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Exportador prevê tombo no saldo comercial
Com grau de investimento, atração de capital estrangeiro deve derrubar ainda mais o dólar e prejudicar embarques, dizem empresas
Associação de exportadores teme que saldo da balança fique negativo em 2009; empresários iniciam pressão por queda da taxa de juro
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO
Os exportadores brasileiros
temem que a provável entrada
de mais capital estrangeiro no
país, efeito da conquista da posição de país seguro para investimentos pela agência de classificação de risco Standard &
Poor's, possa tornar negativo o
saldo da balança comercial brasileira no ano que vem.
"Ser considerado grau de investimento foi ótimo para o
Brasil e péssimo para o setor de
comércio exterior", afirma José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de
Exportadores do Brasil).
A entrada de mais capital estrangeiro no país resultará na
valorização do real em relação
ao dólar, o que aumenta a dificuldade para competir no mercado externo. "Essa situação
deve se agravar", afirma.
Para a AEB, o saldo da balança comercial brasileira deve
chegar a US$ 22 bilhões neste
ano, depois de alcançar US$ 46
bilhões em 2006 e US$ 40 bilhões em 2007. "Não me surpreenderia se voltássemos a ter
déficit comercial em 2009. Basta que as exportações de commodities caiam", afirma.
"Preocupação com o câmbio
existe", diz Cesário Ramalho,
presidente da SRB (Sociedade
Rural Brasileira). Segundo ele,
é preciso buscar alguma compensação para uma nova onda
de valorização do real. "Teria
de ocorrer uma queda de juros
imediata", afirma Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (Associação Brasileira da
Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína).
O agronegócio, que desempenhou papel fundamental para o saldo da balança comercial
desde a década passada, "não
agüenta pagar a conta sem a redução dos juros", diz Camargo
Neto. Mesmo com os preços
agropecuários internacionais
em alta, o campo enfrenta forte
alta dos insumos, sobretudo
fertilizantes e combustíveis.
"Isso pode resultar em redução
de produção à frente."
Balança comercial
O Relatório Focus do Banco
Central, que reúne as expectativas de mercado, prevê um saldo de US$ 25 bilhões para a balança comercial neste ano e de
US$ 17,5 bilhões em 2009. Para
Castro, da AEB, se a entrada de
capitais estrangeiros for muito
forte, é possível que neste ano o
saldo da balança comercial já
seja menor do que o previsto.
A provável apreciação do real
vai agravar principalmente as
exportações de produtos manufaturados, que já estão em
queda, afirma Julio Gomes de
Almeida, consultor do Iedi
(Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial).
"Conquistar grau de investimento é ótimo. Só que as políticas que o governo diz que vai
adotar para beneficiar as exportações precisam vir com
maior dose", afirma Almeida.
Recuo
No primeiro trimestre deste
ano, o volume de exportações
de produtos manufaturados
caiu 3,8% na comparação com
igual período do ano passado.
No caso de produtos básicos, a
queda foi de 13,2%, e a de semimanufaturados, de 1,7%. Na
média, a queda geral nas exportações foi de 6,2% em volume.
"A exportação brasileira está
sendo sustentada por preços",
diz Almeida. Na média, os embarques, em dólares, subiram
13,8% no primeiro trimestre
deste ano ante igual período do
ano passado. Os preços aumentaram 21,5% no período.
Para o Iedi e a AEB, o fato de
o Brasil ser considerado um
país sólido para investimentos
é motivo mais do que suficiente
para que o governo baixe os juros. "Se reduzir o custo de produção das empresas, o governo
ajuda a controlar a inflação.
Não existe mais desculpa para
não reduzir os juros. O grau de
investimento é um atestado de
boa saúde financeira do país.
Por isso, por que o governo pagaria mais para pegar dinheiro
emprestado?", afirma Castro.
José Velloso, vice-presidente
da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas
e Equipamentos), diz que o setor conhece bem os efeitos do
real sobrevalorizado. A balança
comercial do setor fechou 2006
com déficit de US$ 600 milhões
e, no ano passado, com US$ 4,2
bilhões. No primeiro trimestre
deste ano, a conta ficou no vermelho em US$ 2,5 bilhões.
"Desse jeito, o ano inteiro pode
ter déficit de US$ 12 bilhões."
Além da redução dos juros, a
Abimaq defende a elevação do
IOF (Imposto sobre Operações
Financeiras) para inibir a entrada de capital especulativo.
"A longo prazo, o grau de investimento vai ser ótimo, pela
demanda de máquinas que vai
criar no país", diz Velloso.
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