|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
As lições do pentacampeonato
Algumas observações sobre a Copa do Mundo. No plano internacional, a repercussão
foi fantástica, comprovando o enorme poder de formação da imagem nacional representado pelo futebol. As manchetes dos principais jornais do mundo demonstram simpatia, reconhecimento, admiração.
No plano interno, embora não exista mais a magia da primeira
Copa, ainda há uma enorme influência no amor-próprio nacional. Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Marcos, Cafu, Roberto Carlos estão definitivamente
entronizados no universo das figuras míticas do esporte. Cenas
como o gol de Ronaldinho contra a Inglaterra, o corta-luz de
Rivaldo para Ronaldo marcar, as defesas de Marcos ajudarão a
compor daqui para a frente o universo de símbolos das várias
gerações que vivem o Brasil de
hoje.
Em relação à participação do Brasil, há duas conclusões a tirar. No plano relativo -isto é, comparando a seleção brasileira com as demais-, houve unanimidade de que vencemos a Copa com méritos.
Mas, quando se avalia o nível de todas as equipes, percebe-se uma mediocrização geral das seleções nacionais, inclusive da brasileira. Talvez a razão esteja
na própria globalização do esporte e no próprio conceito do enfraquecimento das nações, ante as empresas. Hoje em dia há um comércio global de jogadores, clubes financeiramente fortes, criando uma dicotomia curiosa. Há um enfraquecimento das seleções nacionais de países exportadores de jogadores,
pelo fato de eles não mais conviverem em um mesmo país, não
se conseguir mais tempo para
treinamento conjunto ou meramente por virem estropiados pelo excesso de esforço nos campeonatos nacionais. Ao mesmo
tempo, não há uma consolidação das seleções nacionais dos
países importadores, pelo fato
de que os jogadores, em geral,
optam por jogar nos seus países
de origem.
Isso talvez explique o fato de,
há muitos anos, não haver uma
seleção inesquecível na Copa,
como foi a do Brasil em 1958,
1970, 1978, 1982 e 1986, a da Holanda e da Alemanha em 1974,
a da Hungria em 1954.
Outro fato a chamar a atenção é o modelo do jogador brasileiro contemporâneo. Nos anos
70, tempos do "milagre" e do
novo consumismo, os jogadores
vitoriosos se comportavam como as divas de Hollywood dos
anos 50 e 60. Comportavam-se
como novos-ricos, dissipavam o
dinheiro e a vida em farras monumentais, tinham vergonha
da própria origem.
Agora o que se vê são jogadores vindos em sua maioria de
ambientes pobres, como seus
antecessores, mas com orgulho
da própria origem. Outro dia
conheci em uma casa uma empregada doméstica prima de
Cafu. O jogador visita a família,
que mora em casa pobre da periferia, e mantém uma fundação para ajudar a região. Rivaldo, o imenso Rivaldo, continua
tropeçando no português e casado com a mesma mulher que
compartilhou com ele os momentos de penúria. Roberto
Carlos e outros falam claramente da sua origem, com carinho e
orgulho.
Outra observação da Copa é
sobre Felipão. Quem viu a seleção de Zagallo de 1970, a de Telê
de 1982, mesmo a de Parreira de
1994 não pode considerar Felipão um grande estrategista.
Mas o seu sucesso comprova que
foi sábio ao se basear em dois fatores relevantes em qualquer organização. O primeiro: saber
criar um espírito de equipe. O
segundo: não se deixar contaminar pelos 500 mil palpites que
desabavam diariamente sobre
sua cabeça. Assimilou algumas
críticas, mas nunca deixou que
a barafunda de palpites interferisse no roteiro traçado mesmo
sendo um roteiro pouco brilhante.
Chico Xavier
Independentemente de crenças, Chico Xavier emerge como um dos grandes líderes religiosos brasileiros do século 20. No plano nacional, um líder da envergadura de um dom Paulo Evaristo Arns. No plano internacional, uma referência mundial de humanismo e de luta pela paz.
Não fosse o preconceito que ainda toma conta da elite nacional, em relação a religiões não-católicas, certamente teria sido indicado para o Prêmio
Nobel da Paz.
E-mail - lnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Capital deve ter mais protestos Próximo Texto: Comércio exterior: Importações em queda dão superávit recorde à balança Índice
|