São Paulo, terça-feira, 02 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Proposta de Orçamento de Obama prevê deficit recorde

Governo deve gastar US$ 1,6 tri mais que arrecada, ou o equivalente a 10,6% do PIB

Casa Branca estima corte de US$ 1,2 trilhão no deficit ao longo de dez anos, com plano de contenção de uma série de despesas federais

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

A Casa Branca divulgou ontem a proposta de Orçamento para o ano fiscal de 2011 no valor de US$ 3,8 trilhões. O documento procura combinar a necessidade de estimular a economia e gerar novos postos de trabalho com a pressão para reduzir o deficit americano.
No curto prazo, no entanto, o próprio governo prevê um deficit recorde de US$ 1,56 trilhão para o ano fiscal que termina em setembro, o que significa uma proporção de 10,6% do PIB. Uma relação mais favorável entre esses indicadores seria da ordem de 3%, de acordo com economistas.
Na prática, a fórmula do governo para reduzir o deficit no longo prazo inclui fim de benefícios fiscais para ricos, congelamento parcial de gastos do governo e mais recursos para defesa. "Não podemos continuar gastando como se o deficit não tivesse consequências, como se o desperdício não importasse", disse o presidente.
A proposta, que seguirá para o Congresso, inclui medidas estimadas em US$ 100 bilhões para criar empregos, entre elas benefícios fiscais para pequenos empresários que efetuarem contratações, investimentos em infraestrutura e incentivos para a energia limpa.
O plano do presidente prevê uma redução gradual do deficit nos próximos anos, mas admite que no final da década ele voltará a crescer impulsionado por gastos com saúde e aposentadoria. Nesse cenário, o deficit não fica abaixo de US$ 700 bilhões e depois volta ao patamar de US$ 1 trilhão em 2020.
Os gastos com seguridade social saltam de US$ 703 bilhões neste ano para US$ 1,204 trilhão em 2020.
A proposta deve intensificar as acusações entre republicanos e democratas no Congresso em ano de eleições legislativas. O debate sobre como estimular empregos e evitar que o país aprofunde o deficit deve polarizar as discussões. Em discurso, Obama ressaltou que ao assumir o cargo o deficit estava na faixa de US$ 1,3 trilhão e que foi obrigado a gastar mais para evitar o agravamento da crise.
O sucesso da proposta depende também do crescimento da economia. No Orçamento, o governo prevê expansão de 2,7% em 2010, de 3,8% em 2011 e de 4% nos três anos seguintes, um ritmo forte para uma economia que voltou a crescer no terceiro trimestre. O Orçamento prevê que o desemprego permaneça alto, em 8,2% em 2012.
Obama propôs a criação de uma comissão bipartidária que estudaria propostas de redução do deficit. A ideia já havia sido rejeitada no Senado.
O governo estima um corte de US$ 1,2 trilhão no deficit em dez anos. Para chegar a esse montante, conta com o fim de benefícios fiscais concedidos no governo Bush para famílias com renda superior a US$ 250 mil/ano. Isso geraria economia de US$ 678 bilhões. Além disso, prevê congelamento de gastos de 120 programas do governo, o equivalente a US$ 250 bilhões.
Já os gastos com segurança batem recorde e chegam a US$ 708 bilhões em 2011.
A proposta inclui ainda um corte de US$ 40 bilhões em incentivos para o setor de combustíveis fósseis, incluindo petróleo e carvão. Uma nova taxa para grandes bancos para recuperar perdas das operações de socorro deve gerar cerca de US$ 90 bilhões na década.
Mesmo se tudo seguir conforme o plano, a dívida pública do país alcançará um patamar de 71% do PIB até 2012 e quase 80% até 2020, o que gera preocupação. Hoje ela está em 53%.
O representante (deputado) republicano Paul Ryan, do Wisconsin, classificou a proposta de mais do mesmo. "É uma agenda agressiva de mais gastos do governo, com algumas manobras cosméticas para dar a ilusão de contenção."


Texto Anterior: Importação de carros pesa, e balança tem deficit de US$ 166 mi
Próximo Texto: Cortes: EUA cancelam programa da Nasa de retorno à Lua
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.