|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ÁSIA
Entram em vigor dois pacotes que promovem a desregulamentação dos setores financeiro e de serviços do país
Começa "Big Bang" na economia do Japão
MARCIO AITH
O Japão começou a implementar on
tem, em meio a uma grave crise econômica, a mais ambiciosa reforma de
sua história recente.
Começaram a vigorar em abril, simultaneamente, dois amplos pacotes de desregulamentação que
mudam a cara dos setores financeiro e de serviços do país.
As mudanças afetam desde o cidadão comum -que poderá
comprar combustíveis em postos
self-service- até o mais rico banqueiro.
No mercado financeiro, a competição foi aberta para as fortes
instituições norte-americanas e
européias.
Está em disputa, entre outras
coisas, a maior poupança popular
do mundo (US$ 9 trilhões), construída ao longo de 30 anos por
uma população acostumada a
guardar dinheiro e a receber em
troca as menores taxas de juro do
mercado global (ler texto abaixo).
O pacote financeiro foi apelidado de "Big Bang". Trata-se de uma
das últimas tentativas do governo
japonês para revitalizar sua economia, depois de fracassar em todas as suas metas para o ano fiscal
que terminou no mês passado.
Turista japonês
As mudanças são significativas.
Até anteontem, um turista japonês que voltasse dos Estados Unidos com dólares sobrando em sua
carteira os vendesse a um amigo
estaria sujeito a três anos de prisão
e a uma multa de cerca de US$
7.600.
Agora, qualquer pessoa ou estabelecimento comercial (posto de
gasolina, mercearia, supermercado ou camelôs) estão autorizados
a operar no mercado de câmbio.
Os japoneses poderão ainda, pela primeira vez, remeter recursos
para fora do país sem quaisquer
restrições e aplicar em fundos de
investimentos atrelados a ativos
externos -como fundo de ações
de empresas norte-americanas ou
européias.
O "Big Bang" derruba a maioria
das restrições à entrada de corretoras e de bancos estrangeiros no
Japão. Com os olhos nesse mercado, a norte-americana Merryl
Lynch comprou as agências e contratou a maioria dos funcionários
da corretora Yamaichi Securities,
que quebrou no ano passado depois de cerca de 100 anos de funcionamento.
As mudanças visam modernizar
a economia e atrair investimentos.
Mas, como toda mudança, envolve riscos.
"Ao menos US$ 9 bilhões sairão
do país nos próximos meses em
função do Big Bang", diz Susumu
Kato, economista-chefe da Barclays Capital em Tóquio.
"Sei disso, mas o governo não
pode retardar as mudanças. Se
não avançarmos, a confiança da
comunidade financeira internacional será perdida", afirma Eiji
Yamamoto, professor de finanças
internacionais da universidade de
Konan, em Kobe.
Uma das garantias do governo
japonês para suportar uma eventual fuga em massa de poupança,
segundo os especialistas, é o tamanho de suas reservas internacionais, as maiores do mundo. Elas
atingiram no final de março a espantosa cifra de US$ 223,5 bilhões, alimentadas pelas sucessivas desvalorizações do iene e pelo
aumento do superávit comercial
do país.
Taxistas
O outro pacote visa desregulamentar e desburocratizar praticamente todos os setores da indústria e de serviços do Japão.
Essas mudanças foram aprovadas no último dia de março e parte
delas começou a vigorar ontem,
juntamente com o "Big Bang".
Desde ontem, taxistas e companhias aéreas regionais podem cobrar as tarifas que quiserem, destruíndo um monopólio conhecido
pelos turistas. Já os postos de gasolina podem operar sob o sistema
de self-service.
As mudanças promovem ainda
uma maior competição entre as
companhias telefônicas regionais
e entre os provedores de acesso à
Internet.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|