São Paulo, quinta-feira, 02 de agosto de 2001

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LUÍS NASSIF

Sem medo de liderar

Falta uma posição mais afirmativa do Brasil nas negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio). Houve avanços, mas a batalha é complexa e exigirá uma competência diplomática inédita por parte do Brasil.
Não basta apenas ter bons negociadores. O Brasil precisa aproveitar sua recém-conquistada presença na cena diplomática internacional para assumir definitivamente uma atitude de liderança.
Na Rodada Uruguai -que definiu o escopo das relações comerciais atuais-o Brasil atuou de maneira modesta, integrando um conjunto de países exportadores conhecido como "Grupo de Cairns", liderado pela Austrália.
Agora o jogo é outro, e o cacife, muito maior, desde que bem utilizado. O Brasil tem posição de liderança inconteste na América Latina, no Mercosul, tem a liderança natural nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e com a União Européia, tornou-se centro de interesses dos principais países do mundo, em razão do vulto dos investimentos realizados nos últimos anos, com privatização e liberalização da economia, manteve a influência antiga sobre países de desenvolvimento em geral. É hora de exercer esse poder, de fato.
Segundo avaliações de fontes envolvidas no processo, as perspectivas para a próxima reunião de Doha (Qatar) não são boas. As reuniões em Genebra, nos últimos dias, foram insuficientes para definir a tendência das negociações. Nas últimas rodadas deixou-se o assunto agrícola de lado, até pela dificuldade de conciliar posições antagônicas. Agora, não se pode dar moleza. Faltam cem dias apenas para a reunião dos ministros, e esse período precisa ser aproveitado para a montagem de uma estratégia clara de atuação.
Como analisa um observador da cena internacional, essa liderança precisa ser conquistada com posições explícitas, fortes e definidas. É preciso, antes de mais nada, deixar claro aos desenvolvidos que a falta de uma definição clara sobre liberalização agrícola inviabilizará qualquer acordo em Doha. Não se pode negociar uma pauta que contemple apenas os interesses dos desenvolvidos.
Na reunião de Seattle houve um avanço -entendem esses observadores-, quando ficou claro que o bloco dos países em desenvolvimento não aceita mais imposições dos desenvolvidos. Esse fato fortalece uma eventual posição brasileira de endurecer em torno dos temas agrícolas em Doha e impedir que se repita a Rodada Uruguai, quando um acordo entre EUA e europeus (o chamado acordo de Blair House) abortou qualquer tentativa de avanço na área agrícola.
O argumento central, a ser brandido pela diplomacia brasileira, é que a ausência de progresso na OMC dificultará imensamente qualquer acordo com a UE e poderá inviabilizar a Alca. Será impossível um acordo de livre comércio com o nível de subsídio agrícola praticado pelos países centrais.
O momento e local para alterar isso é agora, na OMC, em Doha, concluem esses observadores.


Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail - lnassif@uol.com.br


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