São Paulo, terça, 1 de dezembro de 1998

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OPINIÃO ECONÔMICA

Os novos executivos

BENJAMIN STEINBRUCH

Em um ensaio publicado no primeiro semestre, a revista "Carta Capital" procurava resposta para uma pergunta: "Aonde vai o capitalismo brasileiro?". Foram 26 páginas de um jornalismo denso que continua a merecer reflexões. Os depoimentos então escolhidos enfatizaram as mudanças velozes por que estão passando as empresas no país, nesta hora de transformações ditadas pela globalização, pelas privatizações e pelos avanços do capital estrangeiro. O processo se acentuou neste ano pelo pacote defensivo a que o país teve que recorrer e pela persistência de juros estratosféricos que estão debilitando as empresas.
Há alguns sinais de que se procura corrigir os rumos, coibindo os excessos de abertura ou de pressa. Também está bem nítido que a complementação das reformas preconizadas pelo governo desde o início do primeiro mandato precisa ser acelerado para que se possa, em definitivo, estabelecer os lastros da nova economia brasileira e, principalmente, do papel a ser desempenhado no processo pelo Estado, pela empresa, pela força de trabalho, pelo capital e pelo mercado. Vamos torcer para que essas definições venham velozmente, cercadas de bom senso e realismo para que se definam os rumos do novo capitalismo brasileiro que precisará ser economicamente eficaz, globalmente moderno e socialmente justo.
De qualquer forma é dever nosso voltar os olhos para um passado recente se não quisermos persistir nos erros que abalaram empresas brasileiras de todos os tamanhos e, inclusive, afastaram do cenário os nomes de grandes empresários que tinham sido responsáveis por significativos avanços tecnológicos de importantes setores de nossa economia.
O novo capitalismo brasileiro não dependerá apenas do capital. Vai ficando para trás o formato em que a gestão da empresa devia (ou podia) ser baseada apenas nas determinações de quem detinha o controle das ações. A fragmentação das famílias e as mudanças decorrentes da separação entre detentores de ações preferenciais e ordinárias contribuiu para fragilizar as velhas fórmulas.
De outra parte, a necessidade de incorporar novas tecnologias ou de buscar no exterior os suportes financeiros necessários à expansão empresarial acabaram por possibilitar a entrada de sócios externos até mesmo em fechadíssimas organizações. Essas chegadas foram cobertas por "acordos de acionistas" que são a raiz dos modernos conceitos de "gestão compartilhada" que, à maneira do que ocorre lá fora, já começa a ser marca registrada do novo capitalismo brasileiro.
Essa gestão compartilhada, que é uma das maiores razões de sucesso de antigas estatais hoje privatizadas, traduz um apoio total ao princípio de excelência gerencial que só se sustenta se os cargos de responsabilidade nas empresas -em seus vários níveis- forem entregues a profissionais competentes, escolhidos pela sua capacidade e adequação e não dependentes de raízes familiares ou de apadrinhamentos de qualquer sorte, sejam eles políticos ou corporativos.
Essa nova geração de executivos brasileiros é tão importante para o nosso capitalismo quanto o próprio capital. No escalão mais amadurecido, em que prevalecem profissionais de 35 a 55 anos, esses homens e mulheres se espalham hoje por todo o Brasil, especialmente em empresas de médio e grande portes. Eles vêm de outras empresas ou do serviço público, mas caminham apoiados em cursos e diplomas de grandes universidades internacionais e experiência de gestão em empresas nacionais e multinacionais.
A preocupação com estratégia, com qualidade, com a contenção de custos com a pesquisa de mercado e com o estímulo à ação criativa e inovadora é uma constante desses novos profissionais, cujo padrão de eficiência os coloca ao nível de executivos que detêm responsabilidades similares à frente de empresas no exterior, nos mais sofisticados mercados.
A gestão de qualidade, voltada para a maior eficiência, é essencial para o regime de competição doméstica e internacional em que já estamos inseridos. Tão importante (ou mais) que a disponibilidade de capital ou a existência de mercado, essa gestão não se poderia fazer apenas pela importação de talentos. E, muito menos, pela prevalência dos velhos gestores, treinados para tocar um capitalismo obsoleto como o que estamos deixando para trás.
É por isso que esse novo recurso humano se faz tão valioso para o Brasil grande que precisamos construir. É que a juventude sabe que esse novo país só será construído com a participação dos novos executivos que estão sendo formados em escolas como a FGV, USP, PUCs do Rio e de São Paulo, Mackenzie (para citar apenas as mais óbvias), em que os cursos de economia e de administração estão cada vez mais exigentes, sob aplausos dos próprios estudantes.
Grande parte desses executivos tem, como metas, crescer nas empresas e tirar partido de oportunidades que os transformem em "entrepreneurs", os empreendedores do futuro que, mesmo sem capital, desenvolvem a capacidade de explorar novas idéias, aglutinar forças interessadas em desenvolvê-las e liderar o processo que tem sido a base de criação, em todo o mundo, de grandes empresas.
Tomara que esses novos empresários, os jovens, e os mais maduros, continuem chegando às nossas empresas com toda a garra e competência. E que, inclusive, se encantem pelo serviço público onde a nova mentalidade pode, e muito, produzir transformações altamente positivas.


Benjamin Steinbruch, 45, empresário, graduado em administração de empresas e marketing financeiro pela Fundação Getúlio Vargas (SP), é presidente dos conselhos de administração da Companhia Siderúrgica Nacional, da Metropolitana e da Vale do Rio Doce.
E-mail: bvictoria@psi.com.br




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