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Classe média não amplia as compras
Camada é "excluída" do aumento tímido no consumo de produtos não-duráveis adicionais nos últimos 12 meses, aponta pesquisa
Número de domicílios que passaram a adquirir itens que estavam fora de seu poder de compra chegou a 430 mil, aponta LatinPanel
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 430 mil domicílios
passaram a adquirir, nos últimos 12 meses, produtos que estavam fora de seu poder de
compra no ano anterior. É um
ganho tímido, alerta a LatinPanel, empresa de pesquisa em
consumo do grupo Ibope, que,
semanalmente, envia técnicos
a lares de 6.000 brasileiros para
verificar, "in loco", o volume de
compras do consumidor.
O certo desânimo é explicado: os 430 mil lares a mais equivalem a um aumento de só um
ponto percentual na taxa de penetração de novos produtos
nos domicílios, nos 12 meses
até 1º de julho. De 2004 a 2005,
em análises de períodos móveis, a taxa foi bem maior: variou de cinco a oito pontos percentuais de penetração, o que
representou de 2,1 milhões a
3,4 milhões de novos lares adquirindo itens que antes não
compravam.
"Podemos entender praticamente como estabilidade esse
ganho", diz Fatima Merlin, gerente de atendimento da LatinPanel. É possível comparar a
evolução por camadas sociais,
e, no caso da classe C, com renda familiar mensal entre quatro e dez salários mínimos (de
R$ 1.400 a R$ 3.500), o ganho
foi zero. Ou seja, a família de
classe média brasileira não somou nenhum novo item à sua
cesta de produtos no último
ano, revela o levantamento obtido pela Folha.
Metodologias das principais
consultorias especializadas em
consumo classificam a classe C
como a classe média brasileira,
que representa cerca de 34% da
população, ou seja, mais de 61
milhões de pessoas.
Os cálculos da LatinPanel incluem só produtos não-duráveis (alimentos, bebidas, itens
de higiene e beleza), que compõem a rotina de compras de
uma família no supermercado.
Os maiores beneficiados por
esse ganho estão nos dois extremos da pirâmide social, as
classes A e B, com renda superior a dez salários mínimos
(acima de R$ 3.500 mensais), e
D e E (abaixo de R$ 1.400 mensais). Cada classe teve alta de
um ponto percentual na penetração de novos produtos.
As expansões medíocres no
consumo têm várias explicações. Especialistas dizem que
setores da economia ligados a
itens de primeira necessidade
registram mesmo variações pequenas em seus desempenhos
quando há aumento na renda.
Houve leve expansão no rendimento real do brasileiro -subiu de R$ 1.001 para 1.036 nos
12 meses até agosto.
"Quando a economia vai
muito bem, eles crescem menos, e, quando todos os setores
caem, eles também caem menos", diz Zeina Latif, economista-chefe do ABN Amro.
Além disso, há a questão da
"concorrência entre setores",
afirma Fabio Silveira, da RC
Consultores. Parte da tímida
expansão no rendimento dos
consumidores em 2005 e 2006
foi dirigida para a compra de
bens duráveis, como eletrônicos, sobrando pouco para a
aquisição de outros produtos.
"Para gerar nova demanda,
com um movimento sólido de
consumidores comprando
mais, seria preciso expandir a
taxa de investimento na economia, para então gerar emprego
e, com isso, mais renda", diz.
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