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INFLAÇÃO
Calabi, presidente do banco, defende revisão de contrato de empresas privatizadas; idéia divide o governo
BNDES quer segurar tarifa pública
FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília
O presidente do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), Andrea Calabi, disse ontem que os contratos
de concessão dos serviços públicos privatizados poderão ser revistos pelo governo para impedir
que o reajuste dessas tarifas pressione os índices de inflação.
"Ou o mercado resolve (esse
problema), ou os contratos serão
revistos", disse Calabi, que não
deu detalhes sobre o que poderá
ser modificado.
Segundo a Fundação Getúlio
Vargas, o reajuste das tarifas administradas pelo governo (o que
inclui serviços privatizados e concessões ainda sob controle estatal)
é responsável por metade da inflação de 8,16% medida pelo IPC-M (Índice de Preços ao Consumidor que entra no IGP-M) entre janeiro e novembro deste ano.
O BNDES é o gestor do programa de privatizações federais. Calabi se reuniu ontem com o ministro Pimenta da Veiga (Comunicações), que atua como coordenador político do governo.
Ao deixar o ministério, o presidente do BNDES afirmou que
ainda "não há nada" definido sobre a revisão dos contratos.
Para ele, as principais causas
dos reajustes (desvalorização do
real e aumento da energia elétrica
vendida por Itaipu) estão sendo
absorvidas pelos concessionários.
"O mercado já se acalma, e esse
impacto tende a se reduzir". Mas
Calabi ressaltou que, "paralelamente, podem ser revistas cláusulas nos contratos em curso".
Para Calabi, as agências regulatórias têm a responsabilidade de
"assegurar o suprimento de um
produto e de um serviço a preços
adequados para a população".
Ele disse que o processo de privatização está sendo "continuamente aperfeiçoado", com "desafios enormes" para as agências regulatórias.
"Os desafios das agências se redefinem a cada momento. Hoje,
predomina a questão das tarifas.
Amanhã, poderá ser a questão do
abastecimento de um determinado produto", afirmou.
Outro lado
O presidente da Anatel, Renato
Guerreiro, argumenta que as tarifas de telefonia fixa do país subiram 6,5% em média no último
mês de maio, após ficarem 25 meses sem reajuste. Nesse período, o
IGP-DI ficou em 14%.
Para José Mário Abdo, diretor-geral da Aneel, os reajustes no setor elétrico se justificam, principalmente, pela desvalorização do
real -que encareceu a energia
vendida por Itaipu (cotada em
dólar e responsável por mais de
30% do consumo nacional).
Fernando Xavier Ferreira, presidente da Telefônica, disse que
"temos contratos em vigor e para
serem modificados é preciso que
haja um acordo entre as partes".
O presidente da Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia, Wilson Ferreira, disse que
"mudar as regras no meio do jogo
é a melhor maneira de afastar investidores do país".
"Se querem alterar os contratos,
têm que conversar com quem pagou pelos empreendimentos",
acrescentou, lembrando que ainda há privatizações em curso.
Wilson Ferreira ainda não tem
uma posição das 31 empresas que
formam a Abrade sobre uma
eventual rodada de negociações
com o governo para discutir alterações nos contratos do setor.
Para ele, as tarifas de energia
elétrica não podem ser consideradas as "vilãs" do crescimento inflacionário que vem sendo verificado no país. "Perdemos de longe
para combustíveis, água e pedágios", afirma.
"Um terço da energia comprada
pelas empresas nas regiões Sul,
Sudeste e Centro-Oeste foi reajustada logo após a desvalorização
do real. Mas o setor teve a sensibilidade de postergar o repasse e negociar com Itaipu um acordo que
estabilizou o dólar em R$ 1,65",
afirma.
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