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Para o Brasil,
oferta européia
é um "retrocesso"
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Ruim" e "um verdadeiro retrocesso" foram adjetivos que o principal negociador brasileiro com a
União Européia, Regis Arslanian,
usou para qualificar a proposta
que os europeus entregaram ao
Mercosul para a criação de uma
área de livre comércio. Segundo
Arslanian, a avaliação ainda é preliminar.
"A oferta deles é ruim porque
volta atrás. É um verdadeiro retrocesso", disse Arslanian. O retrocesso, diz o embaixador, se deve ao fato de os europeus terem
oferecido uma abertura para o setor agrícola menor do que eles
mesmo haviam indicado verbalmente na última reunião com o
Mercosul, em Bruxelas.
Os europeus, por sua vez, afirmam que a sua oferta é apenas um
reflexo das propostas que o Mercosul apresentou na semana passada. A única conclusão possível é
que as negociações chegaram a
um impasse num momento delicado -o prazo estabelecido para
um acordo acaba no fim deste
mês. Se as negociações fracassarem -o cenário mais provável no
momento-, as conversas recomeçariam no próximo ano.
Arslanian, no entanto, não quer
jogar ainda a toalha no chão. "Se
houver disposição política de parte a parte, ainda se pode concluir
[o acordo dentro do prazo]."
Para descrever o atual estágio
das negociações, ele inventou um
neologismo. "O combinado é que
as ofertas seriam "pré-finais". Elas
podem ser melhoradas", disse ele.
Apesar das declarações dos negociadores sobre o interesse de ter
um acordo, parece que não existe
disposição política para concluir
as negociações dentro do prazo.
Os dois lados afirmam que deixaram muito claro quais são as
condições indispensáveis impostas pelas partes para se chegar a
um entendimento. Mesmo assim,
as ofertas trocadas estão longe de
serem satisfatórias, de acordo
com os negociadores da Europa e
do Mercosul.
"Aquelas condições essenciais e
indispensáveis não foram atendidas", afirmou Arslanian. Segundo
ele, a proposta européia não garante que o volume atual de exportações agrícolas vá crescer.
Cotas de exportação agrícola
A oferta entregue anteontem ao
Mercosul também inclui o parcelamento em dez anos das cotas de
exportação agrícola que os europeus estão dispostos a dar. Foi
justamente esse ponto que levou
o Mercosul a suspender negociações em meados deste ano.
"Depois de termos suspenso
uma reunião, eles voltaram a incluir o mesmo ponto na oferta",
reclama o diplomata brasileiro.
Dentro do Brasil, o setor privado está dividido com relação à
atuação do Itamaraty.
A indústria, representada pela
CNI (Confederação Nacional da
Indústria), apóia os negociadores.
A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) acusa
os diplomatas brasileiros de terem "má vontade" em negociar
com a Europa.
O Itamaraty se reunirá com representantes do setor privado na
terça para avaliar os detalhes da
atual proposta européia. Haverá,
no mesmo dia, encontro intragovernamental para discutir o tema.
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