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CÚPULA GLOBAL
Ação ajudará a evitar crises no futuro
Em relação à turbulência atual, debate e ação de governantes chegam com atraso
EUA chegam ao encontro como o país com mais planos de estímulo e com proposta de regulação que enterra divergências com a Europa
DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
A cúpula do G20 de hoje chega tarde ao encontro com a crise do presente, mas fornecerá
roteiro razoável para evitar ou
minimizar crises do futuro.
Chega tarde por um motivo
simples: entre a cúpula anterior, em novembro, e a de hoje,
a crise ganhou uma velocidade
e uma profundidade aterradoras. Os governos não podiam,
portanto, esperar o encontro
de Londres para atuar.
Sempre é fácil culpar qualquer governo por uma crise,
mas, neste caso, seria incorreto
esquecer que os problemas
nasceram e cresceram no setor
privado, que só fez solicitar ajuda aos governos, que a concederam em montantes impensáveis até há pouco, como lembrou ontem o presidente dos
EUA, Barack Obama.
Se há uma culpa dos governos, é pela demora em entender a sequência exata de ações
que deveriam adotar. Primeiro,
evitaram a quebra em cadeia de
bancos, que seria mais desastrosa. Depois, emitiram pacotes de estímulo à economia. Só
agora perceberam que, antes de
tudo, era preciso eliminar os
ativos tóxicos que bloquearam
o funcionamento do sistema.
Os EUA chegam a Londres
com essa lição feita. Foram os
únicos, até agora, a preparar
um plano de limpeza dos ativos
tóxicos. Ou, como prefere Obama, apresentaram mais do que
qualquer outro país do G20
nesse capítulo -preâmbulo da
história de saída da crise.
O projeto de regulação/supervisão do governo dos EUA é
também o último prego no caixão da lenda de que o mercado
é capaz de se autorregular. Cobre todos os aspectos do jogo
bancário, e o documento do
G20 segue idêntica trilha.
Se um e outro vão ou não funcionar, só o tempo dirá.
A ação norte-americana torna ocioso o Fla-Flu entre Europa e Estados Unidos em que insistiu parte da mídia até a inauguração da cúpula. Não se trata
de mais pacotes de estímulo,
suposta insistência norte-americana, versus mais regulação,
real pretensão europeia. Trata-se de ambos. Ponto.
Pode haver nuances, mas, no
cerne da questão, tudo estava
acertado desde pelo menos o
documento em que os ministros da Fazenda e presidentes
de bancos centrais, no dia 14,
avisaram que fariam "tudo" o
que fosse necessário para ressuscitar a economia e listaram
os setores que ficarão sujeitos a
uma regulação mais rígida.
De quebra, o G20 ainda mudou a governança global: sai o
G8, entra o G20. O FMI e o
Banco Mundial deixarão, mais
adiante, de serem instrumentos dos países ricos. É o reconhecimento do óbvio: não dá
mais para discutir a economia
global sem os emergentes.
O problema todo é que, para
chegar a esse futuro mais civilizado e mais lógico, é preciso superar a densa bruma do presente, sobre o qual nada pode fazer
agora o G20.
(CLÓVIS ROSSI)
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