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LUÍS NASSIF
Sem medo de liderar
Falta uma posição mais
afirmativa do Brasil nas
negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Houve avanços, mas a batalha
é complexa e exigirá uma competência diplomática inédita
por parte do Brasil.
Não basta apenas ter bons negociadores. O Brasil precisa
aproveitar sua recém-conquistada presença na cena diplomática internacional para assumir definitivamente uma atitude de liderança.
Na Rodada Uruguai -que
definiu o escopo das relações comerciais atuais-o Brasil
atuou de maneira modesta, integrando um conjunto de países
exportadores conhecido como
"Grupo de Cairns", liderado pela Austrália.
Agora o jogo é outro, e o cacife, muito maior, desde que bem
utilizado. O Brasil tem posição
de liderança inconteste na
América Latina, no Mercosul,
tem a liderança natural nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e
com a União Européia, tornou-se centro de interesses dos principais países do mundo, em razão do vulto dos investimentos
realizados nos últimos anos,
com privatização e liberalização da economia, manteve a influência antiga sobre países de
desenvolvimento em geral. É
hora de exercer esse poder, de
fato.
Segundo avaliações de fontes
envolvidas no processo, as perspectivas para a próxima reunião de Doha (Qatar) não são
boas. As reuniões em Genebra,
nos últimos dias, foram insuficientes para definir a tendência
das negociações. Nas últimas
rodadas deixou-se o assunto
agrícola de lado, até pela dificuldade de conciliar posições
antagônicas. Agora, não se pode dar moleza. Faltam cem dias
apenas para a reunião dos ministros, e esse período precisa
ser aproveitado para a montagem de uma estratégia clara de
atuação.
Como analisa um observador
da cena internacional, essa liderança precisa ser conquistada com posições explícitas, fortes e definidas. É preciso, antes
de mais nada, deixar claro aos
desenvolvidos que a falta de
uma definição clara sobre liberalização agrícola inviabilizará
qualquer acordo em Doha. Não
se pode negociar uma pauta
que contemple apenas os interesses dos desenvolvidos.
Na reunião de Seattle houve
um avanço -entendem esses
observadores-, quando ficou
claro que o bloco dos países em
desenvolvimento não aceita
mais imposições dos desenvolvidos. Esse fato fortalece uma
eventual posição brasileira de
endurecer em torno dos temas
agrícolas em Doha e impedir
que se repita a Rodada Uruguai, quando um acordo entre
EUA e europeus (o chamado
acordo de Blair House) abortou
qualquer tentativa de avanço
na área agrícola.
O argumento central, a ser
brandido pela diplomacia brasileira, é que a ausência de progresso na OMC dificultará
imensamente qualquer acordo
com a UE e poderá inviabilizar
a Alca. Será impossível um
acordo de livre comércio com o
nível de subsídio agrícola praticado pelos países centrais.
O momento e local para alterar isso é agora, na OMC, em
Doha, concluem esses observadores.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail - lnassif@uol.com.br
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