São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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ATLAS DA EXUBERÂNCIA

Proporção de famílias ricas subiu de 1,8% para 2,4% em 20 anos; fatia delas na renda cresceu 65%

Ricos crescem e concentram mais renda

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Baixo crescimento e turbulência financeira caracterizaram a economia brasileira nos anos 80 e 90.
Nesse mesmo período, a proporção de famílias consideradas ricas aumentou de 1,8% para 2,4% do total no país.
Os dados constam do "Atlas da Exclusão Social - Os Ricos no Brasil", lançado ontem pela Cortez Editora, feito com base em informações dos Censos de 1980 e 2000 e da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio).
Em 2000, existiam 1.162.164 famílias com renda mensal superior a R$ 10.982 -critério "de riqueza" definido pelos realizadores da pesquisa. Em 1980, somavam 507.600 as famílias ricas -1,8% do total.
A participação dessas famílias na renda nacional subiu de 20% para 33% no período de 20 anos.
Os ricos vivem principalmente em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília e em Belo Horizonte -juntas, essas quatro cidades concentram 50% das famílias ricas brasileiras.
"Esses dados nos mostram que há uma polarização da sociedade", afirmou Marcio Pochmann, secretário do Trabalho da Prefeitura de São Paulo e coordenador do trabalho. "Há um esvaziamento da classe média, com aumento do número de ricos, no topo da pirâmide, e de um número maior de pobres, o que amplia a base dessa pirâmide."
A renda da classe média, segundo outro estudo da sua secretaria, caiu 17% entre 1992 e 2001. Nesse mesmo período, o número de pessoas que vivem em famílias pobres cresceu 18%.
O livro mostra onde estão localizadas as "ilhas" de riqueza do país -por região, por Estado e por município. São Paulo lidera a lista dos Estados que mais abrigam os ricos, com 674.455 famílias, ou 58% das existentes no país. Em segundo lugar está o Rio de Janeiro (101.513 famílias). Em seguida, aparecem Minas Gerais (67.069) e o Rio Grande do Sul (49.284). Houve aumento em todos os Estados.
De cada dez famílias ricas, sete residem na região Sudeste. Há 20 anos, eram seis. No Sul, a participação das famílias ricas sobre o total caiu de 13,7% para 10% entre 1980 e 2000. No Nordeste, também houve queda -de 9,4% para 7,2%. Nas demais regiões, não houve mudanças.
O "Atlas", elaborado por uma equipe de economistas e pesquisadores de quatro universidades (USP, Unicamp, PUC-SP e Unip), revela que, nesses 20 anos, São Paulo e Rio de Janeiro, duas das principais capitais brasileiras, caminharam para lados opostos.
Em São Paulo, a participação das famílias ricas no total de famílias subiu de 37,8% para 58%; no Rio, caiu de 19,3% para 8,7%.
Recife e Salvador também perderam posição no ranking dos ricos. Passaram, respectivamente, da sexta e da oitava para a décima e para a décima quarta posição.
Vizinhos de São Paulo, os municípios de Santo André e de São Bernardo do Campo concentram mais famílias ricas do que há 20 anos. Da 15ª e da 16ª posição, respectivamente, em 1980, essas duas cidades subiram, em 2000, para o quinto e para o oitavo lugares.
No ranking das cem cidades com maior número de ricos, o Estado de São Paulo aparece com 47 cidades. O Rio Grande do Sul, com sete. Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, com seis cada um. Seguem: Santa Catarina (4), Pernambuco (3), Bahia (2), Espírito Santo (2) e Goiás (2).
O Estado de São Paulo e o Distrito Federal são as únicas regiões do país que possuem índice de riqueza (participação do Estado no total de famílias ricas sobre a população total) acima de 2.
A renda mensal média familiar dos ricos era de R$ 22.487 em 2000, em valores de setembro de 2003, segundo informa o "Atlas". Essa renda era 14 vezes maior do que a renda média do país e cerca de 80 vezes superior à considerada abaixo da linha de pobreza.
O livro mostra que 5.000 famílias "muito ricas" -ou 0,01% do total de famílias no país- reúnem um patrimônio que representa 46% do PIB (Produto Interno Bruto). Elas acumulam R$ 691 bilhões, de acordo com valores de setembro de 2003.


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