São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2008

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Lula ataca UE por embargo contra carne

"Eles têm vaca louca e ficam dando palpite", diz presidente a políticos

Pecuaristas reconhecem, porém, que rastreabilidade enfrenta dificuldades no país; para Sociedade Rural, existe "má condução"

LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO

Em reunião com o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem o veto da União Européia à importação da carne brasileira. A Suíça também aderiu ao embargo.
Lula disse que "eles têm vaca louca e ficam dando palpite", numa referência aos casos da doença na Inglaterra e na Irlanda. O comentário foi ouvido por fotógrafos que tiveram acesso ao início da reunião.
Lula comparou o embargo ao futebol. Disse que a situação do Brasil no mercado da carne é como um time que vai para um campeonato com um bom jogador. Por isso, é muito marcado.
No encontro, o governador e deputados da bancada ruralista reclamaram que o embargo não ocorreu devido à questão sanitária, mas sim a interesses econômico-financeiros. Segundo os presentes, Lula concordou.
"Eles [os europeus] não têm competitividade com a gente nem no preço nem na sanidade. Que moral têm de vir nos sancionar?", disse Puccinelli.
No encontro de ontem, Lula disse que falará com o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para formar uma comissão de deputados e ir à Europa discutir a questão.
O presidente sugeriu, segundo relatos de presentes, que o veto europeu pode ter sido causado por desinformação. Ele disse que, em 2004, quando da visita do presidente russo, Vladimir Putin, ao Brasil, ele teve de mostrar no mapa que há uma distância grande entre Mato Grosso do Sul e o Pará, onde na época havia aftosa.

Sistema
Apesar das críticas de Lula à UE, representantes dos pecuaristas dizem que o Sisbov (Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos), motivo técnico do embargo, sempre teve problemas. Falhas nos controles não evitaram fraudes, o que provocou queixas dos europeus.
Para Cesário Ramalho, presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira), desde o início, no começo da década, o Sisbov foi "totalmente mal conduzido". Nas constantes reformulações coordenadas pela área técnica do Ministério da Agricultura, muitas decisões foram tomadas sem consulta ao setor, diz Antenor Nogueira, presidente do Fórum da Pecuária de Corte da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
"Entre a concepção do governo federal e a fiscalização de secretarias estaduais, faltou unificar posições", afirma Sebastião Guedes, presidente do CNPC (Conselho Nacional de Pecuária de Corte).
Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína), diz que, durante muito tempo, "frigoríficos e pecuaristas não o levaram a sério".
Segundo Camargo Neto, é possível entender as razões das autoridades sanitárias da UE. Do Brasil "faltou gestão", diz.


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