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ARTIGO
Expectativas exageradas
RUBENS RICUPERO
COLUNISTA DA FOLHA
"NÃO TÃO bom
quanto o mundo
precisava nem tão
ruim quanto poderia ter sido."
Antes de começar a reunião do
G20, arrisco prever esse resumo dos comentários sobre o resultado. A razão é simples: toda
reunião que desperta expectativas exageradas devido à manipulação dos políticos (leia-se
Gordon Brown, Obama, Sarkozy, Lula etc.) acaba sempre
por criar a sensação de que o
copo está meio cheio (ou meio
vazio, conforme se prefira).
Ao menos se deixou de falar
de um "novo Bretton Woods", a
não ser que seja na base da frase
de Marx de que a história,
quando se repete, em geral o faz
como farsa. De fato, a histórica
conferência de 1944 recriou a
ordem monetária e financeira
destruída pela Segunda Guerra,
estabeleceu o Fundo Monetário Internacional e o Banco
Mundial, com a participação
das 44 nações aliadas, perto do
total dos países soberanos da
época, praticamente encerradas em regime de internato durante quase um mês.
A comparação com a reunião
de amanhã é até covardia, não
apenas na agenda, muito mais
modesta agora, na duração de
apenas algumas horas, como na
composição. O G20 pode reunir 85% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial, mas, em
termos da legitimidade que só
pode nascer da representação
democrática, está longe de poder falar em nome dos 192 países da ONU. Exclui, por exemplo, a totalidade dos mais pobres e vulneráveis.
No outro extremo, é pouco
provável que ela reencene o
fiasco rotundo de outra reunião
de Londres, a de 1933, com 66
países, convocada para combater a Grande Depressão e o protecionismo. O recém-empossado presidente Franklin Roosevelt, do iate no qual passava as
férias, fulminou a conferência
com um telegrama no qual repudiava o acordo para estabilizar as moedas.
Ontem como hoje, os principais governos não estão de
acordo nem sobre as causas
nem sobre os remédios da crise.
Diante da incerteza, sugiro três
parâmetros para medir o grau
de real sucesso da reunião.
O primeiro tem a ver com o
mais imediato, as medidas para
reativar a economia global e superar a recessão. Se houver
anúncios de pacotes de estímulo com gastos adicionais e significativos, por países individuais
ou em coordenação, terá havido avanço. Do contrário, continuarão as divisões entre os governos deficitários favoráveis a
maiores estímulos (Estados
Unidos, Reino Unido, Japão) e
os superavitários relutantes em
aumentar a dívida (Alemanha,
China).
O segundo critério é o da regulação financeira. Haverá ou
não decisão de regular em caráter internacional os fundos de
hedge, as entidades e os instrumentos financeiros transnacionais como os derivativos e a securitização? Se a decisão for
adiada para a reunião de primavera do FMI, é sinal de que permanece o abismo entre as grandes praças financeiras (Nova
York e Londres) e os demais.
Finalmente, é preciso ver se
sairá do papel a proposta de aumentar para US$ 750 bilhões os
recursos do Fundo, a fim de socorrer os menores, que não têm
espaço para programas de estímulo, e se ela virá acompanhada da reforma imediata dos mecanismos de governança do
FMI. De lambuja, checar se os
US$ 100 bilhões para financiar
o comércio serão aprovados.
De concreto, o que está em
jogo são esses três pontos. O
resto é perfumaria diplomática.
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