São Paulo, quinta, 2 de abril de 1998

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ÁSIA
Entram em vigor dois pacotes que promovem a desregulamentação dos setores financeiro e de serviços do país
Começa "Big Bang" na economia do Japão

MARCIO AITH
O Japão começou a implementar on

tem, em meio a uma grave crise econômica, a mais ambiciosa reforma de sua história recente.
Começaram a vigorar em abril, simultaneamente, dois amplos pacotes de desregulamentação que mudam a cara dos setores financeiro e de serviços do país.
As mudanças afetam desde o cidadão comum -que poderá comprar combustíveis em postos self-service- até o mais rico banqueiro.
No mercado financeiro, a competição foi aberta para as fortes instituições norte-americanas e européias.
Está em disputa, entre outras coisas, a maior poupança popular do mundo (US$ 9 trilhões), construída ao longo de 30 anos por uma população acostumada a guardar dinheiro e a receber em troca as menores taxas de juro do mercado global (ler texto abaixo).
O pacote financeiro foi apelidado de "Big Bang". Trata-se de uma das últimas tentativas do governo japonês para revitalizar sua economia, depois de fracassar em todas as suas metas para o ano fiscal que terminou no mês passado.
Turista japonês
As mudanças são significativas. Até anteontem, um turista japonês que voltasse dos Estados Unidos com dólares sobrando em sua carteira os vendesse a um amigo estaria sujeito a três anos de prisão e a uma multa de cerca de US$ 7.600.
Agora, qualquer pessoa ou estabelecimento comercial (posto de gasolina, mercearia, supermercado ou camelôs) estão autorizados a operar no mercado de câmbio.
Os japoneses poderão ainda, pela primeira vez, remeter recursos para fora do país sem quaisquer restrições e aplicar em fundos de investimentos atrelados a ativos externos -como fundo de ações de empresas norte-americanas ou européias.
O "Big Bang" derruba a maioria das restrições à entrada de corretoras e de bancos estrangeiros no Japão. Com os olhos nesse mercado, a norte-americana Merryl Lynch comprou as agências e contratou a maioria dos funcionários da corretora Yamaichi Securities, que quebrou no ano passado depois de cerca de 100 anos de funcionamento.
As mudanças visam modernizar a economia e atrair investimentos. Mas, como toda mudança, envolve riscos.
"Ao menos US$ 9 bilhões sairão do país nos próximos meses em função do Big Bang", diz Susumu Kato, economista-chefe da Barclays Capital em Tóquio.
"Sei disso, mas o governo não pode retardar as mudanças. Se não avançarmos, a confiança da comunidade financeira internacional será perdida", afirma Eiji Yamamoto, professor de finanças internacionais da universidade de Konan, em Kobe.
Uma das garantias do governo japonês para suportar uma eventual fuga em massa de poupança, segundo os especialistas, é o tamanho de suas reservas internacionais, as maiores do mundo. Elas atingiram no final de março a espantosa cifra de US$ 223,5 bilhões, alimentadas pelas sucessivas desvalorizações do iene e pelo aumento do superávit comercial do país.
Taxistas
O outro pacote visa desregulamentar e desburocratizar praticamente todos os setores da indústria e de serviços do Japão.
Essas mudanças foram aprovadas no último dia de março e parte delas começou a vigorar ontem, juntamente com o "Big Bang".
Desde ontem, taxistas e companhias aéreas regionais podem cobrar as tarifas que quiserem, destruíndo um monopólio conhecido pelos turistas. Já os postos de gasolina podem operar sob o sistema de self-service.
As mudanças promovem ainda uma maior competição entre as companhias telefônicas regionais e entre os provedores de acesso à Internet.



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