|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
HSBC teme que outros países em
desenvolvimento sigam o exemplo
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
No exato dia em que a Argentina anunciou o fim da sua moratória -mais de três anos depois da
crise que levou o país a decretar o
calote-, um dos principais banqueiros do mundo disse ainda temer um risco de contágio.
Sir John Bond, presidente do
HSBC, afirmou ontem que é possível que outros governos de nações em desenvolvimento se endividem acima de sua capacidade
e resolvam seguir o exemplo do
"default" da dívida argentina que
acaba de ser renegociada.
"Temos argumentado com o
FMI [Fundo Monetário Internacional] e com as autoridades que
deve haver um risco de [...] que
outros países -caso eles tomem
mais empréstimos do que sejam
capazes de honrar- usem o
exemplo da Argentina como possível solução", disse Bond em entrevista a um grupo de jornalistas
brasileiros na sede do banco, em
Londres, ontem.
Segundo Bond, a lição que a crise argentina deixou para o HSBC
-segunda maior instituição financeira do mundo- é que o
banco não deve investir o dinheiro de seus acionistas em um país
no qual seus próprios cidadãos
prefiram aplicar o grosso de sua
poupança no exterior. Ele diz que,
"segundo ouviu", é isso o que faziam os argentinos.
Aquisições
Sobre o Brasil, o tom do discurso é o oposto. O país está na lista
-ao lado de México, Índia e China- das nações nas quais o
HSBC pretende apostar suas fichas. Segundo ele, o principal objetivo do banco no Brasil é crescer
de forma orgânica. Mas novas
aquisições não estão descartadas.
"Nossa estratégia número um é
crescer o negócio que temos de
forma orgânica. Se surgir a oportunidade certa para acelerar o desenvolvimento do nosso negócio
no Brasil e for aceitável para as autoridades brasileiras, estaremos
preparados para investir mais no
país", afirmou Bond, que visitará
o Brasil em setembro deste ano.
Michael Geoghegan, ex-presidente da instituição no Brasil e,
hoje, principal executivo do
HSBC Bank no Reino Unido, afirmou que seriam bem-vindas medidas que permitissem o maior
desenvolvimento do mercado de
capitais doméstico brasileiro, citando a necessidade de maior liberdade para o fluxo de recursos.
Outra área na qual Geoghegan
afirma que o país pode avançar é
na criação de mecanismos que facilitem o fluxo de informações no
mercado de crédito. Ele defendeu
a criação de um cadastro positivo
de informações que pudesse ser
compartilhado entre as instituições financeiras.
Segundo Geoghegan e Bond, a
grande dificuldade na recuperação de dívidas não-pagas no Brasil é um fator que diminui a margem de lucro dos bancos no país
que, de acordo com eles, não é tão
alta como as pessoas acreditam.
"Não há evidência de que temos
mais retorno sobre o capital no
Brasil do que em outros países",
afirmou Bond, que, ao longo da
entrevista, definiu-se três vezes
como um "simples banqueiro".
Bond diz que o retorno sobre o
capital no Brasil -próximo a
19,5% no caso do HSBC- é baixo
se descontado o risco dos empréstimos no país.
Texto Anterior: Presidente ameaça empresa que não investir Próximo Texto: Toyota investe US$ 200 mi em fábrica argentina Índice
|