São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2008

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Superávit de janeiro é o pior da era Lula

Com aumento das importações, saldo comercial cai 62,5%, para US$ 944 milhões, resultado mais baixo desde junho de 2002

Compras externas crescem 45,6%, e exportações, 20,9%; expectativa é que superávit do ano caia em relação aos US$ 40 bi de 2007

LUCIANA OTONI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ao assumir o cargo prometeu ser um "mascate" para vender os produtos brasileiros no exterior, teve em janeiro o pior superávit comercial de toda a sua gestão. O superávit da balança foi de US$ 944 milhões, resultado mais baixo desde junho de 2002, quando ficou em US$ 685 milhões, e 62,5% menor que os US$ 2,5 bilhões de janeiro de 2007.
O desempenho, fortemente influenciado pelo aumento de 45,6% das importações, indica que está em curso uma mudança estrutural no comércio exterior brasileiro com o fim do período de saldos elevados e o início de um ciclo de resultados modestos com reflexos nas contas do país.
Em janeiro, o Brasil exportou US$ 13,28 bilhões e importou US$ 12,33 bilhões. As vendas do país cresceram 20,9%, e as compras, 45,6%, em relação a janeiro do ano passado.
A tendência, conforme avaliação do Ministério do Desenvolvimento, é a redução do saldo comercial em razão da expectativa de maior crescimento das importações que das exportações. A despeito disso, nas próximas semanas o ministério deve apresentar uma nova projeção para as exportações e rever para cima a estimativa inicial de US$ 178 bilhões.
Em 2008 especificamente, câmbio valorizado, menor crescimento mundial, risco de desvalorização dos preços das commodities e menor crescimento mundial agem simultaneamente para ameaçar o desempenho das exportações.

Demanda interna
Por outro lado, a demanda interna aquecida, maior necessidade de investimento das empresas e dólar fraco deverão manter as importações em alta.
O resultado, conforme avaliação de exportadores e analistas, é o encolhimento do superávit, que deve fechar 2008 menor que os US$ 40 bilhões registrados no ano passado.
O presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), Marcus Vinicius Pratini de Morais, avalia que, como a economia brasileira apresenta melhores condições de expansão, é normal importações superarem exportações.
"A preocupação é quanto ao déficit esperado para a conta transações correntes", afirma Pratini de Morais. A conta, que inclui todas as negociações de bens e serviços com outros países, é um dos indicadores de sustentabilidade externa.

Menor competitividade
Na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), as avaliações não são favoráveis e relacionam a perda de fôlego das exportações à menor competitividade dos produtos brasileiros nos mercados internacionais devido ao enfraquecimento do dólar.
O diretor de Comércio Exterior e Relações Internacionais da entidade, Roberto Giannetti, afirma que em 2006 e 2007 a âncora das vendas brasileiras no exterior foi mais o valor dos embarques, principalmente commodities, do que os volumes negociados, um fator que poderá não se repetir neste ano.
"A situação de crise nos Estados Unidos, e o efeito disso no mundo, pode levar à estagnação dos preços. Nada indica que as cotações irão se manter no nível atual", afirma.
As commodities minerais e agrícolas respondem por 65% das exportações, que nos 12 meses encerrados em janeiro ficaram em US$ 162,9 bilhões.
Os dados de janeiro também mostram que os efeitos da instabilidade internacional começaram a chegar no Brasil.
As exportações de US$ 13,2 bilhões evidenciam que as empresas brasileiras começaram a se movimentar para antecipar vendas e embarques. Os sinais da antecipação de contratos de venda como forma de aproveitar os atuais preços das commodities começam a chegar ao governo, conforme indicou o secretário-substituto de Comércio Exterior, Fábio Faria.
Um exemplo da antecipação pode ser detectado nas exportações de alguns produtos agrícolas. No mês passado, os embarques da soja em grão aumentaram 82% em comparação a janeiro do ano passado e atingiram US$ 251 milhões. As vendas de carne bovina avançaram 40% e somaram US$ 365 milhões.


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