São Paulo, quinta-feira, 02 de agosto de 2001

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BNDES estuda revisão no aumento da energia

FERNANDA NUNES
DA SUCURSAL DO RIO

O ministro de Minas e Energia, José Jorge, nega. Mas o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) está trabalhando para rever o modelo de reajuste da tarifa de energia. O grupo é coordenado pelo presidente do banco, Francisco Gros.
Gros vem mantendo constantes reuniões com os componentes do Comitê de Revitalização, da Câmara de Gestão da Crise de Energia. O grupo tem o trabalho de rever o modelo do setor elétrico e analisar a reivindicação dos investidores para que as tarifas de energia sejam valorizadas.
O governo tem um bom motivo para ouvir o empresariado. A iniciativa privada guarda como trunfo a possibilidade de investimento de US$ 7 bilhões para a geração de 12 mil MW de energia. Mas diz que só o fará se os seus pedidos forem aceitos.
As empresas estão organizadas na CBIEE (Câmara Brasileira de Investidores em Energia Elétrica), presidida por Roberto Lima Netto. A entidade representa, principalmente, as distribuidoras, controladas por multinacionais de peso do setor elétrico, como EDF, EDP, Iberdrola e Endesa.
Para não dar margem a contra-argumentos, ainda foi contratada a AT Kearney. A consultoria ficou incumbida de preparar um relatório para provar ao BNDES e à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) que a saúde financeira das distribuidoras está comprometida pelos custos não-gerenciáveis.
São os gastos que fogem ao controle das distribuidoras, como os encargos com as caras térmicas do Norte -arcados por todo o setor- e o pagamento da energia de Itaipu -cobrada em dólar.
A proposta dos investidores é que os consumidores industriais paguem essa conta. Para isso, existem duas alternativas. A primeira é o repasse imediato dos gastos, o que representaria um reajuste da tarifa de pelo menos 10%, segundo Lima Netto.
A outra idéia é que o governo simplesmente acabe com os subsídios dados ao setor industrial. A média de preço do MW para a indústria é de R$ 60, enquanto as residências pagam R$ 180 e o comércio, R$ 145. No Norte do país, o custo da energia para grandes consumidores chega a R$ 30, por causa dos subsídios.
Os investidores do setor elétrico já ganharam aliados de peso. O próprio Gros afirmou que é preciso incentivar a iniciativa privada. E o presidente da Eletrobrás, Cláudio Ávila, disse que os consumidores residenciais estão pagando tarifas de Primeiro Mundo, enquanto as indústrias recebem incentivos dignos de países subdesenvolvidos.
Os grandes consumidores não gostaram da conversa. A Abrace, que reúne as maiores empresas do Brasil -como Vale do Rio Doce, Copene e Alcoa- respondeu a Gros com o pedido para que ele dê atenção especial aos custos das distribuidoras.
"Será que não há gastos a serem cortados antes de pensar em aumento de tarifa de energia?", questiona Paulo Ludmer, diretor da associação.
Na avaliação da Abrace, as empresas mais afetadas por reajustes tarifários seriam as que produzem para o mercado interno, como cimenteiras e de alimentos.
Ludmer argumenta que elas não teriam condições de incorporar repasses que tenham o dólar como indexador. "Essas companhias respiram em real."
O BNDES informou que não há definição sobre o modelo de revisão tarifária que será adotado. O governo está evitando atrelar a tarifa de energia ao dólar com medo de que a medida tenha reflexos nas eleições de 2002.



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