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Para coordenador de pesquisa, não foram realizadas reformas para mudar concentração de renda
País não distribui riqueza, afirma analista
DA REPORTAGEM LOCAL
O aumento do número de famílias ricas no país, que dobrou de
1980 a 2000, reflete a incapacidade
do país de realizar reformas que
permitam a mudança no padrão
de distribuição de riquezas. Essa é
a análise de especialistas consultados pela Folha.
"Não fizemos as reformas necessárias, como outros países.
Apesar dos cinco séculos de existência, não temos nem 50 anos de
democracia consolidada. As instituições que representam os interesses das diversas camadas da
sociedade são frágeis", diz Marcio
Pochmann, secretário do Trabalho da Prefeitura de São Paulo.
Em países como França e EUA,
as diferenças entre ricos e pobres
não são tão acentuadas porque
eles fizeram reformas na sua estrutura tributária -isto é, os ricos
pagam mais impostos do que os
pobres, afirma.
A concentração da riqueza no
Brasil é histórica. Dados do Censo
de 1872 mostram que havia 23,4
mil famílias ricas no país naquele
ano -ou 1,8% do total de famílias-, que respondiam por dois
terços do estoque de riqueza e de
renda do país. Em 1920, o percentual era 1,3%. No início do século
21, de 2,4%.
"Isso mostra que houve estabilidade no padrão de distribuição de
riqueza do país. A diferença é que
o país passou do padrão de riqueza fundiária do século 18 para a riqueza da indústria e, mais recentemente, para a financeira."
Na sua análise, o percentual de
ricos sobre o total de famílias existentes no país subiu em 20 anos
porque houve uma valorização da
riqueza financeira.
Mulher
Claudio Dedecca, professor do
Instituto de Economia da Unicamp, diz que, como o rendimento médio dos 5% mais ricos caiu
14% de 90 para 2000 (e o dos 25%
mais pobres caiu 17%), o que explica o aumento no número de famílias mais ricas é a entrada da
mulher no mercado de trabalho.
"O aumento da proporção de
famílias ricas ganhando mais de
R$ 10.982,00, entre 1980 e 2000,
somente pode ser explicado pelo
maior número de membros ativos por família. Esse movimento
ocorreu porque a mulher no mercado de trabalho pesa mais nas famílias de maior renda", afirma.
O aumento da concentração da
riqueza em São Paulo é uma evidência da perda de dinamismo do
país, diz. "A reprodução dos mais
ricos se faz em um contexto de
não-crescimento da riqueza. É
um processo antropofágico, no
qual a preservação dos mais ricos
deve-se a uma menor perda, e não
devido a um maior ganho."
Para Maria Cristina Cacciamali,
professora de economia popular
do trabalho da USP, o atlas mostra que o Brasil "é muito pobre e
muito desigual. Isso tem conseqüências sobre o espaço urbano, a
infra-estrutura e os serviços básicos do país", afirma.
Na sua análise, o aumento no
número de famílias ricas é explicado pela cultura das aplicações
no mercado financeiro e pelo aparecimento de profissionais liberais em atividades mais sofisticadas, como advogados e consultores voltados para o mercado internacional.
Dari Krein, pesquisador do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e
de Economia do Trabalho), da
Unicamp, diz que o atlas "revela
claramente a estrutura pouco democrática da renda. Algumas
pessoas subiram para um patamar de renda mais alto num contexto em que o crescimento do
PIB (Produto Interno Bruto) foi
pequeno. Como a renda da sociedade se manteve praticamente estável, a diferença entre ricos e pobres se acentuou."
(FF e CR)
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