|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Real forte obriga empresa a se adaptar
Para sobreviver com câmbio desfavorável, exportador busca mercados não explorados e importa insumos e máquinas
Especialistas divergem sobre como conter a trajetória de alta do real sem mudar as regras do jogo e causar estragos à economia
DA REPORTAGEM LOCAL
Se o país não quebra com a
moeda em seu maior valor real
desde 1980 e os economistas
não sabem como impedir a trajetória de apreciação do real
sem mudar as regras do jogo,
alguns exportadores deixaram
de fazer coro pedindo uma desvalorização e aprenderam a fazer negócios mesmo com uma
taxa de câmbio desfavorável.
Para o consultor Emilio Garofalo, ex-diretor do BC, a
maioria dos exportadores se
adaptou ao cenário de moeda
forte, problema crônico dos
principais países emergentes
concorrentes, com exceção da
China, que tem câmbio fixo.
"Em vez de ficar reclamando
do câmbio, o exportador pensou: "Como uso essa taxa a meu
favor?" Viu que pode pegar um
financiamento mais barato [no
exterior] e importar insumos e
máquinas. Os calçadistas importam até o revestimento interno do sapato", disse.
O presidente da Abracomex
(Associação Brasileira de Comércio Exterior), Primo Roberto Segatto, concorda e cita o
exemplo dos calçadistas brasileiros que encontraram um nicho para exportar sapatos com
qualidade superior aos produtos chineses, mas inferior aos
italianos. "A indústria de calçados tentava competir com a
China, mas não conseguia.
Também não tinha a qualidade
da Itália. Estamos no meio: pegamos uma classe média que
demanda produtos mais sofisticados, mas não quer o preço
da Itália. O caminho é procurar
se diferenciar e agregar algo de
que o mercado precisa. Aí está o
crescimento das exportações,
que permite sobreviver com
um câmbio desses", disse.
Para Octávio de Barros, diretor de pesquisa do Bradesco, a
competitividade tem de ser
buscada "fora dos portões das
fábricas". "A busca está nas reformas que reduzem os custos
de transação que infernizam a
vida das empresas."
O ex-ministro Luiz Carlos
Bresser Pereira, que pilotou
uma desvalorização em 1987,
defende a tese de que a valorização do real decorre da combinação da entrada, "a rodo", de
capital com o que chama de
"doença holandesa" -derivada
da exportação de um recurso
natural ou humano com preços
mais baixos do que no restante
do mundo e que inibe o desenvolvimento de outros setores
no país. Cita como exemplos os
exportadores de petróleo.
"Para neutralizar, coloca-se
um imposto sobre a exportação, de modo que a produção
deixa de ser rentável a uma taxa
de câmbio alta. O câmbio se deprecia e permite a competitividade dos demais setores. Para
diminuir a entrada a rodo de
capitais, tem de comprar reservas -como o governo está fazendo. Quando não basta, controla a entrada de capital."
O ex-ministro Mailson da
Nóbrega vê medidas como controle de capitais ou tributação
de exportação como um "retrocesso injustificável". "Tenderiam a depreciar a moeda, menos pelos seus efeitos nos fluxos e mais pelo que gerariam de
perda de confiança no país. O
dano para a economia e a sociedade seria enorme", disse.
Para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, a discussão da sobrevalorização do
real não pode ser feita sem considerar o funcionamento da
economia. Ele afirma que a sobrevalorização seria percebida
por duas distorções: um desequilíbrio nas contas externas
ou uma contração na demanda.
"Não é o caso. O déficit [externo] é pequeno e a demanda está
aquecida. Em 1999, havia déficit e demanda retraída."
Fernando Cardim, da UFRJ,
defende a redução dos juros como medida para conter a escalada do real. "A regulação da
conta de capitais, a redução dos
juros e a intervenção no câmbio
permitiriam a sustentabilidade
das contas externas."
(TS)
Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Quem procura acha a oferta Próximo Texto: Procura por pacotes para o exterior cresce 20% Índice
|