|
Texto Anterior | Índice
CERVEJAS
Empresa rola R$ 190 milhões de R$ 300 mi
Antarctica "força"
rolagem de dívida
LEONARDO SOUZA
da Reportagem Local
A Antarctica pressionou investidores para que renovassem parte de um empréstimo contraído
no ano passado, no valor de R$
300 milhões, devido à sua fragilidade financeira.
Em setembro de 99 a cervejaria
emitiu notas promissórias nesse
valor e rolou R$ 190 milhões que
venceram na semana passada.
Alegou dificuldade para desembolsar os recursos, mas disse que
aumentaria a remuneração para
quem ficasse com os papéis por
mais 180 dias.
Essa versão foi confirmada por
três profissionais do mercado financeiro, que adquiriram os títulos para fundos de investimentos
das instituições em que trabalham. Um deles disse que a rolagem foi "meio que compulsória".
Sem pressão
A assessoria da empresa admitiu que a cervejaria requisitou a
rolagem dos títulos, devido à demora da aprovação da AmBev,
fusão entre a Antarctica e a Brahma. Mas negou quaisquer pressões ilícitas.
Acrescentou também que cerca
de R$ 100 milhões dos R$ 110 milhões que faltam para completar a
emissão de R$ 300 milhões ainda
não venceram, mas que também
deverão ser rolados.
As notas promissórias são títulos que representam dívida e pagam juros pelo dinheiro emprestado. Pela taxa básica da economia (Selic) de hoje, que está em
18,5%, os papéis da emissão original pagariam ao investidor
19,10% ao ano. Quando foram renovados, o prêmio aumentou para 20,53% ao ano.
Segundo informações do mercado financeiro, empresas de boa
saúde financeira têm conseguido
emitir títulos no mercado interno
a prêmios entre 19,10% e 19,20%.
Empresas em situação complicada pagam juros maiores, por volta
de 20,50% ao ano.
O estado financeiro da Antarctica se complicou bastante no ano
passado. De acordo com dados da
consultoria Austin Asis, as dívidas de curto prazo (que precisam
ser pagas em menos de um ano)
aumentaram em setembro de 99,
em relação ao mesmo mês de 98,
236%. Enquanto o endividamento de longo prazo caiu 92,30%, no
mesmo período.
Significa dizer que a cervejaria
trocou uma dívida mais fácil de
administrar (a de longo prazo)
por outra que piora sua situação
(a de curto prazo).
Recompra
Na rolagem das notas promissórias a Antarctica estabeleceu
cláusula que lhe reserva o direito
de recomprar os papéis dentro de
60 dias. Ou seja, o tempo necessário para a aprovação da AmBev. A
empresa, então, poderia reaver os
títulos e deixar de pagar os juros
altos.
Segundo a assessoria da empresa, cerca de 12 investidores institucionais, entre bancos e fundos
de pensão, compraram os papéis
na emissão inicial.
Diante da dificuldade financeira
da companhia, a explicação mais
provável para o interesse dos investidores é uma só: a certeza da
aprovação da AmBev pelo Cade
(Conselho Administrativo de Defesa Econômica), mesmo acreditando que seriam impostas restrições ao negócio.
Para um dos investidores, a lógica era simples: uma vez realizada a união entre as cervejarias os
papéis não seriam mais Antarctica, e sim Brahma.
Para o diretor da área de renda
variável de uma empresa de administração de recursos de terceiro, muitos dos detentores dos papéis fariam a rolagem dos títulos
naturalmente, por acreditar que
iriam se valorizar com a criação
da AmBev.
Temores
Contou, no entanto, que uma
parcela daqueles que compraram
os papéis preferia não ficar com
os títulos. A razão foi o temor de
que, pela demora da decisão do
Cade, a fusão não fosse aprovada
pelo órgão.
O diretor da administradora de
recursos afirmou que o tratamento dado pela empresa aos que não
não queriam continuar com os
papéis não foi correto.
Disse que os executivos que estão à frente da AmBev, o que inclui funcionários da Brahma, os
pressionaram para manter o investimento porque a situação da
Antarctica não era boa e que melhor seria esperarem pela fusão.
Ao contrário da Antarctica, a
Brahma está em ótima situação financeira e com bastante dinheiro
em caixa.
Em 1998, o lucro líquido da
Brahma foi mais de cinco vezes
superior ao registrado pela Antarctica.
Prejuízo
Em setembro do ano passado a
Antarctica registrou prejuízo líquido de R$ 226,814 milhões em
relação ao mesmo mês de 98. Suas
dívidas totais no período aumentaram 83,36%.
Texto Anterior: CERVEJAS: Decisão do Cade abre país para múltis Índice
|