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Proposta de Orçamento de Obama prevê deficit recorde
Governo deve gastar US$ 1,6 tri mais que arrecada, ou o equivalente a 10,6% do PIB
Casa Branca estima corte de US$ 1,2 trilhão no deficit ao longo de dez anos, com plano de contenção de uma série de despesas federais
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
A Casa Branca divulgou ontem a proposta de Orçamento
para o ano fiscal de 2011 no valor de US$ 3,8 trilhões. O documento procura combinar a necessidade de estimular a economia e gerar novos postos de trabalho com a pressão para reduzir o deficit americano.
No curto prazo, no entanto, o
próprio governo prevê um deficit recorde de US$ 1,56 trilhão
para o ano fiscal que termina
em setembro, o que significa
uma proporção de 10,6% do
PIB. Uma relação mais favorável entre esses indicadores seria da ordem de 3%, de acordo
com economistas.
Na prática, a fórmula do governo para reduzir o deficit no
longo prazo inclui fim de benefícios fiscais para ricos, congelamento parcial de gastos do
governo e mais recursos para
defesa. "Não podemos continuar gastando como se o deficit
não tivesse consequências, como se o desperdício não importasse", disse o presidente.
A proposta, que seguirá para
o Congresso, inclui medidas estimadas em US$ 100 bilhões
para criar empregos, entre elas
benefícios fiscais para pequenos empresários que efetuarem contratações, investimentos em infraestrutura e incentivos para a energia limpa.
O plano do presidente prevê
uma redução gradual do deficit
nos próximos anos, mas admite
que no final da década ele voltará a crescer impulsionado por
gastos com saúde e aposentadoria. Nesse cenário, o deficit
não fica abaixo de US$ 700 bilhões e depois volta ao patamar
de US$ 1 trilhão em 2020.
Os gastos com seguridade social saltam de US$ 703 bilhões
neste ano para US$ 1,204 trilhão em 2020.
A proposta deve intensificar
as acusações entre republicanos e democratas no Congresso
em ano de eleições legislativas.
O debate sobre como estimular
empregos e evitar que o país
aprofunde o deficit deve polarizar as discussões. Em discurso,
Obama ressaltou que ao assumir o cargo o deficit estava na
faixa de US$ 1,3 trilhão e que foi
obrigado a gastar mais para evitar o agravamento da crise.
O sucesso da proposta depende também do crescimento
da economia. No Orçamento, o
governo prevê expansão de
2,7% em 2010, de 3,8% em 2011
e de 4% nos três anos seguintes,
um ritmo forte para uma economia que voltou a crescer no
terceiro trimestre. O Orçamento prevê que o desemprego permaneça alto, em 8,2% em 2012.
Obama propôs a criação de
uma comissão bipartidária que
estudaria propostas de redução
do deficit. A ideia já havia sido
rejeitada no Senado.
O governo estima um corte
de US$ 1,2 trilhão no deficit em
dez anos. Para chegar a esse
montante, conta com o fim de
benefícios fiscais concedidos
no governo Bush para famílias
com renda superior a US$ 250
mil/ano. Isso geraria economia
de US$ 678 bilhões. Além disso,
prevê congelamento de gastos
de 120 programas do governo, o
equivalente a US$ 250 bilhões.
Já os gastos com segurança
batem recorde e chegam a US$
708 bilhões em 2011.
A proposta inclui ainda um
corte de US$ 40 bilhões em incentivos para o setor de combustíveis fósseis, incluindo petróleo e carvão. Uma nova taxa
para grandes bancos para recuperar perdas das operações de
socorro deve gerar cerca de
US$ 90 bilhões na década.
Mesmo se tudo seguir conforme o plano, a dívida pública
do país alcançará um patamar
de 71% do PIB até 2012 e quase
80% até 2020, o que gera preocupação. Hoje ela está em 53%.
O representante (deputado)
republicano Paul Ryan, do Wisconsin, classificou a proposta
de mais do mesmo. "É uma
agenda agressiva de mais gastos do governo, com algumas
manobras cosméticas para dar
a ilusão de contenção."
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