São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Índice

MERCADOS FINANCEIROS

"Lua-de-mel" com o governo pode durar semanas; inflação, juros e cenário externo preocupam

Para analistas, 2003 deve começar bem

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Ano novo, novas decisões de investimentos. Para muitos investidores, é hora de tentar traçar perspectivas considerando eventos e tendências com potencial para surpreender o mercado em 2003.
Para a maioria dos analistas, o ano começa bem. Para alguns a bonança dura duas semanas, desde que não surjam frentes frias ou mesmo tempestades do exterior.
"Essa tranquilidade é possível no cenário doméstico se a guerra no Oriente Médio não ocorrer no período e se o governo der sinais de responsabilidade fiscal e manutenção do equilíbrio macroeconômico", diz Marco Sudano, da Unibanco Asset Management.
Para outros, serão apenas alguns bons pregões, graças à euforia em torno do novo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Nos últimos 13 anos, em 92% dos casos em que janeiro foi positivo, a Bolsa terminou o ano no positivo. Mas acho que janeiro fechará negativo, a Bolsa já subiu muito", diz Luiz Antonio Vaz das Neves, da Planner. Para analistas, o investidor deve ficar atento a:

Política
O bom relacionamento do governo com os mercados pode acabar se o presidente Lula não agir rápido- para alguns analistas o prazo é de no máximo 180 dias- e tentar aprovar, por exemplo, a reforma da Previdência.
A obtenção de maioria parlamentar para aprovação de reformas, além de respeito à restrição do orçamento e combate à inflação, com regime de metas, são considerados essenciais para que o namoro se reafirme.

Juros e inflação
Uma parcela do mercado espera alta da taxa de juros de 1 a 4 pontos percentuais em até três meses.
"Se o cenário externo melhorar e o governo aprovar a reforma da Previdência, o risco Brasil pode cair e, no segundo semestre, poderemos ter queda nos juros mais significativas", diz Júlio Ziegelmann, do BankBoston.
Apesar da redução da alta, a inflação ainda preocupa. Em razão disso, uma parcela de gestores recomenda fugir de papéis de empresas com preços controlados pelo governo, que tendem a ter maior dificuldade de repassar preços para o consumidor.

Exterior
Ameaça de guerra no Oriente Médio, crises na Venezuela e na Coréia do Norte, economia americana com fracos sinais de recuperação, além da aversão ao risco, fomentam incertezas. Se economia americana não começar a dar sinais fortes, pode haver deflação.
Para alguns analistas, no caso de a guerra, contrariando expectativas, não se revelar rápida, consumidores e empresas cortariam gastos, o que derrubaria os lucros e as Bolsas. "A guerra tende a não derrubar as ações, como ocorreu em outros ataques dos EUA à região", discorda Vaz das Neves.
Para muitos, porém, os preços das commodities poderiam cair rapidamente com o fim dos conflitos e beneficiara a economia e o mercado acionário americanos.

Setores em 2003
Para analistas, o desempenho dos setores depende de como ficará o câmbio. "Se o cenário for de apreciação do real, se o novo governo conseguir manter a credibilidade, a tendência é de que o setor de telefonia, principalmente fixa, se destaque", diz Sudano.
Caso as expectativas do mercado sejam frustradas, o investidor deve ficar mais conservador. "Para as exportadoras continuarem a subir, porém, o câmbio teria que subir para R$ 4, o que não é esperado", afirma Ziegelmann.


Texto Anterior: Moeda forte não afasta risco de recessão na UE
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.