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Excesso de vagas no setor hoteleiro afasta investidores de SP
Segmento cresceu 148% de 1995 a 2005; agora não há perspectivas para novos empreendimentos em dois anos
Expansão desproporcional causou fechamento de hóteis e queda na taxa de ocupação e nas diárias, afirmam especialistas
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA
JOANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O excesso de vagas na rede
hoteleira paulistana não tem
atraído investidores para novos
projetos no setor. De 1995 a
2005, o mercado hoteleiro de
São Paulo cresceu 148% e agora
está estagnado.
O crescimento desproporcional causou fechamento de
estabelecimentos antigos, redução de salários, queda na taxa média de ocupação de 70%
para 40% e no preço das diárias, segundo pesquisa de mestrado de Ana Paula Spolon na
FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP (Universidade de São Paulo).
"O aumento de empreendimentos hoteleiros gerou empregos, mas os salários diminuíram, a quantidade de horas
trabalhadas aumentou e houve
fechamento de hotéis tradicionais, como o Caesar Park, na
rua Augusta", disse Spolon.
Agora, segundo a ABIH (Associação Brasileira de Indústria Hoteleira), não há nenhum
grande projeto para construção
de hotéis. "Nem dá para ter. O
retorno ainda não está pagando
o investimento. Apesar do crescimento que estamos observando, a oferta ainda é grande",
afirmou Maurício Bernardino,
presidente da ABIH-SP.
Crise
Nos anos 1990, o número de
vagas aumentou muito. Entraram grandes redes, como o
Blue Tree, que está há dez anos
no país, e a Atlantica Hotels,
que iniciou a operação de seu
primeiro hotel em 1998. A espanhola Sol Meliá está no Brasil desde 1992.
Para Spolon, a expansão não
foi orientada pela demanda por
novas unidades hoteleiras, mas
pela necessidade de novos espaços urbanos fora do centro
da cidade. O crescimento exagerado também pode ser explicado pela exploração dos flats
(também contabilizados como
unidades hoteleiras).
"Diferentemente do que
ocorre com os hotéis, os flats
podem ser financiados por pessoas físicas, o que ocorreu em
larga escala. A oferta foi maior
do que a demanda", disse.
Depois, segundo a pesquisadora, muitos investidores perderam dinheiro com a baixa
ocupação nos flats.
De acordo com Abel Aves de
Castro Junior, gerente de novos negócios da rede Accor
-que abrange as bandeiras Sofitel, Novotel, Mercure, Ibis e
Formule 1-, os investidores
optaram por seguir o formato
de flats. "No Brasil não havia linhas de financiamento adequadas, resolveram fazer nessa forma condominial. Ninguém sabia exatamente o tamanho do
mercado. O setor hoteleiro não
trocava informação, era muito
fechado", afirma.
Para André Pousada, diretor
do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), 2002
marcou o auge da crise hoteleira em São Paulo. A expansão
foi, segundo ele, mais oportuna
para a construção civil do que
propriamente para a indústria
hoteleira e turística. "Foi uma
forma de impulsionar a indústria da construção civil", disse.
No entanto, o planejamento
turístico da cidade não acompanhou o crescimento.
"Em 2000, chegou-se a uma
superoferta do parque hoteleiro, mas não havia uma estrutura turística."
Segundo levantamentos do
FOHB, em 2002 a taxa de ocupação dos hotéis na cidade foi
de 44,75%, com uma média de
diárias de R$ 106,10.
Naquele ano, a Revpar (sigla
em inglês equivalente a receita
por apartamento), foi de R$
47,48. A partir de 2002, o mercado reagiu. Em 2006, a taxa de
ocupação foi de 57,94%, a diária
média subiu para R$ 127,26 e a
Revpar, para R$ 73,73.
Para 2007, cálculo preliminar do FOHB mostra uma taxa
de ocupação em 61,42%, a diária média em R$ 142,25 e a Revpar, R$ 87,37, em São Paulo.
De acordo com Spolon, também houve crescimento exagerado, em menor escala, em Curitiba (PR), Belo Horizonte
(MG), Porto Alegre (RS) e São
José do Rio Preto (SP).
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