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BNDES estuda revisão no aumento da energia
FERNANDA NUNES
DA SUCURSAL DO RIO
O ministro de Minas e Energia,
José Jorge, nega. Mas o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) está
trabalhando para rever o modelo
de reajuste da tarifa de energia. O
grupo é coordenado pelo presidente do banco, Francisco Gros.
Gros vem mantendo constantes
reuniões com os componentes do
Comitê de Revitalização, da Câmara de Gestão da Crise de Energia. O grupo tem o trabalho de rever o modelo do setor elétrico e
analisar a reivindicação dos investidores para que as tarifas de energia sejam valorizadas.
O governo tem um bom motivo
para ouvir o empresariado. A iniciativa privada guarda como
trunfo a possibilidade de investimento de US$ 7 bilhões para a geração de 12 mil MW de energia.
Mas diz que só o fará se os seus
pedidos forem aceitos.
As empresas estão organizadas
na CBIEE (Câmara Brasileira de
Investidores em Energia Elétrica),
presidida por Roberto Lima Netto. A entidade representa, principalmente, as distribuidoras, controladas por multinacionais de
peso do setor elétrico, como EDF,
EDP, Iberdrola e Endesa.
Para não dar margem a contra-argumentos, ainda foi contratada
a AT Kearney. A consultoria ficou
incumbida de preparar um relatório para provar ao BNDES e à
Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) que a saúde financeira das distribuidoras está comprometida pelos custos não-gerenciáveis.
São os gastos que fogem ao controle das distribuidoras, como os
encargos com as caras térmicas
do Norte -arcados por todo o setor- e o pagamento da energia
de Itaipu -cobrada em dólar.
A proposta dos investidores é
que os consumidores industriais
paguem essa conta. Para isso,
existem duas alternativas. A primeira é o repasse imediato dos
gastos, o que representaria um
reajuste da tarifa de pelo menos
10%, segundo Lima Netto.
A outra idéia é que o governo
simplesmente acabe com os subsídios dados ao setor industrial. A
média de preço do MW para a indústria é de R$ 60, enquanto as residências pagam R$ 180 e o comércio, R$ 145. No Norte do país,
o custo da energia para grandes
consumidores chega a R$ 30, por
causa dos subsídios.
Os investidores do setor elétrico
já ganharam aliados de peso. O
próprio Gros afirmou que é preciso incentivar a iniciativa privada.
E o presidente da Eletrobrás,
Cláudio Ávila, disse que os consumidores residenciais estão pagando tarifas de Primeiro Mundo, enquanto as indústrias recebem incentivos dignos de países subdesenvolvidos.
Os grandes consumidores não
gostaram da conversa. A Abrace,
que reúne as maiores empresas
do Brasil -como Vale do Rio Doce, Copene e Alcoa- respondeu
a Gros com o pedido para que ele
dê atenção especial aos custos das
distribuidoras.
"Será que não há gastos a serem
cortados antes de pensar em aumento de tarifa de energia?",
questiona Paulo Ludmer, diretor
da associação.
Na avaliação da Abrace, as empresas mais afetadas por reajustes
tarifários seriam as que produzem para o mercado interno, como cimenteiras e de alimentos.
Ludmer argumenta que elas
não teriam condições de incorporar repasses que tenham o dólar
como indexador. "Essas companhias respiram em real."
O BNDES informou que não há
definição sobre o modelo de revisão tarifária que será adotado. O
governo está evitando atrelar a tarifa de energia ao dólar com medo
de que a medida tenha reflexos
nas eleições de 2002.
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