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Japão oferece R$ 6.700 para decasséguis deixarem o país
Imigrante que aceitar a proposta perderá visto de trabalho por prazo ainda indefinido
Desemprego avança no país, e crise não dá sinal de melhora; grupo decasségui diz que medida pode ocultar "expulsão compulsória"
DA REDAÇÃO
Com o desemprego no maior
nível em três anos e a crise não
dando sinais de arrefecimento,
o governo do Japão começou a
oferecer dinheiro para que descendentes de japoneses, entre
eles brasileiros, deixem o país.
Pela proposta, cada decasségui
desempregado receberá 300
mil ienes (cerca de R$ 6.700)
para a passagem aérea, além de
200 mil ienes (R$ 4.500) por
dependente.
O dinheiro, no entanto, tem
uma exigência que deve torná-lo pouco atrativo para os decasséguis: quem aceitar a oferta
não poderá retornar ao Japão
com o visto de trabalho. Na prática, devido às duras leis de imigração do Japão, a maioria dessas pessoas não conseguirá um
novo emprego no país caso decidam retornar.
Gerente de um restaurante
brasileiro em Oizumimachi,
Fausto Kishinami, 32, disse
que nenhum dos seus amigos
vai recorrer ao dinheiro do governo por causa da condição.
"Eu não acho que as pessoas
devam aceitar esse dinheiro."
Para Milton Nakabayashi, vice-presidente do Grupo Nikkei,
que ajuda decasséguis retornados ao Brasil, uma análise da
medida depende de qual for o
período em que o imigrante
não pode voltar ao Japão.
"Fica a dúvida se é uma ajuda
humanitária ou uma expulsão
compulsória. Não se sabe ainda
de que forma quem está recebendo está assinando esse contrato. Se essa condição for de
um ou dois anos, pode ser para
resguardar o mercado de trabalho para japoneses durante o
período crítico da crise. Mas, se
a condição for de dez anos, alguma coisa diz que é para você
não voltar mais."
Os brasileiros formam a
maior comunidade de decasséguis, com 310 mil representantes, seguidos pelos peruanos,
com 60 mil. Levando em conta
os não descendentes de japoneses, chineses e sul-coreanos são
o maior número de estrangeiros. A maior parte desse pessoal foi atraída no início da década passada, quando o governo facilitou a entrada dos decasséguis para fornecer mão de
obra para as fábricas locais, já
que a população japonesa, envelhecida, não conseguia suprir
a demanda.
Agora, no entanto, esse cenário mudou. A taxa de desemprego chegou a 4,4% em fevereiro (a expectativa é que supere os 5% até o fim do ano), a
produção industrial vem caindo em ritmo recorde -devido à
queda nas demandas interna e
externa- e, mesmo com os pacotes do governo, não há expectativa de recuperação da economia no curto prazo. No quarto trimestre do ano passado, o
PIB do Japão, a segunda maior
economia mundial, retraiu-se
em 12,1% na taxa anualizada, a
maior queda em 34 anos.
Boa parte dos trabalhadores
estrangeiros tem empregos
temporários, especialmente
em montadoras e fábricas de
produtos eletrônicos, que tiveram forte queda na produção
devido à queda nas exportações. Segundo o Ministério do
Trabalho japonês, cerca de
9.300 imigrantes se inscreveram nos centros de auxílio aos
desempregados entre novembro do ano passado e janeiro, 11
vezes mais do que no mesmo
período de 2007 a 2008.
Com NATÁLIA PAIVA , colaboração para a
Folha , e agências internacionais
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