São Paulo, sexta-feira, 01 de dezembro de 2006

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Sem reforma, economia não cresce 5%, diz agência

Standard & Poor's projeta expansão de 3,5% em 2007

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia brasileira crescerá cerca de 3,5% no próximo ano, estima a Standard & Poor's. Mantido o atual desempenho econômico e sem fazer reformas que estimulem o investimento, o país dificilmente conseguirá crescer os 5% esperados pelo governo, diz Lisa Schineller, diretora de ratings soberanos da agência de classificação de risco.
Schineller, que é a analista da S&P responsável pela avaliação da economia brasileira, estava ontem em São Paulo, em seminário, quando soube dos resultados das contas nacionais do terceiro trimestre, que mostraram que o Brasil cresceu apenas 0,5% em relação aos três meses anteriores. Ela diz não ter se surpreendido com o dado. "Depois do resultado do segundo trimestre e de alguns sinais nos primeiros meses do trimestre passado, já passamos a esperar crescimento menor do que o que prevíamos antes", explica Schineller.
A S&P começou o ano projetando crescimento anual de 3,5% a 4% para o Brasil em 2006 e agora espera que a economia cresça 3% ou pouco menos. Na avaliação de Schineller e dos demais analistas da S&P que acompanham a economia brasileira, crescimento maior, próximo aos 5% almejados pelo governo, só seria possível com um conjunto de reformas que estimulasse os investimentos.
Eles lembram dois grandes grupos de reformas -que não são, aliás, diferentes das medidas apregoadas por grande parte dos economistas: a reforma fiscal e a melhora no ambiente de negócios. No lado fiscal, Schineller chama a atenção para a necessidade de equilibrar o orçamento, reduzindo o déficit público e, por conta do ajuste, reduzindo a relação entre dívida pública e o PIB.
Sob o guarda-chuva da melhora no ambiente de negócios estão todas as reformas microeconômicas, como redução de burocracia, melhora do sistema de crédito etc. "A estabilidade macroeconômica cria o pano de fundo para o aumento do investimento, mas é preciso aprofundar os ajustes", diz.
São justamente esses elementos -alta carga de dívida e de juros e baixa taxa de investimentos, por conta do ambiente de negócios- que, na avaliação da agência, ainda impedem melhoras na nota que a agência de classificação de risco atribui aos papéis brasileiros. Comprar um papel do governo brasileiro é um investimento especulativo e, portanto, arriscado, revela a nota BB atribuída aos papéis de dívida externa.

Demora
A S&P anunciou recentemente que colocou a nota do Brasil em perspectiva positiva, ou seja, existe a possibilidade de que ela melhore. Melhora, no entanto, que pode demorar dois anos, ou mesmo não ocorrer. Em média, 40% das notas em perspectiva positiva acabam não sendo alteradas.
A agência não faz previsões sobre mudança de notas, mas o histórico da S&P mostra que, para um país saltar da posição em que o Brasil está agora para uma nota de "grau de investimento", demora entre cinco e seis anos, tempo em que Rússia e México chegaram lá.
O ministro Guido Mantega (Fazenda) costuma afirmar que o Brasil alcançará o "grau de investimento" no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o Brasil, conseguir ser classificado como emissor de papéis que oferece risco moderado ou baixo, e não especulativo, significaria condições melhores de financiamento externo: investidores tenderiam a cobrar taxas de juros menores por enxergarem menos riscos ao investirem nos papéis brasileiros.


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