São Paulo, quinta-feira, 01 de novembro de 2007

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Petrobras quer aumentar o preço do gás

Estatal vê custo defasado em relação a outros combustíveis, o que elevaria consumo apesar da escassez do produto

Decisão da Justiça do Rio determina retomada de fornecimento do produto horas depois de limitação do abastecimento em SP e RJ

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

CIRILO JÚNIOR
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

O preço do gás natural está defasado e não pode ficar descolado das variações do petróleo e dos demais combustíveis, sob o risco de estimular o consumo, com ameaça de futuro desabastecimento, avalia a Petrobras, um dia depois de ter limitado o fornecimento do produto no Rio e em São Paulo.
"O preço do gás vai se ajustar ao preço das demais alternativas, senão você vai fazer um estímulo ao consumo de combustível que é limitado. É preciso equilibrar os preços relativos", disse à Folha o presidente da empresa, José Sergio Gabrielli, por telefone, de Londres.
Segundo a diretora da área de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster, o gás natural passou por um período de manutenção de preços de 2003 até meados de 2005. Isso gerou uma vantagem muito grande para o produto em relação ao óleo combustível.
"O gás não pode ficar descolado das variações do petróleo e dos outros combustíveis, senão você cria uma artificialidade, e quem acaba pagando a conta é o consumidor, quando é desatendido por alguma razão", disse na sede da estatal ontem à noite. Ela enfatizou que não há problema de abastecimento ao consumidor.
Segundo Foster, o custo de produção do petróleo e do gás tem crescido no mundo inteiro e precisa ser remunerado para que haja "racionalidade econômica" no aumento de produção de gás. Foster afirmou que a Petrobras tem feito investimentos de grande monta para aumentar a rede de gasodutos.
A diretora da Petrobras negou que a decisão de interromper o fornecimento acima do previsto em contrato a distribuidoras do Rio e São Paulo tenha sido uma tentativa de evitar novo apagão do setor elétrico. Segundo ela, o diálogo com as distribuidoras é freqüente, e a medida foi tomada com base no cenário de anteontem.
Foster criticou o preço do GNV (Gás Natural Veicular) usado no abastecimento de veículos. Para ela, o valor do GNV não é "real". "Seu valor intrínseco de gás, de molécula, dificilmente se justifica aos preços hoje vigentes nas bombas."
O gerente de grandes clientes da CEG (Companhia Estadual de Gás, do Rio), Hugo Aguiar, disse que os preços da distribuidora são regulados. Lembra que a CEG é uma empresa privada, mas de concessão pública. "Temos revisões tarifárias a cada cinco anos, e quem aprova os reajustes é o poder concedente, que é o governo do Estado."
Gabrielli, que seguiu ontem para Nova York, evitou dizer claramente se o preço do gás subirá. "Não posso estimar isso, seria irresponsabilidade."
A Petrobras decidiu restringir a entrega de gás para as distribuidoras depois de ter sido convocada pelo ONS (Operador Nacional do Sistema) para a entrega de gás a termelétricas. A estatal é dona de diversas usinas térmicas e garantiu o abastecimento. Para cumprir o compromisso firmado com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), ela reduziu o volume entregue a distribuidoras do Rio e de São Paulo. Mas decisão da Justiça obrigou a estatal a normalizar o fornecimento no Rio.
Segundo Foster, antes do corte no gás acima do previsto em contrato, a Petrobras estava produzindo 450 MW a menos que o previsto no termo de compromisso fechado com a Aneel. Com a retomada de volume maior de gás no Rio, a estatal ainda produz 280 MW a menos que o necessário.
Foster se limitou a afirmar que a empresa cortou ao máximo o seu consumo próprio, mas não especificou o quanto e onde, e disse que irá recorrer da decisão da Justiça do Rio.


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