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Crédito a pobre não é risco, diz Nobel
Muhammad Yunus diz que 64% dos clientes do Grameen Bank saíram da linha da pobreza extrema
Atingidos por ciclone em Bangladesh há 15 dias terão recursos com juros de 8% em vez dos 12% cobrados normalmente pelo banco
EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A FLORIANÓPOLIS
O ciclone Sidr, que atingiu de
forma devastadora Bangladesh
há 15 dias, recebeu tratamento
especial do Grameen Bank, instituição financeira criada pelo
Prêmio Nobel da Paz de 2006,
Muhammad Yunus, 67. O laureado, também conhecido como o "banqueiro dos pobres",
esteve ontem em Florianópolis
em um evento sobre energia.
"Nós demos uma anistia
[temporária] às pessoas que tinham empréstimo com o Grameen Bank", explicou Yunus,
que também reconheceu que o
banco vai perder dinheiro com
isso. A catástrofe natural matou 1.100 pessoas e deixou outras centenas de milhares desabrigadas. "Não sei se as questões das mudanças climáticas
globais têm muito a ver com isso. O fato é que precisamos de
um mundo mais seguro [em todos os sentidos] mesmo."
"Além disso, quem precisar
de recursos para reconstruir
sua casa vai ter uma taxa de 8%
e não de 12% como é praticado
normalmente", explicou o economista, que apreendeu a cuidar dos pobres vendo sua mãe
atendendo quem batia à porta
da casa dele.
Sobre os negócios, Yunus foi
categórico, mais uma vez, em
dizer que emprestar dinheiro
para os pobres não é tão arriscado, por causa da inadimplência, como pode parecer. Ele assegurou que a saúde do banco é
sólida.
"Hoje ajudamos 7,5 milhões
de pessoas, que compraram
ações, quando tomam o empréstimo, a US$ 1,50. O nosso
capital hoje é de aproximadamente US$ 10 milhões", disse o
laureado, que empresta dinheiro a 20% ao ano. "Taxa simples
e não composta. Em Bangladesh não se taxa nada ao mês",
segundo Yunus.
Os custos são altos, segundo
o banqueiro, porque é o banco
que vai até os clientes, todas as
semanas, nas vilas.
No Brasil, por exemplo, a taxa de microcrédito praticada
pelos bancos privados é de 2%
ao mês -o que resulta em
26,8% ao ano. Em Bangladesh,
a taxa bancária normal, segundo o próprio Yunus, costuma de
ser de 15% ao ano.
"Nosso levantamento anual
[o último fechado em 2006]
mostra que conseguimos tirar
64% das pessoas, que tomaram
empréstimos faz cinco anos, da
linha da pobreza extrema",
afirmou. O banco tem até uma
linha de empréstimo para mendigos. "Já ajudamos 100 mil deles até agora e 10 mil deixaram
essa situação."
Dinheiro
O dinheiro usado pelos tomadores de empréstimos, segundo Yunus, vai para os mais
diferentes tipos de atividades.
"As mulheres, por exemplo,
usam para criar galinhas ou para costurar roupas."
Existe também uma linha especial para a energia solar. Em
Bangladesh, quase 70% da população não tem acesso à luz
elétrica.
Sobre o fato de o microcrédito em Bangladesh estar dando
certo, o Nobel foi categórico.
"Ele está longe da política", disse Yunus, afirmando que isso é
praticamente uma receita para
que o projeto possa dar certo
em outros lugares também.
"Em Bangladesh, nós temos os
níveis de corrupção mais caros
do mundo."
O jornalista EDUARDO GERAQUE viajou a convite da Eco Power Conference
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