescimento."
O ministro também contestou os resultados de pesquisa feita pelo Banco Mundial que mostra que, na visão dos empresários, o Brasil é o pior lugar para fazer negócios de um grupo de 53 emergentes. Para Palocci, os resultados apresentam uma defasagem de dois anos. "O que deve ser observado são os resultados efetivos dos investimentos no Brasil."
Logo depois de chegar à cidade, o ministro teve reuniões com o diretor-gerente do FMI, Rodrigo Rato, e com o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow.
Um dos objetivos da missão brasileira em Washington é discutir a criação de uma linha de crédito emergencial que pudesse ser criada pelo FMI para socorrer países em dificuldades financeiras. Diferentemente do que acontece hoje em dia, porém, a ajuda não seria condicionada ao cumprimento de metas.
Os EUA -país que, individualmente, mais repassa recursos ao FMI- são contrários à proposta. Após os encontros de ontem, Palocci disse que a discussão sobre o assunto "não será necessariamente conclusiva". O atual acordo com o FMI se encerra em março, e Palocci não descartou sua renovação. "Sobre o ano que vem, vamos pensar no ano que vem."


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