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LUÍS NASSIF
As locomotivas sociais
Os anos 60 provavelmente
foram o último lampejo do
capitalismo familiar, das grandes corporações ainda dominadas por famílias. Embora na
Europa persistam grupos com
controle familiar, gradativamente o modelo norte-americano das grandes sociedades anônimas passou a dominar o cenário mundial.
Antes da mudança, prosperou
o chamado "high society" internacional. Em geral, é tema mais
abordado pelas revistas de moda, ou pelos especialistas em sociologia da moda, do que pela
economia. Mas os grandes negócios internacionais eram fechados nesse ambiente, no qual
as recepções sociais eram o centro de gravidade da movimentação de negócios e de atividade
política.
A partir da segunda metade
dos anos 50 até o início dos anos
70, não houve "locomotiva"
-termo utilizado para designar as agitadoras sociais da
época- como Elisinha Moreira
Salles, "née" Gonçalves (outro
maneirismo dos cronistas sociais da época).
Quando Walther Moreira Salles tornou-se embaixador pela
segunda vez em Washington, no
governo JK, graças à embaixatriz Elisinha, a embaixada tornou-se centro de encontro da jovem intelectualidade americana que emergia, a ponto de rivalizar com o casal Kennedy. Provavelmente apenas na gestão
Paulo de Tarso Flecha de Lima,
com a embaixatriz Lúcia, a embaixada voltou a recuperar parte do prestígio anterior.
Nos anos 60, Elisinha entraria
para o "hall of fame" da moda,
tornar-se-ia uma das anfitriãs
mais importantes do planeta.
Mas, a exemplo das estratégias
diplomáticas, os banquetes e as
recepções eram uma extensão
da diplomacia -quando no
papel de embaixatriz- ou dos
negócios -quando no papel de
mulher de banqueiro. Não se
tratava de futilidades.
Ninguém foi mais marcante
na definição desse estilo de vida
do que Diana Vreeland, a editora de "Vogue" e "Harper's Bazaar", que inauguraria um estilo de colunismo social inédito
nos grandes centros. Era uma
mulher feia, mas de personalidade, e vidrada na cor vermelha
que, em vez de enaltecer starlets
ou dondocas, passou a identificar mulheres de personalidade
marcante, atrizes, empresárias
ou esposas, a quem premiava
em suas listas disputadíssimas.
Diana nasceu em 29 de julho
de 1906, em Paris, filha de um
pai inglês, Frederick Young Dalziel, e da americana Emily Key
Hoffman, descendente de um irmão de George Washington.
Era prima de Pauline de Rothschild, um dos ícones da moda
dos anos 60.
Em 1924 ela se casou com o
banqueiro Thomas Reed Vreeland, mais tarde amigo de Walther Moreira Salles e homem
que o apresentou ao fechadíssimo clube Racket and Tennis, de
Nova York.
Depois de retornar a Londres,
o círculo de amigos de Diana
ampliou-se para Gertrude Lawrence, Coco Chanel, o rei
George 5º. E também o compositor Cole Porter, o artista Christian Berard e o escritor Evelyn
Waugh.
Em 1937, os Vreeland voltaram definitivamente para Nova
York. Diana tornou-se colunista
do "Harper's Bazaar", de onde
saiu em 1962 para virar editora-chefe da "Vogue" até 1971. Depois que saiu da "Vogue" tornou-se consultora do Costume
Institute of the in New York.
Consolidou-se, nesse período,
o circuito Elizabeth Arden
(Londres-Paris-Nova York), o
mais disputado pelos diplomatas de todo o mundo. É nesse
mundo que o Rio de Janeiro
acaba assumindo um lugar de
destaque desde fins da Segunda
Guerra, mantendo a linha de
frente nos anos 60, graças a Elisinha e a outras "locomotivas"
-como Perla Lucena, outra das
mulheres antológicas da elegância brasileira. Perla foi casada
com Graham Mattison, financista que acabou envolvido em
escândalos, acusado de ter enrolado a milionária Barbara Hutton, que foi casada com Cary
Grant. O fato gerou uma série
de TV "Poor Little Rich Girl:
The Barbara Hutton Story", em
que o papel de Barbara foi protagonizado por Farrah Fawcett
e o de Mattison por David Ackroyd.
Diana morreu em 22 de agosto de 1989, quando o mundo das
grandes corporações já havia se
imposto definitivamente sobre
os grandes grupos familiares.
E-mail-
Luisnassif@uol.com.br
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