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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Os números do PIB trazem alerta
O aumento das importações
pode sinalizar que estamos
destruindo parte de
nossa estrutura produtiva
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) divulgou
nesta semana os números relativos ao PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre deste ano. O crescimento foi de 3,4% em relação
ao período equivalente de
2005, ou 1,4% quando comparado ao quarto trimestre
do ano passado. Depois de vários trimestres de oscilação,
alternando crescimento e
contração, finalmente parece
que em 2006 teremos um
comportamento mais estável,
com altas moderadas até o
fim do ano.
Os otimistas do governo
vão multiplicar por quatro o
crescimento de 1,4% no primeiro trimestre e falar de um
espetáculo de crescimento.
Já os pessimistas vão poder
dizer que a economia está
crescendo apenas 2,4%, alta
referente ao acúmulo dos
quatro trimestres terminados em março deste ano, incluindo, portanto, os péssimos resultados de 2005. Mas
esse valor também não representa o que está acontecendo
agora na economia. Prefiro ficar com uma previsão que temos aqui na Quest, de algo como 3,6% ao ano. É um bom
crescimento comparado com
os padrões históricos do Brasil, mas muito abaixo dos de
outros países emergentes, como Índia e Coréia do Sul, e de
outras nações da Ásia e da
América Latina. Em outras
palavras, estamos crescendo
muito abaixo do que deveríamos, o que não é novidade nenhuma.
Mas os números mais interessantes aparecem quando
entramos nas entranhas do
PIB brasileiro. Houve uma
retomada dos investimentos,
alta de 3,7% no trimestre, o
que é uma boa notícia -se for
continuada-, pois permite
que a economia acomode um
maior crescimento com menor pressão inflacionária.
Evidência disso é a estabilidade da utilização da capacidade instalada nos últimos seis
meses em um ambiente de
aceleração gradual da atividade. Outra observação importante é que, no primeiro trimestre deste ano, as importações cresceram bem mais que
as exportações, 11,6% e 3,9%
em relação ao quarto trimestre de 2005, respectivamente.
Se considerarmos a variação
nos 12 meses anteriores, os
números de agora mostram
esse mesmo fenômeno. Em
outras palavras, nosso comércio exterior passou a contribuir para uma redução no
crescimento do PIB, depois
de ter sido um fator de expansão durante vários anos. E esse comportamento deve se
manter nos próximos trimestres e a taxas crescentes.
Quando tivermos os números finais deste ano, vamos
ver, pela primeira vez no governo Luiz Inácio Lula da Silva, uma menor taxa de crescimento econômico causada
por uma maior participação
das importações no atendimento de nossa demanda interna e na composição de
nossas exportações. Esses
números apenas referendam
um fato que vem sendo sistematicamente ressaltado por
vários analistas: o real valorizado está forçando as empresas brasileiras a aumentar o
coeficiente de importação de
sua produção, reduzindo suas
compras dentro do Brasil. O
mesmo comportamento está
acontecendo com o cidadão
brasileiro em relação ao seu
consumo habitual, inclusive
em lazer.
Como em muitos fenômenos relacionados à economia,
temos nesse caso um lado
bom e um lado ruim. O lado
positivo é que, com a concorrência de importações mais
baratas, as empresas no Brasil
precisam se tornar cada vez
mais eficientes.
Além disso, o aumento da
concorrência no mercado interno implica menor capacidade de fixação de preços e
contribui para uma inflação
mais comportada, que pode
permitir juros mais baixos.
Por fim, a valorização cambial contribui para reduzir os
preços relativos de máquinas
e equipamentos, importados
e produzidos internamente,
aumentando o atrativo para
novos investimentos.
Mas sabemos também que,
se a força do real superar determinados limites, essa tendência de uma velocidade
maior no crescimento das importações pode sinalizar que
estamos destruindo, sem racionalidade, parte de nossa
estrutura produtiva e de nossa capacidade de gerar novos
empregos. Infelizmente, se
continuar essa tendência verificada nos números do PIB
do primeiro trimestre deste
ano, vamos cruzar essa fronteira tênue e perigosa entre a
racionalidade e a irracionalidade econômica. Estaremos,
então, destruindo parte importante da indústria nacional com o aplauso de um
grande número de economistas brasileiros.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 63, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente
do BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social) e ministro das
Comunicações (governo
FHC).
@ - lcmb2terra.com.br
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