São Paulo, segunda-feira, 02 de março de 2009

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UE nega plano para países do leste e rechaça protecionismo

Para Alemanha, nações devem ter ajuda separadamente

DE GENEBRA

Reunidos em caráter de emergência em Bruxelas, os líderes da União Europeia rejeitaram ontem os apelos da Hungria para a criação de um plano de resgate para as economias do leste e fizeram um tímido apelo contra uma outra rachadura na coesão do bloco: o nacionalismo protecionista.
Com os países da antiga Cortina de Ferro em sérios apuros econômicos e ameaçando arrastar com eles algumas economias do Ocidente, a UE tentou passar uma mensagem de confiança no mercado comum, mas não conseguiu ocultar a falta de liderança para dar uma resposta coordenada à crise.
A reunião de emergência foi convocada pelo premiê tcheco, Mirek Topolanek, atual presidente da UE, alarmado tanto com a situação em sua região, onde as turbulências econômicas se transformaram na pior crise política desde o fim do comunismo, como com os ventos protecionistas da França.
O governo da Hungria tratou de passar o chapéu, fazendo circular proposta que incluía ajuda de 180 bilhões (R$ 539 bilhões) ao Leste Europeu. O texto terminava de forma ameaçadora. "O fracasso em agir poderá causar uma segunda rodada de derretimentos sistêmicos que atingirá principalmente as economias do euro."
Mas a iniciativa foi rejeitada de saída pela Alemanha, a maior economia do bloco. Para a chanceler (premiê) Angela Merkel, um pacote não é solução, pois cada país tem sua particularidade. "Não podemos comparar Eslováquia e Eslovênia com a Hungria", disse Merkel, ressaltando que os países da região podem receber apoio, mas separadamente.
O problema é que a ajuda da UE não tem sido suficiente para frear o derretimento das economias do leste, empurradas para a beira do abismo pela fuga dos investimentos estrangeiros. Mesmo depois de receber créditos de US$ 9,7 bilhões (R$ 22,9 bilhões) do FMI e da UE, a Letônia mergulhou numa crise que derrubou o premiê, Ivars Godmaris.
Na semana passada, mais um esforço conjunto. O Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento, o Banco Europeu de Investimentos e o Banco Mundial anunciaram uma injeção de US$ 31 bilhões (R$ 73 bilhões) no sistema financeiro do Leste Europeu.
O premiê húngaro, Ferenc Gyurcsany, alertou de que a crise pode provocar novas divisões na Europa, 20 anos depois da queda do Muro de Berlim. Não devemos permitir uma nova cortina de ferro para dividir a Europa em duas partes", disse. Sua proposta de afrouxar as regras para adesão à moeda comum também foi rejeitada.
Após a reunião em Bruxelas, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, procurou tranquilizar os que temem divisões. "A União Europeia não é duas uniões nem três, mas apenas uma", disse o português.

Bancos
O interesse pela saúde da UE passa pela ideologia, mas é principalmente econômico. Bancos de países como Áustria, Itália e Suécia investiram pesadamente no Leste Europeu e sofrerão grandes perdas se os países da região derem o calote.
Outra preocupação que ronda a UE e o mundo teve pouco destaque. No comunicado oficial, a palavra protecionismo só aparece uma vez, quase no fim, e mesmo assim em um parágrafo reiterando que o mercado comum é "o motor da recuperação". Sem citar nenhum caso ou providência concreta, o comunicado diz que "o protecionismo não é a resposta".
O alarme contra o protecionismo foi soado quando o presidente francês, dias antes de anunciar um pacote bilionário para as duas principais montadoras do país, disse que a ajuda deveria manter empregos na França, não num país do leste, como a República Tcheca. Vários países, entre eles o Brasil, já afirmaram que a luta contra o protecionismo deve estar entre as prioridades na reunião do G20 no próximo mês.
(MARCELO NINIO)


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