|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRANSPORTES
Governo cria o vale-pedágio e acena com outras medidas, mas líder de caminhoneiros não recua
FHC tenta evitar greve nas estradas
OTÁVIO CABRAL
da Sucursal de Brasília
O governo federal cedeu às
pressões das lideranças dos caminhoneiros e propôs uma série de
medidas para evitar a greve da categoria, que começou ontem e deve viver seu ponto crítico hoje.
Mas o Movimento União Brasil
Caminhoneiro resolveu manter a
paralisação.
As medidas tomadas pelo governo foram decididas em reunião entre a noite de anteontem e
a madrugada de ontem, envolvendo os ministros Eliseu Padilha
(Transportes), José Gregori (Justiça) e general Alberto Cardoso
(Segurança Institucional).
A principal concessão é a criação de um vale-pedágio, que tornará os donos da carga ou embarcadores responsáveis pelo pagamento dos pedágios. A tarifa é a
principal reclamação dos caminhoneiros, que alegam perder
cerca de 30% de seu lucro nas praças de pedágio.
A medida independe do final da
greve, já foi autorizada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e será publicada hoje ou amanhã no "Diário Oficial".
"Os caminhoneiros queriam
pagar R$ 1 por eixo, mas o governo está propondo que o pagamento fique todo com o dono da
carga. É muito melhor do que eles
haviam pedido", declarou ontem
o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, responsável pelas negociações com o movimento. "O
governo cedeu na tarifa do pedágio e continua com o propósito de
negociar. Nada está fechado e faremos tudo o que estiver ao nosso
alcance."
A criação do vale-pedágio será
feita por medida provisória. Segundo Padilha, em 25 dias a medida deve estar em operação.
Além do vale-pedágio, Padilha
anunciou que será publicada a cada 60 dias uma tabela de referência de preços de frete. Os caminhoneiros exigiam o tabelamento
do valor da carga, o que, segundo
Padilha, é impossível, pois é uma
questão de mercado.
O ministro anunciou ainda que
haverá uma tolerância maior no
peso máximo de carga permitida
por caminhão e que será intensificado o combate ao roubo de caminhões. A implementação dessas três últimas medidas está relacionada ao final da greve.
"O governo continua negociando porque crê que o setor quer
progresso e não paralisação", declarou Padilha. "Esperamos o
bom senso dos caminhoneiros
após essas propostas. Se houver
paralisação, será muito pequena."
O ministro negou a possibilidade de o custo que os donos das
cargas terão com pedágio ser repassado ao consumidor. Para
evitar isso, o Ministério da Justiça
irá criar uma série de penalidades, que inclui até mesmo a cassação da licença da transportadora que fizer o repasse.
Padilha considera que o presidente do movimento, Nélio Botelho, não tem legitimidade para
comandar a categoria. "Esse movimento não tem sócios, não tem
filiados, portanto não é legítimo."
Mesmo assim, Padilha passou o
dia no ministério, esperando um
contato de Botelho, que não
ocorreu. "Espero um contato para voltar a discutir os termos do
acordo com a categoria."
O governo está monitorando o
movimento nas principais estradas brasileiras para evitar bloqueios e manifestações, que "não
serão aceitas", como diz Padilha.
Ontem, Padilha, Cardoso e Gregori trocaram informações várias
vezes pelo telefone.
Na avaliação do governo, as estradas estavam vazias ontem devido ao feriado. "Em tese, houve
uma paralisação de 100%, porque
os caminhoneiros ficaram em casa no feriado do Dia do Trabalho.
Mas na terça-feira (hoje) tudo vai
voltar ao normal."
Padilha também descarta a hipótese de desabastecimento.
Texto Anterior: Painel S/A Próximo Texto: Líder caminhoneiro mantém a greve Índice
|