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Com dólar barato, empresas substituem insumo nacional por estrangeiro, diz CNI
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A valorização da moeda brasileira ante o dólar provoca mudanças no comportamento do
setor industrial. Sondagem da
CNI (Confederação Nacional
da Indústria) mostra que o percentual de empresas que utilizam insumos e matérias-primas importadas passou de
69%, em 2004, para 71%, no
ano passado.
A julgar pela análise dos industriais, essa participação de
produtos importados deve continuar em alta neste ano. Para
2006, 28% das empresas que já
compram insumos importados
pretendem ampliar as importações em detrimento dos produtos nacionais.
Numa escala de 0 a 100, o indicador de expectativa da CNI
ficou em 53,3 na questão relativa aos prognósticos de importação para os próximos seis meses. Valores acima de 50 significam uma expectativa positiva.
"As empresas industriais começaram a substituir insumos
e matérias-primas domésticos
por importados, processo que
deverá se intensificar em
2006", diz trecho de relatório
da CNI divulgado ontem.
Esse movimento de substituição de produtos nacionais
por artigos do exterior já começou a ser notado no final do ano
passado. Com o dólar mais barato, algumas empresas passaram a trazer maquinário e peças de fora para diminuir os
custos. Esse mecanismo tem sido adotado especialmente por
empresas exportadoras que
vêem a sua rentabilidade ser
corroída pela valorização da
moeda brasileira.
Perigo escondido
O aumento da importação,
em si, não é algo ruim e pode
até indicar que a indústria está
mais propensa a fazer investimentos. Mas, para José Augusto de Castro, da AEB (Associação de Comércio Exterior do
Brasil), há um perigo escondido
no processo recente de alta das
importações, sobretudo no setor de bens de capital. "Tem
crescido muito a importação da
China nesse segmento. O problema é que a concorrência
com a China acontece em bases
artificiais", disse. Em abril, a
China ultrapassou a Argentina
como o segundo maior fornecedor para o Brasil. A taxa de
crescimento das importações
chinesas é, em média, de 55%.
O especialista faz ainda um outro alerta: "Há um movimento
de importar apenas por causa
dos preços melhores da concorrência internacional. Isso
não significa, necessariamente,
melhoria para o parque industrial", afirmou Castro.
Em relação às vendas externas, para 64,3% das grandes
empresas a maior razão para
continuarem exportando, a
despeito da valorização do real,
é a manutenção dos clientes.
No caso das empresas de pequeno porte, esse percentual é
de 60,2%.
A situação cambial puniu as
perspectivas de investimento.
Entre as grandes empresas exportadoras, 19% não pretendem investir em 2006. Entre as
pequenas, 22% também expressaram essa opinião. O indicador que mede a expectativa
de exportação para os próximos seis meses é de 47,6, o que
mostra um cenário negativo.
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