São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRANSPORTES
Governo cria o vale-pedágio e acena com outras medidas, mas líder de caminhoneiros não recua
FHC tenta evitar greve nas estradas

OTÁVIO CABRAL
da Sucursal de Brasília

O governo federal cedeu às pressões das lideranças dos caminhoneiros e propôs uma série de medidas para evitar a greve da categoria, que começou ontem e deve viver seu ponto crítico hoje. Mas o Movimento União Brasil Caminhoneiro resolveu manter a paralisação.
As medidas tomadas pelo governo foram decididas em reunião entre a noite de anteontem e a madrugada de ontem, envolvendo os ministros Eliseu Padilha (Transportes), José Gregori (Justiça) e general Alberto Cardoso (Segurança Institucional).
A principal concessão é a criação de um vale-pedágio, que tornará os donos da carga ou embarcadores responsáveis pelo pagamento dos pedágios. A tarifa é a principal reclamação dos caminhoneiros, que alegam perder cerca de 30% de seu lucro nas praças de pedágio.
A medida independe do final da greve, já foi autorizada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e será publicada hoje ou amanhã no "Diário Oficial".
"Os caminhoneiros queriam pagar R$ 1 por eixo, mas o governo está propondo que o pagamento fique todo com o dono da carga. É muito melhor do que eles haviam pedido", declarou ontem o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, responsável pelas negociações com o movimento. "O governo cedeu na tarifa do pedágio e continua com o propósito de negociar. Nada está fechado e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance."
A criação do vale-pedágio será feita por medida provisória. Segundo Padilha, em 25 dias a medida deve estar em operação.
Além do vale-pedágio, Padilha anunciou que será publicada a cada 60 dias uma tabela de referência de preços de frete. Os caminhoneiros exigiam o tabelamento do valor da carga, o que, segundo Padilha, é impossível, pois é uma questão de mercado.
O ministro anunciou ainda que haverá uma tolerância maior no peso máximo de carga permitida por caminhão e que será intensificado o combate ao roubo de caminhões. A implementação dessas três últimas medidas está relacionada ao final da greve.
"O governo continua negociando porque crê que o setor quer progresso e não paralisação", declarou Padilha. "Esperamos o bom senso dos caminhoneiros após essas propostas. Se houver paralisação, será muito pequena."
O ministro negou a possibilidade de o custo que os donos das cargas terão com pedágio ser repassado ao consumidor. Para evitar isso, o Ministério da Justiça irá criar uma série de penalidades, que inclui até mesmo a cassação da licença da transportadora que fizer o repasse.
Padilha considera que o presidente do movimento, Nélio Botelho, não tem legitimidade para comandar a categoria. "Esse movimento não tem sócios, não tem filiados, portanto não é legítimo."
Mesmo assim, Padilha passou o dia no ministério, esperando um contato de Botelho, que não ocorreu. "Espero um contato para voltar a discutir os termos do acordo com a categoria."
O governo está monitorando o movimento nas principais estradas brasileiras para evitar bloqueios e manifestações, que "não serão aceitas", como diz Padilha. Ontem, Padilha, Cardoso e Gregori trocaram informações várias vezes pelo telefone.
Na avaliação do governo, as estradas estavam vazias ontem devido ao feriado. "Em tese, houve uma paralisação de 100%, porque os caminhoneiros ficaram em casa no feriado do Dia do Trabalho. Mas na terça-feira (hoje) tudo vai voltar ao normal."
Padilha também descarta a hipótese de desabastecimento.


Texto Anterior: Painel S/A
Próximo Texto: Líder caminhoneiro mantém a greve
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.