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Para especialistas, lei faz empresário agir com mais cuidado
DA REPORTAGEM LOCAL
A lei nš 8.884, de 1994, que
dispõe sobre a defesa da livre
concorrência, levou os empresários a tomarem mais cuidado
com a formação de cartel no
país, segundo especialistas ouvidos pela Folha.
Isso quer dizer que, apesar
de alguns setores ainda abusarem da prática de concorrência
desleal, os cartéis não são tão
evidentes ou fáceis de serem
identificados como no passado.
"O próprio governo chegou a
ser o indutor da formação de
cartel durante muito tempo no
Brasil. Estimulava as câmaras
setoriais a fixarem preços. Adotava uma política menos preocupada em gerar concorrência
e mais em controlar preços",
afirma Cleveland Prates, economista do Instituto Brasileiro
de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
A partir de 1994, com a lei da
defesa da livre concorrência e
com a atuação mais forte de órgãos do governo para combater
práticas ilícitas de mercado, como o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica),
a SDE (Secretaria de Direito
Econômico) e a Seae (Secretaria de Acompanhamento Econômico), "os empresários estão
muito mais preocupados, não
querem correr riscos", diz.
"É difícil dizer se os cartéis
diminuíram ou não no Brasil. O
que dá para dizer é que, no passado, as decisões de cartéis
chegavam até a ser registradas
em atas. Hoje, isso é muito
mais difícil, pois os empresários estão bem mais preocupados com as punições que possam vir a sofrer e, portanto, tomam muito mais cuidado."
Temor
O temor de que uma prática
ilícita seja identificada levou
empresas a contratarem consultorias para instruírem os
funcionários sobre o que podem ou não falar com os concorrentes. "As empresas precisam prestar atenção porque
não é razoável, por exemplo,
que um gerente da área comercial aceite discutir preços em
reunião com concorrentes, assim como estrutura de preços,
políticas de marketing e de
compras. Ele também não pode
conversar com potencial concorrente e dividir o mercado, os
clientes", afirma Prates.
Segundo Caio Mário Pereira
Netto, advogado especializado
em defesa da concorrência, os
empresários estão prestando
mais atenção nas relações com
os competidores. "Eles estão
mais preocupados em aderir às
regras da livre concorrência,
que são mais conhecidas hoje.
Isso também é reflexo de uma
atuação mais forte dos órgãos
de defesa da concorrência."
Os setores mais propícios à
prática de cartel, segundo avaliam Prates e Pereira Netto, são
os mais concentrados e os que
atuam em linhas de produtos
mais homogêneos. As indústrias de cimento e as siderúrgicas, dizem, têm essas características. "O que não quer dizer
que estejam adotando a prática
de cartel", afirma Prates.
A legislação que permite busca e apreensão de documentos
nas empresas suspeitas de práticas irregulares, na avaliação
de Gesner Oliveira, ex-presidente do Cade, também contribui para conscientizar os empresários de que cartel é crime.
"A partir de 2000, as autoridades têm mais mecanismos
para obter informações das
empresas, pois é possível fazer
busca e apreensões de documentos. Com certeza, os empresários estão mais conscientes de que não devem combinar
preços, dividir mercado."
Para Oliveira, "ainda há muito para fazer para a divulgação
da cultura da concorrência,
mas houve avanços". Nos EUA,
afirma, quase cem empresários
são presos por ano por prática
de cartel. "Como eles vendem
para outros mercados, isso afeta também o Brasil."
(FF)
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