|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
O guru de Tasso
Indicação de coordenador
econômico de Alckmin é sinal
da falta de objetividade com
que Tasso conduz campanha
A indicação do economista Samuel de Abreu Pessoa para
coordenar o programa econômico do candidato Geraldo Alckmin
é mais um sinal da falta de objetividade que vem caracterizando a condução imprimida pelo senador Tasso Jereissati à campanha tucana.
Nada contra os méritos acadêmicos de Abreu Pessoa. Trata-se de um
econometrista capaz de utilizar fórmulas sofisticadíssimas para comprovar que não basta a universalização do ensino: há que ter igualmente
qualidade.
Em seus trabalhos, levanta indagações pertinentes, não respostas.
Ele sabe medir o passado de forma
picada -analisa os efeitos do sistema educacional, da demografia, do
modelo exportador sobre a distribuição de renda. Mas não consegue
expor uma visão sistêmica capaz de
explicar o todo e menos ainda avançar em visões de futuro.
Não se menosprezem essas medições. Elas serão de muita utilidade
para um estrategista. Mas conferiu-se ao contador (no melhor sentido
da palavra) o papel de estrategista.
Tente tomar um dos trabalhos
mais relevantes de Pessoa -"Perspectivas de Crescimento no Longo
Prazo para o Brasil: Questões em
Aberto"-, de janeiro, e transformar
em plataforma de campanha (cópia
em www.dinheirovivo.com.br).
Em geral, os grandes economistas colocam no trabalho principal
as idéias, a visão de conjunto, as hipóteses. Depois, no rodapé ou em
anexos, vão as fórmulas que comprovariam as hipóteses utilizadas.
Pessoa faz parte da geração que
gosta de colocar as fórmulas em
primeiro plano.
Depurado das fórmulas, o que o
trabalho mostra? Por exemplo, ele
constata que o efeito do crescimento da China sobre as commodities brasileiras é similar ao que
ocorreu no fim do século 19 com o
desenvolvimento europeu demandando commodity sul-americana.
A partir daí, inunda o leitor com
perguntas. Uma maior especialização em bens primários estabelece
limites para o crescimento de longo prazo de uma economia? Existe
algo essencialmente ruim com esse
padrão? Durante a primeira globalização, há indícios de efeitos deletérios para a distribuição de renda
na América Latina. Será que esse
mesmo efeito ocorrerá?
Só há perguntas do acadêmico
que Tasso incumbiu, oficialmente,
de buscar as respostas. Não há sequer um pensamento sistêmico
permitindo entender de forma
abrangente o processo que levou à
estagnação das economias latino-americanas nas últimas décadas.
Apenas constatações tópicas, como
as de que a pauta de exportações de
commodities, hoje, é mais diversificada que no século 19, tornando o
país menos exposto à "loteria das
commodities". Ou que "acredito
ser importante conhecermos melhor os impactos de longo prazo sobre a economia brasileira do fenômeno China". Também acredito.
Faltam dois ingredientes fundamentais em suas análises. O primeiro, explicar a lógica do modelo
como um todo, somando as partes.
O segundo, propostas concretas de
ação pública. A não ser que Tasso
pretenda colocar Pessoa com um
quadro-negro em um palanque,
discorrendo sobre suas indagações
filosóficas aos eleitores.
@ - Luisnassifuol.com.br
Texto Anterior: Foco: Diretor de butique de luxo e ex-dono de banco estão no mesmo presídio em SP Próximo Texto: Varejo de SP teve o melhor maio pós-98 Índice
|