São Paulo, sábado, 1 de novembro de 1997.




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MERCADO TENSO
Representantes de instituições financeiras americanas elogiam aumento das taxas de juros definido pelo BC
Banqueiros dos EUA esperam freio no ritmo de crescimento brasileiro

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
enviado especial a Nova York

A maioria dos banqueiros, dirigentes de entidades multilaterais, investidores e analistas do mercado financeiro nos EUA reagiram bem à decisão do Banco Central brasileiro de aumentar as taxas de juros como resposta à crise nas bolsas de valores.
Mas todos concordam que ela vai frear um pouco o crescimento econômico do país.
O economista Rudiger Dornbusch, professor de Massachusetts Institute of Technology (MIT), acha que o Brasil vai entrar em processo de recessão econômica durante os próximos nove meses.
"Domesticamente, uma recessão em defesa do Plano Real é aceitável e uma grande desvalorização da moeda é vista como uma idéia muito, muito ruim", disse Dornbusch, para quem uma retomada do crescimento vai ocorrer pouco antes da eleição presidencial.
O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Enrique Iglesias, classificou a decisão de elevar juros como "uma jogada muito inteligente".
Iglesias disse que "era isso que era preciso: uma reação imediata" do governo.
Embora diga que a atividade econômica no Brasil vai diminuir, o presidente do BID afirma não estar preocupado com o futuro.
O vice-presidente do Citicorp, William Rhodes, comentou o aumento dos juros com poucas palavras de aprovação: "É para isso que existem bancos centrais".
Iglesias e Rhodes fizeram suas declarações pouco antes da cerimônia de entrega do prêmio de "personalidade do ano" da Câmara Brasileiro-Americana de Comércio em Nova York, anteontem à noite. Apesar da festa, o clima entre muitos brasileiros presentes à cerimônia era de apreensão.
O ex-governador de São Paulo Paulo Maluf condenou a medida: "ela é artificial e de curto prazo, bate no crescimento econômico e só vai atrair ao Brasil capital de motel, que fica pouco tempo no país". Ele chamou de "uma loucura" o Banco Central "gastar 10% das reservas do país em um dia" para conter a crise nas bolsas.
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, disse que aumentar os juros era "necessário".
Ele ainda afirmou que os problemas desta semana mostram que "o país, tanto o Executivo quanto o Legislativo, precisa votar logo as reformas econômicas".
Crescimento
O ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger acha que "em três meses, esse episódio estará superado e um novo período de crescimento dinâmico" da economia brasileira vai começar.
Ele disse ter "confiança" no governo ("ele fará o que é preciso") e na economia "sólida" do Brasil.
Jaime Sanz, analista da agência DCR, que avalia riscos em investimentos externos, acha que "existe pouco fundamento para a atual convulsão" nos mercados latino-americanos.
"Não podemos realmente falar de uma crise na América Latina atualmente. Toda a região mantém o panorama positivo de dois meses atrás."
Na bolsa de valores de Nova York, as ações da Telebrás subiram ontem, após terem despencado na quinta-feira.
Analistas em Wall Street diziam que o aumento dos juros no Brasil foi suficiente para acalmar os investidores em relação aos títulos brasileiros.
O banco de investimentos Merrill Lynch promoveu o Brasil como seu principal alvo de compras de títulos nos próximos meses em função do aumento dos juros e da confiança na solidez do real.



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