São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2004

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ORTODOXIA

PT via PIB menor para 2003

Declaração de Palocci contradiz previsão do BC

GUSTAVO PATU
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma declaração do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, contradiz as previsões para o crescimento da economia feitas pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva ao longo do ano passado.
Em entrevista publicada pela revista "Época" que circulou no fim de semana, Palocci disse que, mesmo antes de tomar posse, o governo petista já sabia que o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) em 2003 seria algo entre uma queda de 0,3% e um crescimento na mesma proporção -embora o Orçamento elaborado em 2002 falasse em crescimento de 2,8%.
"Assumimos com uma previsão de ajuste forte e de crescimento de 2,8% no PIB, que herdamos do governo passado. Disseram que nós tínhamos prometido um PIB de 2,8%. Não prometemos nada. Isso foi colocado no Orçamento pelo governo passado, antes da crise de 2002", afirma o ministro.
Ainda segundo a revista, Palocci completa: "Nossa conta, desde o início, variava entre uma queda de 0,3% no PIB e um crescimento de, no máximo, 0,3%".
De fato, o PIB registrou queda de 0,2% no ano passado -a primeira queda anual desde 1992, no governo Collor (1990-1992). No entanto documentos oficiais do BC, vinculado à Fazenda, previram, ao longo do ano passado, taxas muito mais favoráveis.
Logo no início do governo, em carta aberta a Palocci, o presidente do BC, Henrique Meirelles, projetou para o ano justamente os 2,8% de crescimento mencionados no Orçamento elaborado pelo governo FHC.
O texto, de 21 de janeiro, propunha a alteração da meta de inflação de 4% para 8,5%, o que, segundo o BC, viabilizaria a taxa prevista para o PIB -o IPCA do ano passado acabou chegando a 9,3%, mas mesmo o estouro da meta não foi capaz de permitir o cumprimento da profecia.
A partir daí, o BC passou a reduzir gradualmente suas previsões para o crescimento, embora só em dezembro os números oficiais tenham chegado aos patamares que, segundo Palocci, já eram esperados pelo governo desde "antes de tomar posse". Outra declaração do ministro à "Época" parece descrever esse processo: "A cada mês, nós precisávamos ajustar a expectativa: "Olha, esses 2,8% de crescimento no PIB talvez sejam 2%, talvez seja 1,5%, talvez seja 1%, talvez não seja nada'".
Depois de falar em 2,8% em janeiro, o BC baixou a previsão em março em seu "Relatório de Inflação", publicação trimestral destinada a acompanhar os resultados da política monetária e a traçar cenários futuros.
"Para 2003, estima-se o crescimento do PIB em 2,2%. Esse percentual é inferior ao apresentado no último Relatório de Inflação, em dezembro de 2002, de 2,8%, basicamente como conseqüência da deterioração de determinantes da demanda interna, particularmente das condições de crédito e das expectativas, estas últimas influenciadas pelas incertezas advindas do cenário externo."

Espetáculo
Em junho, argumentos semelhantes foram usados pelo BC para explicar a nova redução na projeção de crescimento, que passou para 1,5%. Dias antes de divulgada a estimativa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometia aquilo que chamou de "espetáculo do crescimento".
"Esperem que o mês de julho será o do espetáculo do crescimento. É o mês em que a gente vai começar a fazer a curva que deve ser feita", disse o presidente Lula em discurso a metalúrgicos no ABC paulista. Em setembro, porém, o Banco Central reduziu para 0,6% a expectativa de crescimento. Em 30 de dezembro, a última projeção do ano: 0,2%.
Procurado pela Folha, o BC não quis comentar o caso. A reportagem também deixou recado na caixa postal do assessor de imprensa de Palocci, Marcelo Netto, mas não obteve resposta.


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