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OPINIÃO ECONÔMICA
Os novos executivos
BENJAMIN STEINBRUCH
Em um ensaio publicado no
primeiro semestre, a revista
"Carta Capital" procurava resposta para uma pergunta: "Aonde vai o capitalismo brasileiro?".
Foram 26 páginas de um jornalismo denso que continua a merecer reflexões. Os depoimentos
então escolhidos enfatizaram as
mudanças velozes por que estão
passando as empresas no país,
nesta hora de transformações ditadas pela globalização, pelas
privatizações e pelos avanços do
capital estrangeiro. O processo se
acentuou neste ano pelo pacote
defensivo a que o país teve que
recorrer e pela persistência de juros estratosféricos que estão debilitando as empresas.
Há alguns sinais de que se procura corrigir os rumos, coibindo
os excessos de abertura ou de
pressa. Também está bem nítido
que a complementação das reformas preconizadas pelo governo desde o início do primeiro
mandato precisa ser acelerado
para que se possa, em definitivo,
estabelecer os lastros da nova
economia brasileira e, principalmente, do papel a ser desempenhado no processo pelo Estado,
pela empresa, pela força de trabalho, pelo capital e pelo mercado. Vamos torcer para que essas
definições venham velozmente,
cercadas de bom senso e realismo
para que se definam os rumos do
novo capitalismo brasileiro que
precisará ser economicamente
eficaz, globalmente moderno e
socialmente justo.
De qualquer forma é dever nosso voltar os olhos para um passado recente se não quisermos persistir nos erros que abalaram
empresas brasileiras de todos os
tamanhos e, inclusive, afastaram
do cenário os nomes de grandes
empresários que tinham sido responsáveis por significativos
avanços tecnológicos de importantes setores de nossa economia.
O novo capitalismo brasileiro
não dependerá apenas do capital. Vai ficando para trás o formato em que a gestão da empresa devia (ou podia) ser baseada
apenas nas determinações de
quem detinha o controle das
ações. A fragmentação das famílias e as mudanças decorrentes
da separação entre detentores de
ações preferenciais e ordinárias
contribuiu para fragilizar as velhas fórmulas.
De outra parte, a necessidade
de incorporar novas tecnologias
ou de buscar no exterior os suportes financeiros necessários à
expansão empresarial acabaram
por possibilitar a entrada de sócios externos até mesmo em fechadíssimas organizações. Essas
chegadas foram cobertas por
"acordos de acionistas" que são a
raiz dos modernos conceitos de
"gestão compartilhada" que, à
maneira do que ocorre lá fora, já
começa a ser marca registrada
do novo capitalismo brasileiro.
Essa gestão compartilhada,
que é uma das maiores razões de
sucesso de antigas estatais hoje
privatizadas, traduz um apoio
total ao princípio de excelência
gerencial que só se sustenta se os
cargos de responsabilidade nas
empresas -em seus vários níveis- forem entregues a profissionais competentes, escolhidos
pela sua capacidade e adequação e não dependentes de raízes
familiares ou de apadrinhamentos de qualquer sorte, sejam eles
políticos ou corporativos.
Essa nova geração de executivos brasileiros é tão importante
para o nosso capitalismo quanto
o próprio capital. No escalão
mais amadurecido, em que prevalecem profissionais de 35 a 55
anos, esses homens e mulheres se
espalham hoje por todo o Brasil,
especialmente em empresas de
médio e grande portes. Eles vêm
de outras empresas ou do serviço
público, mas caminham apoiados em cursos e diplomas de
grandes universidades internacionais e experiência de gestão
em empresas nacionais e multinacionais.
A preocupação com estratégia,
com qualidade, com a contenção
de custos com a pesquisa de mercado e com o estímulo à ação
criativa e inovadora é uma constante desses novos profissionais,
cujo padrão de eficiência os coloca ao nível de executivos que detêm responsabilidades similares
à frente de empresas no exterior,
nos mais sofisticados mercados.
A gestão de qualidade, voltada
para a maior eficiência, é essencial para o regime de competição
doméstica e internacional em
que já estamos inseridos. Tão
importante (ou mais) que a disponibilidade de capital ou a existência de mercado, essa gestão
não se poderia fazer apenas pela
importação de talentos. E, muito
menos, pela prevalência dos velhos gestores, treinados para tocar um capitalismo obsoleto como o que estamos deixando para
trás.
É por isso que esse novo recurso
humano se faz tão valioso para o
Brasil grande que precisamos
construir. É que a juventude sabe
que esse novo país só será construído com a participação dos
novos executivos que estão sendo
formados em escolas como a
FGV, USP, PUCs do Rio e de São
Paulo, Mackenzie (para citar
apenas as mais óbvias), em que
os cursos de economia e de administração estão cada vez mais
exigentes, sob aplausos dos próprios estudantes.
Grande parte desses executivos
tem, como metas, crescer nas empresas e tirar partido de oportunidades que os transformem em
"entrepreneurs", os empreendedores do futuro que, mesmo sem
capital, desenvolvem a capacidade de explorar novas idéias,
aglutinar forças interessadas em
desenvolvê-las e liderar o processo que tem sido a base de criação,
em todo o mundo, de grandes
empresas.
Tomara que esses novos empresários, os jovens, e os mais
maduros, continuem chegando
às nossas empresas com toda a
garra e competência. E que, inclusive, se encantem pelo serviço
público onde a nova mentalidade pode, e muito, produzir transformações altamente positivas.
Benjamin Steinbruch, 45, empresário, graduado em administração de empresas e marketing financeiro pela Fundação Getúlio Vargas (SP), é presidente dos conselhos de administração da Companhia Siderúrgica Nacional,
da Metropolitana e da Vale do Rio Doce.
E-mail: bvictoria@psi.com.br
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