São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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MERCADO ACIONÁRIO

Compradores externos levaram 51% dos títulos ofertadas neste ano na Bovespa por 5 grandes empresas

Estrangeiro lidera compra de novas ações

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do propalado crescimento do interesse do pequeno investidor no mercado acionário, ainda é o investidor mais qualificado que dá sustentabilidade à Bolsa. A prova disso é o resultado de ofertas públicas realizadas em 2004: quem mais comprou ações foi o investidor estrangeiro.
Um levantamento feito com as emissões primárias e secundárias de ações de cinco empresas (Natura, CCR, Gol, ALL e Braskem) no mercado doméstico neste ano mostra que o investidor estrangeiro ficou com 51,45% do volume total ofertado. Os fundos de investimento levaram outros 23,21%, e o investidor pessoa física, 14,45% do total.
O montante comprado pelos estrangeiros representa R$ 1,12 bilhão. Isso sem levar em consideração a parcela de ações ofertadas no mercado internacional.
Para Ike Rahmani, diretor da Tática Asset Management, "o investidor estrangeiro vê boas oportunidades de ganho" no mercado acionário brasileiro. "Muitas vezes, é mais vantajoso aplicar em uma ação de uma empresa brasileira, que tem perspectiva de alta maior que a de [empresas de] outros países", avalia Rahmani.
A participação do estrangeiro no pregão da Bovespa sempre foi avaliada como fundamental para a sustentação do mercado. Entre 1994 e 2002, o estrangeiro deteve a maior participação nos negócios realizados no pregão. Em 2003, perdeu a liderança para o investidor institucional -como fundos de pensão, previdência privada e fundos de investimento.

Exterior
Além da venda de novas ações por aqui, empresas brasileiras também têm buscado o mercado internacional. Somente Gol, ALL e Braskem ofertaram ações neste ano no exterior no valor de R$ 1,65 bilhão, segundo dados fornecidos pela Bovespa.
A forma mais comum de uma empresa colocar ações no exterior é por meio de ADRs -American Depositary Receipts, certificados emitidos nos EUA que representam a propriedade de ações de empresas de outros países. Para fazer isso, a companhia tem de ter capital aberto e pedir autorização para a SEC (Security Exchange Comission, a comissão de valores mobiliários americana).
"Os preços das ações brasileiras são atrativos, muitas vezes até baixos, para o estrangeiro. Além disso, encontram mais facilidades para ganhar dinheiro com papéis de empresas brasileiras", afirma Charles Phillipp, diretor da SLW Corretora.

Novatas
No início da atual década, analistas temiam que as empresas abandonassem o mercado local para emitir ADRs. Mas esse quadro não se consolidou. Neste ano, a Natura, a empresa aérea Gol, a ALL Logística, a CPFL Energia e a Grendene começaram a negociar suas ações no pregão da Bovespa.
Até o fim do mês, a Porto Seguro e a Diagnósticos da América (dona de laboratórios) farão sua estréia na Bolsa. A exportadora de maçãs Renar também entrou com pedido na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para abrir o capital.
"Acho que o momento de entrada de novas empresas na Bolsa deve continuar. Muitas estão vendo na Bolsa uma oportunidade mais vantajosa de conseguir recursos do que em outras formas de captação, encarecidas pelos juros altos", diz Rahmani.
No balanço dos negócios realizados na Bolsa neste ano (sem levar em conta as novas emissões de ações), o saldo das transações com capital estrangeiro está negativo em R$ 197,7 milhões -compras de R$ 65,608 bilhões e vendas de R$ 65,806 bilhões.
Ricardo Pinto Nogueira, superintendente da Bolsa, diz que o estrangeiro tem vendido ações no pregão para comprar os novos papéis emitidos pelas empresas brasileiras. "Como as novas ofertas não aparecem no balanço do pregão, parece que o estrangeiro está mais vendendo do que comprando ações brasileiras, e isso não é verdade", diz Nogueira.


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