São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2005

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HSBC teme que outros países em desenvolvimento sigam o exemplo

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

No exato dia em que a Argentina anunciou o fim da sua moratória -mais de três anos depois da crise que levou o país a decretar o calote-, um dos principais banqueiros do mundo disse ainda temer um risco de contágio.
Sir John Bond, presidente do HSBC, afirmou ontem que é possível que outros governos de nações em desenvolvimento se endividem acima de sua capacidade e resolvam seguir o exemplo do "default" da dívida argentina que acaba de ser renegociada.
"Temos argumentado com o FMI [Fundo Monetário Internacional] e com as autoridades que deve haver um risco de [...] que outros países -caso eles tomem mais empréstimos do que sejam capazes de honrar- usem o exemplo da Argentina como possível solução", disse Bond em entrevista a um grupo de jornalistas brasileiros na sede do banco, em Londres, ontem.
Segundo Bond, a lição que a crise argentina deixou para o HSBC -segunda maior instituição financeira do mundo- é que o banco não deve investir o dinheiro de seus acionistas em um país no qual seus próprios cidadãos prefiram aplicar o grosso de sua poupança no exterior. Ele diz que, "segundo ouviu", é isso o que faziam os argentinos.

Aquisições
Sobre o Brasil, o tom do discurso é o oposto. O país está na lista -ao lado de México, Índia e China- das nações nas quais o HSBC pretende apostar suas fichas. Segundo ele, o principal objetivo do banco no Brasil é crescer de forma orgânica. Mas novas aquisições não estão descartadas.
"Nossa estratégia número um é crescer o negócio que temos de forma orgânica. Se surgir a oportunidade certa para acelerar o desenvolvimento do nosso negócio no Brasil e for aceitável para as autoridades brasileiras, estaremos preparados para investir mais no país", afirmou Bond, que visitará o Brasil em setembro deste ano.
Michael Geoghegan, ex-presidente da instituição no Brasil e, hoje, principal executivo do HSBC Bank no Reino Unido, afirmou que seriam bem-vindas medidas que permitissem o maior desenvolvimento do mercado de capitais doméstico brasileiro, citando a necessidade de maior liberdade para o fluxo de recursos.
Outra área na qual Geoghegan afirma que o país pode avançar é na criação de mecanismos que facilitem o fluxo de informações no mercado de crédito. Ele defendeu a criação de um cadastro positivo de informações que pudesse ser compartilhado entre as instituições financeiras.
Segundo Geoghegan e Bond, a grande dificuldade na recuperação de dívidas não-pagas no Brasil é um fator que diminui a margem de lucro dos bancos no país que, de acordo com eles, não é tão alta como as pessoas acreditam.
"Não há evidência de que temos mais retorno sobre o capital no Brasil do que em outros países", afirmou Bond, que, ao longo da entrevista, definiu-se três vezes como um "simples banqueiro".
Bond diz que o retorno sobre o capital no Brasil -próximo a 19,5% no caso do HSBC- é baixo se descontado o risco dos empréstimos no país.


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