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VIZINHO EM CRISE
Risco-país bate novo recorde e chega aos níveis da Nigéria, arrecadação desaba e país espera por socorro
Mercado vê Argentina à beira da moratória
ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES
A Argentina está mais próxima
do que nunca de uma moratória,
na visão dos mercados. Apesar do
anúncio de um refinanciamento
de US$ 1,3 bilhão da dívida de curto prazo, o nível de desconfiança
dos investidores sobre a saúde financeira do país voltou ontem a
bater seu recorde histórico.
O risco-país Argentina chegou
ontem a níveis próximos aos da
Nigéria, que tem os maiores índices de desconfiança entre os países emergentes. O indicador chegou a bater em 1.723 pontos, para
fechar o dia em 1.686.
O principal fator que provocou
o aumento da desconfiança foi a
perspectiva do anúncio de uma
queda de 8,7% na arrecadação fiscal em julho sobre o mesmo mês
de 2000. A queda, confirmada no
final da tarde, torna mais difícil o
cumprimento da meta de déficit
fiscal zero proposta pelo governo.
Ainda existe uma dúvida muito
grande entre os investidores sobre a capacidade do país de atingir a meta de déficit zero e de conseguir apoio político para isso.
Muitos legisladores, incluindo alguns da própria base parlamentar
do governo, continuam criticando o ajuste fiscal proposto. Sem
um ajuste muito forte, acreditam
os investidores, a Argentina não
terá capacidade para honrar os
vencimentos de sua dívida pública, que soma US$ 130 bilhões.
Risco-país
O índice de risco-país da Argentina, principal termômetro da
desconfiança dos investidores,
chegou ao final do dia em 1.686
pontos, 82 acima do fechamento
de terça. O recorde anterior do
risco-país argentino havia sido
1.629 pontos, no dia 16 de julho.
O risco-país indica a sobretaxa
paga pelo país ao tomar empréstimos em relação ao que pagam os
EUA, cujos títulos da dívida são
considerados os mais seguros.
Cada cem pontos de risco-país
significam um ponto percentual a
mais de sobretaxa.
Especialistas consideram que é
impossível para o país retomar o
crescimento econômico, após
mais de três anos de forte recessão, enquanto o risco-país estiver
acima de 800 pontos. Quando o
presidente Fernando De la Rúa
assumiu o governo, em dezembro
de 99, o risco-país era 607 pontos.
Círculo vicioso
Com um risco-país em níveis altos, a Argentina tende a entrar em
um ciclo vicioso, no qual a falta de
crescimento provoca uma arrecadação menor, mais dificuldades
para o cumprimento dos compromissos financeiros e uma alta
ainda maior no risco-país.
A Bolsa de Buenos Aires fechou
ontem com uma queda de 4,3%.
A cotação do Global 2008, principal título da dívida argentina negociado no exterior, caiu 4,8%.
Para inverter o quadro de pessimismo, o governo trabalha para
tentar convencer o FMI, outros
organismos de ajuda financeira e
alguns países desenvolvidos a
conceder um novo pacote de ajuda financeira para o país, o que reduziria as especulações sobre
uma moratória.
Em 2000, o FMI liderou um pacote de blindagem financeira de
US$ 39,7 bilhões. O organismo já
admite antecipar para este ano
desembolsos previstos pelo pacote, que somam US$ 2,5 bilhões.
Mas analistas econômicos consideram que, para eliminar de vez
as dúvidas sobre a Argentina, seria necessário um montante ainda
maior, de até US$ 10 bilhões.
Letes
As expectativas pessimistas superaram os possíveis impactos
positivos que poderia ter ontem o
anúncio de um acordo com bancos para refinanciar US$ 1,3 bilhão da dívida de curtíssimo prazo, por meio da troca de Letras do
Tesouro (Letes), com vencimento
até o final do ano, por outros títulos com vencimento em 2002.
O governo já havia fechado outro acordo com as administradoras locais de fundos de pensão,
que se comprometeram a comprar US$ 2,3 bilhões em títulos
públicos, que serão utilizados para cancelar outra parte dos US$
4,3 bilhões em Letes com vencimento até o fim do ano.
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