São Paulo, quinta-feira, 02 de abril de 2009

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CÚPULA GLOBAL

Brasil diz que G20 dará US$ 1 tri contra crise

Ministros afirmam que dinheiro será canalizado para órgãos multinacionais como FMI e Banco Mundial a fim de estimular economias

Lula diz que país pode elevar suas contribuições ao Fundo mesmo antes de obter mais poder no órgão e se medida não reduzir reservas


Kirsty Wigglesworth/France Presse
Lula à frente de Obama e ao lado de Elizabeth 2ª, à esq., Brown

PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A PARIS E A LONDRES

O encontro dos países do Grupo dos 20 deve fechar um acordo para injetar US$ 1 trilhão em instituições multilaterais como o FMI e o Banco Mundial a fim de combater os efeitos da crise global, disseram ontem os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Esse valor, não confirmado por outras fontes, equivale a dois terços de tudo o que a economia brasileira produziu em 2008 (PIB de cerca de US$ 1,5 trilhão) e é quatro vezes o que o FMI tem disponível atualmente para ajudar economias em problemas (US$ 250 bilhões). O valor é muito maior do que o que vinha sendo discutido -na versão do documento final que vazou no início da semana, os valores estavam com um x.
Os ministros faziam parte da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que almoçou em Paris com o colega francês, Nicolas Sarkozy, antes de pegar um trem de alta velocidade para Londres, uma viagem de duas horas e 20 minutos.
Lula amenizou sua posição em relação à reforma do FMI e admitiu pela primeira vez que o país pode injetar dinheiro no Fundo agora, para discutir mudanças que lhe garantam mais poder só depois.
"A reforma do FMI é uma coisa. Precisamos separar as coisas. Uma coisa é a discussão emergencial para retomar a atividade econômica e normalizar o mundo. Outra coisa é que você tem mais tempo, que é mudar as regras de funcionamento das instituições multilaterais. Isso não precisa ser amanhã. Pode ser daqui a um, dois, quatro meses", disse o presidente.
Tanto Lula quanto Mantega não disseram de quanto pode ser a contribuição do Brasil.
Lula deve usar a possível injeção de dinheiro para tentar aumentar a projeção do país no cenário internacional e "falar de igual para igual" com os países mais poderosos. "Se for necessário colocar dinheiro como empréstimo, desde que não diminua nossas reservas, não tem problema", disse. Hoje, o país tem cerca de US$ 200 bilhões em reservas internacionais.
"O Brasil não vai agir como se fosse um paisinho pequeno sem importância. Se o Brasil quiser ser grande, o Brasil tem cacife para colocar dinheiro emprestado para ajudar países pobres", completou.

Emergentes
Sentado de frente para Lula no trem, Mantega defendeu que o dinheiro injetado no FMI para ajudar economias em dificuldade seja direcionado para os países emergentes, porque "não dá para disseminar dinheiro".
O ministro da Fazenda defendeu que parte da injeção, por meio de um mecanismo chamado Direitos Especiais de Saque (SDR) e que estaria à disposição de todos os países que integram o Fundo, seja exclusivamente para os emergentes.
Apesar de Lula ter deixado claro que a prioridade agora é deixar o Fundo mais poderoso, para depois discutir a reforma, o ministro voltou a defender que "não podemos trabalhar com as velhas regras do jogo" e que são necessárias "novas regras para que o Brasil também seja protagonista".
Hoje, os países desenvolvidos têm muito mais poder de voto que emergentes, numa distorção em relação ao tamanho de algumas economias. Um dos exemplos mais citados é o da China, terceira maior economia do mundo, que tem menos poder no órgão do que a pequenina Bélgica.


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