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Petrobras quer aumentar o preço do gás
Estatal vê custo defasado em relação a outros combustíveis, o que elevaria consumo apesar da escassez do produto
Decisão da Justiça do Rio determina retomada de fornecimento do produto horas depois de limitação do abastecimento em SP e RJ
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
CIRILO JÚNIOR
DA FOLHA ONLINE, NO RIO
O preço do gás natural está
defasado e não pode ficar descolado das variações do petróleo e dos demais combustíveis,
sob o risco de estimular o consumo, com ameaça de futuro
desabastecimento, avalia a Petrobras, um dia depois de ter limitado o fornecimento do produto no Rio e em São Paulo.
"O preço do gás vai se ajustar
ao preço das demais alternativas, senão você vai fazer um estímulo ao consumo de combustível que é limitado. É preciso
equilibrar os preços relativos",
disse à Folha o presidente da
empresa, José Sergio Gabrielli,
por telefone, de Londres.
Segundo a diretora da área
de Gás e Energia da Petrobras,
Maria das Graças Foster, o gás
natural passou por um período
de manutenção de preços de
2003 até meados de 2005. Isso
gerou uma vantagem muito
grande para o produto em relação ao óleo combustível.
"O gás não pode ficar descolado das variações do petróleo
e dos outros combustíveis, senão você cria uma artificialidade, e quem acaba pagando a
conta é o consumidor, quando
é desatendido por alguma razão", disse na sede da estatal
ontem à noite. Ela enfatizou
que não há problema de abastecimento ao consumidor.
Segundo Foster, o custo de
produção do petróleo e do gás
tem crescido no mundo inteiro
e precisa ser remunerado para
que haja "racionalidade econômica" no aumento de produção
de gás. Foster afirmou que a
Petrobras tem feito investimentos de grande monta para
aumentar a rede de gasodutos.
A diretora da Petrobras negou que a decisão de interromper o fornecimento acima do
previsto em contrato a distribuidoras do Rio e São Paulo tenha sido uma tentativa de evitar novo apagão do setor elétrico. Segundo ela, o diálogo com
as distribuidoras é freqüente, e
a medida foi tomada com base
no cenário de anteontem.
Foster criticou o preço do
GNV (Gás Natural Veicular)
usado no abastecimento de veículos. Para ela, o valor do GNV
não é "real". "Seu valor intrínseco de gás, de molécula, dificilmente se justifica aos preços
hoje vigentes nas bombas."
O gerente de grandes clientes da CEG (Companhia Estadual de Gás, do Rio), Hugo
Aguiar, disse que os preços da
distribuidora são regulados.
Lembra que a CEG é uma empresa privada, mas de concessão pública. "Temos revisões
tarifárias a cada cinco anos, e
quem aprova os reajustes é o
poder concedente, que é o governo do Estado."
Gabrielli, que seguiu ontem
para Nova York, evitou dizer
claramente se o preço do gás
subirá. "Não posso estimar isso, seria irresponsabilidade."
A Petrobras decidiu restringir a entrega de gás para as distribuidoras depois de ter sido
convocada pelo ONS (Operador Nacional do Sistema) para
a entrega de gás a termelétricas. A estatal é dona de diversas
usinas térmicas e garantiu o
abastecimento. Para cumprir o
compromisso firmado com a
Aneel (Agência Nacional de
Energia Elétrica), ela reduziu o
volume entregue a distribuidoras do Rio e de São Paulo. Mas
decisão da Justiça obrigou a estatal a normalizar o fornecimento no Rio.
Segundo Foster, antes do
corte no gás acima do previsto
em contrato, a Petrobras estava produzindo 450 MW a menos que o previsto no termo de
compromisso fechado com a
Aneel. Com a retomada de volume maior de gás no Rio, a estatal ainda produz 280 MW a
menos que o necessário.
Foster se limitou a afirmar
que a empresa cortou ao máximo o seu consumo próprio,
mas não especificou o quanto e
onde, e disse que irá recorrer
da decisão da Justiça do Rio.
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