São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2007

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Excesso de vagas no setor hoteleiro afasta investidores de SP

Segmento cresceu 148% de 1995 a 2005; agora não há perspectivas para novos empreendimentos em dois anos

Expansão desproporcional causou fechamento de hóteis e queda na taxa de ocupação e nas diárias, afirmam especialistas

CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA

JOANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O excesso de vagas na rede hoteleira paulistana não tem atraído investidores para novos projetos no setor. De 1995 a 2005, o mercado hoteleiro de São Paulo cresceu 148% e agora está estagnado.
O crescimento desproporcional causou fechamento de estabelecimentos antigos, redução de salários, queda na taxa média de ocupação de 70% para 40% e no preço das diárias, segundo pesquisa de mestrado de Ana Paula Spolon na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP (Universidade de São Paulo).
"O aumento de empreendimentos hoteleiros gerou empregos, mas os salários diminuíram, a quantidade de horas trabalhadas aumentou e houve fechamento de hotéis tradicionais, como o Caesar Park, na rua Augusta", disse Spolon.
Agora, segundo a ABIH (Associação Brasileira de Indústria Hoteleira), não há nenhum grande projeto para construção de hotéis. "Nem dá para ter. O retorno ainda não está pagando o investimento. Apesar do crescimento que estamos observando, a oferta ainda é grande", afirmou Maurício Bernardino, presidente da ABIH-SP.

Crise
Nos anos 1990, o número de vagas aumentou muito. Entraram grandes redes, como o Blue Tree, que está há dez anos no país, e a Atlantica Hotels, que iniciou a operação de seu primeiro hotel em 1998. A espanhola Sol Meliá está no Brasil desde 1992.
Para Spolon, a expansão não foi orientada pela demanda por novas unidades hoteleiras, mas pela necessidade de novos espaços urbanos fora do centro da cidade. O crescimento exagerado também pode ser explicado pela exploração dos flats (também contabilizados como unidades hoteleiras).
"Diferentemente do que ocorre com os hotéis, os flats podem ser financiados por pessoas físicas, o que ocorreu em larga escala. A oferta foi maior do que a demanda", disse.
Depois, segundo a pesquisadora, muitos investidores perderam dinheiro com a baixa ocupação nos flats.
De acordo com Abel Aves de Castro Junior, gerente de novos negócios da rede Accor -que abrange as bandeiras Sofitel, Novotel, Mercure, Ibis e Formule 1-, os investidores optaram por seguir o formato de flats. "No Brasil não havia linhas de financiamento adequadas, resolveram fazer nessa forma condominial. Ninguém sabia exatamente o tamanho do mercado. O setor hoteleiro não trocava informação, era muito fechado", afirma.
Para André Pousada, diretor do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), 2002 marcou o auge da crise hoteleira em São Paulo. A expansão foi, segundo ele, mais oportuna para a construção civil do que propriamente para a indústria hoteleira e turística. "Foi uma forma de impulsionar a indústria da construção civil", disse.
No entanto, o planejamento turístico da cidade não acompanhou o crescimento.
"Em 2000, chegou-se a uma superoferta do parque hoteleiro, mas não havia uma estrutura turística."
Segundo levantamentos do FOHB, em 2002 a taxa de ocupação dos hotéis na cidade foi de 44,75%, com uma média de diárias de R$ 106,10.
Naquele ano, a Revpar (sigla em inglês equivalente a receita por apartamento), foi de R$ 47,48. A partir de 2002, o mercado reagiu. Em 2006, a taxa de ocupação foi de 57,94%, a diária média subiu para R$ 127,26 e a Revpar, para R$ 73,73.
Para 2007, cálculo preliminar do FOHB mostra uma taxa de ocupação em 61,42%, a diária média em R$ 142,25 e a Revpar, R$ 87,37, em São Paulo.
De acordo com Spolon, também houve crescimento exagerado, em menor escala, em Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS) e São José do Rio Preto (SP).


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