São Paulo, terça-feira, 02 de julho de 2002

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LUÍS NASSIF

As lições do pentacampeonato

Algumas observações sobre a Copa do Mundo. No plano internacional, a repercussão foi fantástica, comprovando o enorme poder de formação da imagem nacional representado pelo futebol. As manchetes dos principais jornais do mundo demonstram simpatia, reconhecimento, admiração.
No plano interno, embora não exista mais a magia da primeira Copa, ainda há uma enorme influência no amor-próprio nacional. Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Marcos, Cafu, Roberto Carlos estão definitivamente entronizados no universo das figuras míticas do esporte. Cenas como o gol de Ronaldinho contra a Inglaterra, o corta-luz de Rivaldo para Ronaldo marcar, as defesas de Marcos ajudarão a compor daqui para a frente o universo de símbolos das várias gerações que vivem o Brasil de hoje.
Em relação à participação do Brasil, há duas conclusões a tirar. No plano relativo -isto é, comparando a seleção brasileira com as demais-, houve unanimidade de que vencemos a Copa com méritos.
Mas, quando se avalia o nível de todas as equipes, percebe-se uma mediocrização geral das seleções nacionais, inclusive da brasileira. Talvez a razão esteja na própria globalização do esporte e no próprio conceito do enfraquecimento das nações, ante as empresas. Hoje em dia há um comércio global de jogadores, clubes financeiramente fortes, criando uma dicotomia curiosa. Há um enfraquecimento das seleções nacionais de países exportadores de jogadores, pelo fato de eles não mais conviverem em um mesmo país, não se conseguir mais tempo para treinamento conjunto ou meramente por virem estropiados pelo excesso de esforço nos campeonatos nacionais. Ao mesmo tempo, não há uma consolidação das seleções nacionais dos países importadores, pelo fato de que os jogadores, em geral, optam por jogar nos seus países de origem.
Isso talvez explique o fato de, há muitos anos, não haver uma seleção inesquecível na Copa, como foi a do Brasil em 1958, 1970, 1978, 1982 e 1986, a da Holanda e da Alemanha em 1974, a da Hungria em 1954.
Outro fato a chamar a atenção é o modelo do jogador brasileiro contemporâneo. Nos anos 70, tempos do "milagre" e do novo consumismo, os jogadores vitoriosos se comportavam como as divas de Hollywood dos anos 50 e 60. Comportavam-se como novos-ricos, dissipavam o dinheiro e a vida em farras monumentais, tinham vergonha da própria origem.
Agora o que se vê são jogadores vindos em sua maioria de ambientes pobres, como seus antecessores, mas com orgulho da própria origem. Outro dia conheci em uma casa uma empregada doméstica prima de Cafu. O jogador visita a família, que mora em casa pobre da periferia, e mantém uma fundação para ajudar a região. Rivaldo, o imenso Rivaldo, continua tropeçando no português e casado com a mesma mulher que compartilhou com ele os momentos de penúria. Roberto Carlos e outros falam claramente da sua origem, com carinho e orgulho.
Outra observação da Copa é sobre Felipão. Quem viu a seleção de Zagallo de 1970, a de Telê de 1982, mesmo a de Parreira de 1994 não pode considerar Felipão um grande estrategista. Mas o seu sucesso comprova que foi sábio ao se basear em dois fatores relevantes em qualquer organização. O primeiro: saber criar um espírito de equipe. O segundo: não se deixar contaminar pelos 500 mil palpites que desabavam diariamente sobre sua cabeça. Assimilou algumas críticas, mas nunca deixou que a barafunda de palpites interferisse no roteiro traçado mesmo sendo um roteiro pouco brilhante.

Chico Xavier
Independentemente de crenças, Chico Xavier emerge como um dos grandes líderes religiosos brasileiros do século 20. No plano nacional, um líder da envergadura de um dom Paulo Evaristo Arns. No plano internacional, uma referência mundial de humanismo e de luta pela paz.
Não fosse o preconceito que ainda toma conta da elite nacional, em relação a religiões não-católicas, certamente teria sido indicado para o Prêmio Nobel da Paz.

E-mail - lnassif@uol.com.br



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