São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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Classe média não amplia as compras

Camada é "excluída" do aumento tímido no consumo de produtos não-duráveis adicionais nos últimos 12 meses, aponta pesquisa

Número de domicílios que passaram a adquirir itens que estavam fora de seu poder de compra chegou a 430 mil, aponta LatinPanel


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 430 mil domicílios passaram a adquirir, nos últimos 12 meses, produtos que estavam fora de seu poder de compra no ano anterior. É um ganho tímido, alerta a LatinPanel, empresa de pesquisa em consumo do grupo Ibope, que, semanalmente, envia técnicos a lares de 6.000 brasileiros para verificar, "in loco", o volume de compras do consumidor.
O certo desânimo é explicado: os 430 mil lares a mais equivalem a um aumento de só um ponto percentual na taxa de penetração de novos produtos nos domicílios, nos 12 meses até 1º de julho. De 2004 a 2005, em análises de períodos móveis, a taxa foi bem maior: variou de cinco a oito pontos percentuais de penetração, o que representou de 2,1 milhões a 3,4 milhões de novos lares adquirindo itens que antes não compravam.
"Podemos entender praticamente como estabilidade esse ganho", diz Fatima Merlin, gerente de atendimento da LatinPanel. É possível comparar a evolução por camadas sociais, e, no caso da classe C, com renda familiar mensal entre quatro e dez salários mínimos (de R$ 1.400 a R$ 3.500), o ganho foi zero. Ou seja, a família de classe média brasileira não somou nenhum novo item à sua cesta de produtos no último ano, revela o levantamento obtido pela Folha.
Metodologias das principais consultorias especializadas em consumo classificam a classe C como a classe média brasileira, que representa cerca de 34% da população, ou seja, mais de 61 milhões de pessoas.
Os cálculos da LatinPanel incluem só produtos não-duráveis (alimentos, bebidas, itens de higiene e beleza), que compõem a rotina de compras de uma família no supermercado.
Os maiores beneficiados por esse ganho estão nos dois extremos da pirâmide social, as classes A e B, com renda superior a dez salários mínimos (acima de R$ 3.500 mensais), e D e E (abaixo de R$ 1.400 mensais). Cada classe teve alta de um ponto percentual na penetração de novos produtos.
As expansões medíocres no consumo têm várias explicações. Especialistas dizem que setores da economia ligados a itens de primeira necessidade registram mesmo variações pequenas em seus desempenhos quando há aumento na renda. Houve leve expansão no rendimento real do brasileiro -subiu de R$ 1.001 para 1.036 nos 12 meses até agosto.
"Quando a economia vai muito bem, eles crescem menos, e, quando todos os setores caem, eles também caem menos", diz Zeina Latif, economista-chefe do ABN Amro.
Além disso, há a questão da "concorrência entre setores", afirma Fabio Silveira, da RC Consultores. Parte da tímida expansão no rendimento dos consumidores em 2005 e 2006 foi dirigida para a compra de bens duráveis, como eletrônicos, sobrando pouco para a aquisição de outros produtos.
"Para gerar nova demanda, com um movimento sólido de consumidores comprando mais, seria preciso expandir a taxa de investimento na economia, para então gerar emprego e, com isso, mais renda", diz.


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