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COMÉRCIO MUNDIAL
Bloco tentará resolver divergências internas a fim de evitar fracasso nas negociações com europeus
Mercosul se reúne para salvar acordo com UE
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O Mercosul reúne-se na quinta e
na sexta-feira da próxima semana, em Brasília, em um esforço
contra o relógio para tentar salvar
as negociações com a União Européia, que chegaram à beira do
colapso após a mais recente troca
de ofertas entre as partes.
Na prática, a reunião servirá
menos para analisar a oferta européia, já dada como insatisfatória
pelo governo brasileiro, e mais
para aproximar posições entre os
quatro membros do Mercosul, especialmente Brasil e Argentina.
Foram as divergências entre os
dois principais sócios do Mercosul que ajudaram a fazer da oferta
à UE um conjunto tímido demais
para os europeus.
O exemplo talvez mais forte dos
desencontros intra-Mercosul está
no setor automotivo. A oferta do
Mercosul à UE deveria ser de uma
cota de importação de 100 mil carros europeus -60 mil para o Brasil, 30 mil para a Argentina e 5.000
para cada um dos outros sócios
do bloco (Paraguai e Uruguai).
A Argentina, que quer dar o máximo de fôlego à sua recuperação
econômica, preferia fabricar localmente os carros, em vez de importar. Por isso, o Brasil aceitou
absorver 80% da cota que deveria
ir para o vizinho. Mesmo assim,
os argentinos recusaram, porque
preferem que o mercado brasileiro fique mais fechado para os europeus e mais aberto para seus
próprios produtos.
Se é o exemplo mais forte, não é
o único. "No caso dos têxteis, por
exemplo, o Brasil tem uma posição bem mais ofensiva do que a
Argentina", diz Lúcia Maduro, a
negociadora do setor privado para a indústria, como representante da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
A divisão intra-Mercosul acabou provocando um segundo racha, esse entre uma fatia do empresariado e o governo, como admite Mário Mugnaini, com a experiência de quem passou a vida
no setor privado, mas, desde
2003, é secretário-geral da Camex
(Câmara de Comércio Exterior).
Mugnaini constatou que a indústria, de modo geral, não chegou a ficar muito triste com a fraca oferta européia. Mas, em contrapartida, o agronegócio ficou
muito irritado, como deixa claro
Antonio Donizeti Beraldo (Confederação Nacional da Agricultura): "O Mercosul, além de não
conseguir equacionar seus problemas de integração, está se revelando incapaz de apresentar propostas minimamente aceitáveis
tanto para a UE como na Alca."
A queixa do representante da
CNA nas negociações é fácil de
entender: a UE tem tarifas baixas
para importações de bens industriais, mas impõe forte protecionismo para produtos agrícolas.
Por isso, um acordo de liberalização comercial com o Mercosul
beneficiaria mais o agronegócio
do que a indústria. É natural, portanto, que o agronegócio se queixe agora da falta de ambição da
oferta do Mercosul nas outras
áreas, o que deu um bom pretexto
para os europeus também adotarem proposta pouco ambiciosa.
Dá para corrigir o estrago até o
próximo dia 31, o prazo fatal para
a conclusão das negociações?
Mugnaini acredita que sim, embora as perspectivas sejam remotas. O secretário-geral da Camex
trabalha com duas hipóteses:
1) Ou os dois lados voltam à
propostas que haviam sido verbalmente feitas, com o que, em tese, seria possível fechar ao menos
um "acordo-quadro" -entendimento que tem só as linhas gerais.
2) Ou a negociação recomeça
depois que mudar, no mesmo dia
31, a Comissão Européia, o braço
executivo da UE. Mesmo nessa hipótese, o otimista de profissão
que é Mugnaini acredita que não
se vai começar do zero, mas aproveitar o trabalho feito mesmo que
tenha chegado a um impasse.
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