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Lula ataca UE por embargo contra carne
"Eles têm vaca louca e ficam dando palpite", diz presidente a políticos
Pecuaristas reconhecem, porém, que rastreabilidade
enfrenta dificuldades no país; para Sociedade Rural,
existe "má condução"
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO
Em reunião com o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
criticou ontem o veto da União
Européia à importação da carne brasileira. A Suíça também
aderiu ao embargo.
Lula disse que "eles têm vaca
louca e ficam dando palpite",
numa referência aos casos da
doença na Inglaterra e na Irlanda. O comentário foi ouvido por
fotógrafos que tiveram acesso
ao início da reunião.
Lula comparou o embargo ao
futebol. Disse que a situação do
Brasil no mercado da carne é
como um time que vai para um
campeonato com um bom jogador. Por isso, é muito marcado.
No encontro, o governador e
deputados da bancada ruralista
reclamaram que o embargo não
ocorreu devido à questão sanitária, mas sim a interesses econômico-financeiros. Segundo
os presentes, Lula concordou.
"Eles [os europeus] não têm
competitividade com a gente
nem no preço nem na sanidade.
Que moral têm de vir nos sancionar?", disse Puccinelli.
No encontro de ontem, Lula
disse que falará com o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para formar
uma comissão de deputados e
ir à Europa discutir a questão.
O presidente sugeriu, segundo relatos de presentes, que o
veto europeu pode ter sido causado por desinformação. Ele
disse que, em 2004, quando da
visita do presidente russo, Vladimir Putin, ao Brasil, ele teve
de mostrar no mapa que há
uma distância grande entre
Mato Grosso do Sul e o Pará,
onde na época havia aftosa.
Sistema
Apesar das críticas de Lula à
UE, representantes dos pecuaristas dizem que o Sisbov (Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e
Bubalinos), motivo técnico do
embargo, sempre teve problemas. Falhas nos controles não
evitaram fraudes, o que provocou queixas dos europeus.
Para Cesário Ramalho, presidente da SRB (Sociedade Rural
Brasileira), desde o início, no
começo da década, o Sisbov foi
"totalmente mal conduzido".
Nas constantes reformulações
coordenadas pela área técnica
do Ministério da Agricultura,
muitas decisões foram tomadas sem consulta ao setor, diz
Antenor Nogueira, presidente
do Fórum da Pecuária de Corte
da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
"Entre a concepção do governo federal e a fiscalização de secretarias estaduais, faltou unificar posições", afirma Sebastião Guedes, presidente do
CNPC (Conselho Nacional de
Pecuária de Corte).
Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (Associação
Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne
Suína), diz que, durante muito
tempo, "frigoríficos e pecuaristas não o levaram a sério".
Segundo Camargo Neto, é
possível entender as razões das
autoridades sanitárias da UE.
Do Brasil "faltou gestão", diz.
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