São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2004

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Pressão continuará, dizem analistas

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A pressão atual sobre os preços do petróleo tem caráter estrutural, com aumento na demanda e limites de produção entre vários fornecedores, e deve continuar no longo prazo. A possibilidade de novos atentados e a instabilidade no Oriente Médio também devem manter as cotações em alta.
A análise é de alguns dos principais institutos do setor ouvidos pela Folha nos Estados Unidos.
Para o FMI (Fundo Monetário Internacional), a manutenção dos preços na faixa de US$ 40 o barril poderá comprometer as estimativas para o crescimento mundial divulgadas recentemente.
Segundo John Felmy, economista-chefe do Instituto Americano do Petróleo, que representa 400 empresas nos EUA, "são os fundamentos do mercado que estão regulando os preços".
"A demanda chinesa tende a continuar elevada, os EUA estão crescendo, assim como várias outras partes do mundo, pressionando a demanda", diz.
Felmy espera "forte contencioso" na reunião dos países-membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que acontece hoje e amanhã em Beirute, no Líbano.
No encontro, a Arábia Saudita, pressionada pelos EUA, tentará convencer os outros produtores a concordarem com um aumento na produção.
"Oito dos países envolvidos [na Opep] não têm nenhuma condição de aumentar a produção. Estão no limite. Arábia Saudita, Emirados Árabes e Qatar são os únicos que poderiam fazer isso. Se o fizerem, os preços podem cair um pouco. Mas todos os outros vão começar a perder dinheiro", afirma Felmy.
Seth Kleiman, economista da PFC Energy, uma das maiores consultorias do setor nos EUA, afirma que há "pouquíssima capacidade ociosa entre os países produtores, agora combinada a uma demanda crescente".
"O mundo entrou em uma fase de crescimento global com os preços no alto, e a simples ameaça de ataques terroristas continuará adicionando pressões especulativas ao quadro", afirma.
Nos Estados Unidos, a Casa Branca continua pressionando e demonstrando confiança na promessa da Arábia Saudita -dona das maiores reservas- de aumentar sua produção de 8,5 milhões de barris/dia para cerca de 9 milhões a partir deste mês.
O impacto do petróleo na faixa de US$ 40 o barril tem sido ainda mais duro sobre os EUA, o maior consumidor no mundo.
Com a gasolina a US$ 2 o galão (3,8 litros), o preço do petróleo entrou para o centro da campanha eleitoral americana e é uma ameaça ao ritmo da forte recuperação econômica atual.
A gasolina nos EUA está hoje US$ 0,50 mais cara do que quando o presidente George W. Bush assumiu a Presidência, em 2001.
Algumas estimativas indicam que, na média, as famílias americanas gastarão US$ 650 a mais neste ano para abastecer seus carros. O valor equivale ao que famílias de classe média receberam de benefícios com a política de corte de impostos de Bush.
Os preços da gasolina já afetam os índices de confiança dos consumidores americanos e, para o FMI, podem ter impacto na recuperação global em curso.
Segundo o Fundo, cada aumento de US$ 5 no barril de petróleo poderá retirar 0,3 ponto percentual da estimativa de crescimento global em 2004 -de 4,6%, feita considerando o barril ainda na faixa de US$ 30.


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