São Paulo, sábado, 02 de junho de 2001

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VIZINHO EM CRISE

Deustche e ABN temem punição da SEC e abandonam megatroca


Bancos deixam operação argentina

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O Deustche Bank e o banco ABN-Amro se retiraram ontem da co-administração da operação de megatroca da dívida argentina por temerem punição da SEC (Securities and Exchange Commission), a comissão de valores mobiliários norte-americana.
A punição viria porque ambas as instituições mandaram para seus clientes anteontem relatórios com análise sobre a operação da Argentina, o que o exigente órgão regulador do mercado de ações norte-americano proíbe, pelo menos até que a operação seja efetivada completamente.
Como a megatroca só foi concluída no fim do dia de ontem e seu resultado só sairá às 9h30 de segunda-feira, os clientes de ambas instituições poderiam ter contado com informações privilegiadas obtidas de maneira antiética, segundo a leitura da SEC.
Além do Deutsche e do ABN-Amro, outra instituição que participa do comando teria sido aconselhada a deixar a operação argentina, mas apenas diminuiu sua atuação. Trata-se do Banco de Galícia y Buenos Aires. A partir de hoje, como represália, o banco estaria proibido de negociar títulos em dólar.
O motivo seria a distribuição a seus clientes por e-mail de uma das tabelas apresentadas pelo ministro da Economia argentina Domingos Cavallo em seu "road show" por Londres e Nova York no começo da semana.
Procurado pela Folha, John Heine, assessor de imprensa da SEC, disse que se recusaria a comentar o assunto, por não ter sido ainda trazido a público oficialmente.
A informação da retirada foi confirmada oficialmente à Folha pela assessora de imprensa para a América Latina do Deutsche Bank, Juanita Gutierrez. A jornalista disse no entanto que não falaria sobre os motivos. O ABN-Amro não comentou.
A saída dos dois bancos e a manutenção do Galícia não altera a megatroca. Além desses, participam da co-administração outras quatro instituições financeiras, entre elas JP Morgan, Credit Suisse First Boston e Salomon Smith Barney, que continuam.

Arrecadação
O ministro da Economia argentino, Domingo Cavallo, anunciou ontem um aumento de 8% na arrecadação fiscal no mês de maio em relação ao mesmo mês do ano passado. Cavallo prometeu estudar reduções de impostos setoriais para reativar a economia.
O incremento na arrecadação é um indicador de que o imposto sobre transações financeiras (semelhante à CPMF brasileira), criado por Cavallo em abril, começa a mostrar sua eficácia. No mês passado, a arrecadação havia caído 9,1%, e, no mês de março, 12,9%.
O ministro comemorou o dado como um indicador da retomada do crescimento. Os dados da Afip (órgão arrecadador de impostos), porém, indicam que a arrecadação de IVA (Imposto sobre Valor Agregado), pago sobre o comércio, teve uma queda em relação ao ano passado.
Além disso, outros indicadores indicam que a reativação pode estar mais longe do que pretende Cavallo. O número de falências e concordatas cresceu 11% em maio em relação a abril e 22% em relação a maio do ano passado.


Colaborou Rogerio Wassermann, de Buenos Aires



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