São Paulo, quinta-feira, 02 de abril de 2009

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CÚPULA GLOBAL

Ação ajudará a evitar crises no futuro

Em relação à turbulência atual, debate e ação de governantes chegam com atraso

EUA chegam ao encontro como o país com mais planos de estímulo e com proposta de regulação que enterra divergências com a Europa


DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

A cúpula do G20 de hoje chega tarde ao encontro com a crise do presente, mas fornecerá roteiro razoável para evitar ou minimizar crises do futuro.
Chega tarde por um motivo simples: entre a cúpula anterior, em novembro, e a de hoje, a crise ganhou uma velocidade e uma profundidade aterradoras. Os governos não podiam, portanto, esperar o encontro de Londres para atuar.
Sempre é fácil culpar qualquer governo por uma crise, mas, neste caso, seria incorreto esquecer que os problemas nasceram e cresceram no setor privado, que só fez solicitar ajuda aos governos, que a concederam em montantes impensáveis até há pouco, como lembrou ontem o presidente dos EUA, Barack Obama.
Se há uma culpa dos governos, é pela demora em entender a sequência exata de ações que deveriam adotar. Primeiro, evitaram a quebra em cadeia de bancos, que seria mais desastrosa. Depois, emitiram pacotes de estímulo à economia. Só agora perceberam que, antes de tudo, era preciso eliminar os ativos tóxicos que bloquearam o funcionamento do sistema.
Os EUA chegam a Londres com essa lição feita. Foram os únicos, até agora, a preparar um plano de limpeza dos ativos tóxicos. Ou, como prefere Obama, apresentaram mais do que qualquer outro país do G20 nesse capítulo -preâmbulo da história de saída da crise.
O projeto de regulação/supervisão do governo dos EUA é também o último prego no caixão da lenda de que o mercado é capaz de se autorregular. Cobre todos os aspectos do jogo bancário, e o documento do G20 segue idêntica trilha.
Se um e outro vão ou não funcionar, só o tempo dirá.
A ação norte-americana torna ocioso o Fla-Flu entre Europa e Estados Unidos em que insistiu parte da mídia até a inauguração da cúpula. Não se trata de mais pacotes de estímulo, suposta insistência norte-americana, versus mais regulação, real pretensão europeia. Trata-se de ambos. Ponto.
Pode haver nuances, mas, no cerne da questão, tudo estava acertado desde pelo menos o documento em que os ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais, no dia 14, avisaram que fariam "tudo" o que fosse necessário para ressuscitar a economia e listaram os setores que ficarão sujeitos a uma regulação mais rígida.
De quebra, o G20 ainda mudou a governança global: sai o G8, entra o G20. O FMI e o Banco Mundial deixarão, mais adiante, de serem instrumentos dos países ricos. É o reconhecimento do óbvio: não dá mais para discutir a economia global sem os emergentes.
O problema todo é que, para chegar a esse futuro mais civilizado e mais lógico, é preciso superar a densa bruma do presente, sobre o qual nada pode fazer agora o G20. (CLÓVIS ROSSI)


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