São Paulo, quinta-feira, 02 de abril de 2009

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Japão oferece R$ 6.700 para decasséguis deixarem o país

Imigrante que aceitar a proposta perderá visto de trabalho por prazo ainda indefinido

Desemprego avança no país, e crise não dá sinal de melhora; grupo decasségui diz que medida pode ocultar "expulsão compulsória"


DA REDAÇÃO

Com o desemprego no maior nível em três anos e a crise não dando sinais de arrefecimento, o governo do Japão começou a oferecer dinheiro para que descendentes de japoneses, entre eles brasileiros, deixem o país.
Pela proposta, cada decasségui desempregado receberá 300 mil ienes (cerca de R$ 6.700) para a passagem aérea, além de 200 mil ienes (R$ 4.500) por dependente.
O dinheiro, no entanto, tem uma exigência que deve torná-lo pouco atrativo para os decasséguis: quem aceitar a oferta não poderá retornar ao Japão com o visto de trabalho. Na prática, devido às duras leis de imigração do Japão, a maioria dessas pessoas não conseguirá um novo emprego no país caso decidam retornar.
Gerente de um restaurante brasileiro em Oizumimachi, Fausto Kishinami, 32, disse que nenhum dos seus amigos vai recorrer ao dinheiro do governo por causa da condição. "Eu não acho que as pessoas devam aceitar esse dinheiro."
Para Milton Nakabayashi, vice-presidente do Grupo Nikkei, que ajuda decasséguis retornados ao Brasil, uma análise da medida depende de qual for o período em que o imigrante não pode voltar ao Japão.
"Fica a dúvida se é uma ajuda humanitária ou uma expulsão compulsória. Não se sabe ainda de que forma quem está recebendo está assinando esse contrato. Se essa condição for de um ou dois anos, pode ser para resguardar o mercado de trabalho para japoneses durante o período crítico da crise. Mas, se a condição for de dez anos, alguma coisa diz que é para você não voltar mais."
Os brasileiros formam a maior comunidade de decasséguis, com 310 mil representantes, seguidos pelos peruanos, com 60 mil. Levando em conta os não descendentes de japoneses, chineses e sul-coreanos são o maior número de estrangeiros. A maior parte desse pessoal foi atraída no início da década passada, quando o governo facilitou a entrada dos decasséguis para fornecer mão de obra para as fábricas locais, já que a população japonesa, envelhecida, não conseguia suprir a demanda.
Agora, no entanto, esse cenário mudou. A taxa de desemprego chegou a 4,4% em fevereiro (a expectativa é que supere os 5% até o fim do ano), a produção industrial vem caindo em ritmo recorde -devido à queda nas demandas interna e externa- e, mesmo com os pacotes do governo, não há expectativa de recuperação da economia no curto prazo. No quarto trimestre do ano passado, o PIB do Japão, a segunda maior economia mundial, retraiu-se em 12,1% na taxa anualizada, a maior queda em 34 anos.
Boa parte dos trabalhadores estrangeiros tem empregos temporários, especialmente em montadoras e fábricas de produtos eletrônicos, que tiveram forte queda na produção devido à queda nas exportações. Segundo o Ministério do Trabalho japonês, cerca de 9.300 imigrantes se inscreveram nos centros de auxílio aos desempregados entre novembro do ano passado e janeiro, 11 vezes mais do que no mesmo período de 2007 a 2008.


Com NATÁLIA PAIVA , colaboração para a Folha , e agências internacionais


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