São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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Com dólar barato, empresas substituem insumo nacional por estrangeiro, diz CNI

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A valorização da moeda brasileira ante o dólar provoca mudanças no comportamento do setor industrial. Sondagem da CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostra que o percentual de empresas que utilizam insumos e matérias-primas importadas passou de 69%, em 2004, para 71%, no ano passado.
A julgar pela análise dos industriais, essa participação de produtos importados deve continuar em alta neste ano. Para 2006, 28% das empresas que já compram insumos importados pretendem ampliar as importações em detrimento dos produtos nacionais.
Numa escala de 0 a 100, o indicador de expectativa da CNI ficou em 53,3 na questão relativa aos prognósticos de importação para os próximos seis meses. Valores acima de 50 significam uma expectativa positiva. "As empresas industriais começaram a substituir insumos e matérias-primas domésticos por importados, processo que deverá se intensificar em 2006", diz trecho de relatório da CNI divulgado ontem.
Esse movimento de substituição de produtos nacionais por artigos do exterior já começou a ser notado no final do ano passado. Com o dólar mais barato, algumas empresas passaram a trazer maquinário e peças de fora para diminuir os custos. Esse mecanismo tem sido adotado especialmente por empresas exportadoras que vêem a sua rentabilidade ser corroída pela valorização da moeda brasileira.

Perigo escondido
O aumento da importação, em si, não é algo ruim e pode até indicar que a indústria está mais propensa a fazer investimentos. Mas, para José Augusto de Castro, da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), há um perigo escondido no processo recente de alta das importações, sobretudo no setor de bens de capital. "Tem crescido muito a importação da China nesse segmento. O problema é que a concorrência com a China acontece em bases artificiais", disse. Em abril, a China ultrapassou a Argentina como o segundo maior fornecedor para o Brasil. A taxa de crescimento das importações chinesas é, em média, de 55%. O especialista faz ainda um outro alerta: "Há um movimento de importar apenas por causa dos preços melhores da concorrência internacional. Isso não significa, necessariamente, melhoria para o parque industrial", afirmou Castro.
Em relação às vendas externas, para 64,3% das grandes empresas a maior razão para continuarem exportando, a despeito da valorização do real, é a manutenção dos clientes. No caso das empresas de pequeno porte, esse percentual é de 60,2%.
A situação cambial puniu as perspectivas de investimento. Entre as grandes empresas exportadoras, 19% não pretendem investir em 2006. Entre as pequenas, 22% também expressaram essa opinião. O indicador que mede a expectativa de exportação para os próximos seis meses é de 47,6, o que mostra um cenário negativo.


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