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Especialistas sugerem veto à multa de 40% do FGTS a domésticos
Segundo eles, pelo menos esse encargo o presidente Lula deveria excluir do texto da MP aprovada pelo Congresso
Sem o veto, "mais um encargo" poderia levar mais domésticos a trabalhar na informalidade, sem registro e sem os direitos básicos
MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelo menos a multa de 40%
do FGTS (Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço) aos domésticos demitidos sem justa
causa deveria ser vetada pelo
presidente Lula ao sancionar a
medida provisória nº 284,
aprovada pelo Congresso na semana passada.
A sugestão é de especialistas
consultados pela Folha. Alguns
entendem até que o melhor seria vetar também a obrigatoriedade do depósito mensal de 8%
pago pelo empregador.
Para os especialistas, tirar a
multa não equivale a "deixar de
dar" ao doméstico um direito
concedido aos demais trabalhadores do país. Trata-se de
impedir que "mais um encargo" acabe por levar mais domésticos para a informalidade,
ou seja, sem carteira assinada e
sem os direitos trabalhistas básicos, como férias, 13º salário,
contribuição ao INSS etc.
Um número ilustra bem o
que é hoje o mercado de trabalho dos domésticos no país: de
6,472 milhões de trabalhadores, apenas 1,672 milhão tem
carteira assinada, segundo o
IBGE. De cada quatro, três estão na informalidade.
O presidente decidirá, nos
próximos dias, se sanciona com
ou sem vetos as modificações
aprovadas pelo Congresso na
medida provisória nº 284.
Se for aprovada a obrigatoriedade do FGTS e o conseqüente pagamento da multa
nas demissões sem justa causa,
os especialistas entendem que
a informalidade não diminuirá.
Ou seja, não será alcançada a
intenção inicial do governo,
que é a de mais domésticos terem o registro em carteira.
Diante disso, a sugestão é
que haja o veto ao menos da
multa de 40% sobre o saldo do
FGTS no caso de o doméstico
ser demitido sem justa causa.
O advogado Wladimir Novaes Martinez, especialista em
legislação previdenciária, entende que não haverá diminuição dos registros em carteira se
o FGTS e a multa forem aprovados. Para ele, quem tem um
empregado registrado não vai
dispensá-lo porque terá de pagar mais 8%. "O patrão não vai
dispensar o empregado por ter
de pagar mais R$ 28 por mês
[8% sobre um salário mínimo],
R$ 32 [8% sobre R$ 400] ou R$
40 [8% sobre R$ 500]."
Martinez diz que, no começo, "vai haver chiadeira contra
mais um encargo trabalhista",
mas depois as pessoas se acostumam. "Foi assim quando
veio a regulamentação do trabalho doméstico, em 1973, e foram criados outros direitos."
O advogado diz que está na
hora de o país "reconhecer um
trabalhador que precisa ser valorizado pela família e pela sociedade". Por isso, Martinez diz
que o presidente Lula deve vetar apenas a multa de 40%.
Custo elevado
A tributarista Elisabeth Lewandowski Libertuci, especialista em IR da pessoa física, diz
que Lula deveria vetar toda a
parte referente ao FGTS -o depósito mensal e a multa mesmo
na demissão sem justa causa.
A advogada diz que, sem esse
encargo, o patrão e o empregado terão maior possibilidade de
chegar a um salário mais justo.
"O FGTS já representa um custo elevado para as empresas;
para as famílias, então, poderá
ser um custo insuportável."
Para Mario Avelino, consultor especializado no assunto e
presidente do Instituto FGTS
Fácil, teriam de ser vetados a
obrigatoriedade do depósito do
fundo e o pagamento do salário-família -este, por falta da
devida fonte de recursos.
Avelino diz que o ideal é deixar o FGTS como está, ou seja,
o pagamento é opcional. "Se
não houver o veto, cerca de 795
mil domésticos registrados vão
perder seus registros em carteira, passando para a informalidade" (ver texto abaixo).
Margareth Galvão Carbinato, presidente do Sindicato dos
Empregadores Domésticos no
Estado de São Paulo, diz que o
desemprego que o metalúrgico
Lula já sentiu na pele poderá
ser proporcionado pelo presidente Lula a milhares de domésticos em todo o país.
"Lula já foi desempregado e
sofreu o que os empregados domésticos sofrerão caso ele sancione o projeto como foi aprovado pelo Congresso."
Para Carbinato, é preciso tirar a obrigatoriedade de o patrão pagar o FGTS e a multa.
"Basta manter o FGTS opcional, sem a multa de 40%, como
é hoje. Se não houver o veto, ficará inviável ter um empregado
doméstico registrado."
Para a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos no Município de São Paulo,
Emerenciana Lúcia de Oliveira,
a MP não deve ter vetos. "Ficaremos felizes se as emendas
[aprovadas pelo Congresso] forem mantidas pelo presidente."
Segundo ela, se passar apenas a versão original, que dá incentivo do IR ao patrão, "será
um horror". "Os patrões só registrarão um salário mínimo
em carteira, para ter direito ao
incentivo." Com isso, "haverá
diminuição da aposentadoria,
do salário-maternidade e de
outros benefícios", diz ela.
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