São Paulo, domingo, 02 de junho de 2002

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Presidenciáveis querem mudar estratégia de FHC

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nenhum dos principais presidenciáveis pretende seguir à risca o calendário e a estratégia definidos pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso nas negociações internacionais.
O pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, pretende cuidar da reconstrução do Mercosul antes de negociar com os países mais ricos. "Antes de negociar a Alca ou com a União Européia, é preciso resgatar o Mercosul", disse o deputado Aloizio Mercadante (PT-SP), que integra a cúpula da campanha petista.
Ciro Gomes, pré-candidato do PPS, por sua vez também promete rever o calendário de negociações e dar prioridade ao Mercosul. Segundo sua assessoria, o Brasil não estará preparado para enfrentar as negociações antes de fazer a reforma tributária e reduzir a taxa de juros.

Referendo popular
Na semana passada, Ciro afirmou que pretende submeter a adesão do Brasil à Alca (Área e Livre Comércio das Américas) a um referendo popular, idéia também defendida pelo PT.
"O paralelismo dos cronogramas [fazer as negociações avançarem no mesmo ritmo" obedece à lógica de não ter de pagar dois preços para a obtenção de mercados diferentes, já que o Brasil negocia no plano regional (Alca e Mercosul-União Européia) e multilateral (OMC)", afirma o subsecretário de Assuntos Econômicos e de Intregração do Itamaraty, embaixador Clodoaldo Hugueney.
Segundo o embaixador, as negociações regionais são mais profundas do que as multilaterais, portanto, os passos na OMC balizam as ofertas feitas na Alca e para a União Européia. De acordo com Hugueney, o calendário das negociações é uma decisão de consenso, e os demais países não vão esperar pelo Brasil. O pré-candidato do governo, José Serra (PSDB-SP), não pretende desonrar os compromissos assumidos pelo atual governo.
"O problema não é o cronograma, teremos força para adaptá-lo aos nossos interesses e faremos isso." Segundo Serra, o que ameaça a Alca não é o despreparo do Brasil, mas as barreiras comerciais dos EUA.

Serra muda cronograma
Por outro lado, Serra é enfático ao afirmar que só negocia a partir da tarifa consolidada na OMC, de 35%, contrariando o compromisso assumido pelo governo de Fernando Henrique Cardoso na Alca e com a União Européia, de começar a reduzir tarifas a partir do nível das tarifas aplicado na prática -em média, bem mais baixo.
Ao contrário do governo, que vê no Mercosul seu principal instrumento de política externa, e do PT, que defende o aprofundamento do bloco antes da aproximação com outros países, Serra quer evitar que o Mercosul seja um empecilho para Brasil.
Para o candidato tucano, o Mercosul tem de consolidar a zona de livre comércio antes de aprofundar-se, ou seja, tornar-se uma união aduaneira, como querem o governo e o PT.
"Temos de ter mais liberdade no que se refere a tarifas a fim de que o Brasil possa agilizar acordos com outros países isoladamente, como faz o México", disse Serra. De acordo com as normas do Mercosul, os países-membros não podem fazer acordos comerciais sem os parceiros.
Para Hugueney, sem o Mercosul, o Brasil corre o risco de reduzir sua presença no mundo e contraria a tendência de integração na economia mundial em blocos.
O pré-candidato do PSB, Anthony Garotinho, ainda não detalhou seus planos para as negociações internacionais. No debate promovido pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) no início do mês, Garotinho disse que pretende fortalecer a liderança no Brasil na América do Sul e dar prioridade a acordos comerciais com países em desenvolvimento.



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