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ORTODOXIA
PT via PIB menor para 2003
Declaração de Palocci contradiz previsão do BC
GUSTAVO PATU
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma declaração do ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho,
contradiz as previsões para o
crescimento da economia feitas
pelo governo Luiz Inácio Lula da
Silva ao longo do ano passado.
Em entrevista publicada pela revista "Época" que circulou no fim
de semana, Palocci disse que,
mesmo antes de tomar posse, o
governo petista já sabia que o resultado do PIB (Produto Interno
Bruto) em 2003 seria algo entre
uma queda de 0,3% e um crescimento na mesma proporção
-embora o Orçamento elaborado em 2002 falasse em crescimento de 2,8%.
"Assumimos com uma previsão
de ajuste forte e de crescimento de
2,8% no PIB, que herdamos do
governo passado. Disseram que
nós tínhamos prometido um PIB
de 2,8%. Não prometemos nada.
Isso foi colocado no Orçamento
pelo governo passado, antes da
crise de 2002", afirma o ministro.
Ainda segundo a revista, Palocci
completa: "Nossa conta, desde o
início, variava entre uma queda
de 0,3% no PIB e um crescimento
de, no máximo, 0,3%".
De fato, o PIB registrou queda
de 0,2% no ano passado -a primeira queda anual desde 1992, no
governo Collor (1990-1992). No
entanto documentos oficiais do
BC, vinculado à Fazenda, previram, ao longo do ano passado, taxas muito mais favoráveis.
Logo no início do governo, em
carta aberta a Palocci, o presidente do BC, Henrique Meirelles,
projetou para o ano justamente os
2,8% de crescimento mencionados no Orçamento elaborado pelo governo FHC.
O texto, de 21 de janeiro, propunha a alteração da meta de inflação de 4% para 8,5%, o que, segundo o BC, viabilizaria a taxa
prevista para o PIB -o IPCA do
ano passado acabou chegando a
9,3%, mas mesmo o estouro da
meta não foi capaz de permitir o
cumprimento da profecia.
A partir daí, o BC passou a reduzir gradualmente suas previsões
para o crescimento, embora só
em dezembro os números oficiais
tenham chegado aos patamares
que, segundo Palocci, já eram esperados pelo governo desde "antes de tomar posse". Outra declaração do ministro à "Época" parece descrever esse processo: "A cada mês, nós precisávamos ajustar
a expectativa: "Olha, esses 2,8% de
crescimento no PIB talvez sejam
2%, talvez seja 1,5%, talvez seja
1%, talvez não seja nada'".
Depois de falar em 2,8% em janeiro, o BC baixou a previsão em
março em seu "Relatório de Inflação", publicação trimestral destinada a acompanhar os resultados
da política monetária e a traçar
cenários futuros.
"Para 2003, estima-se o crescimento do PIB em 2,2%. Esse percentual é inferior ao apresentado
no último Relatório de Inflação,
em dezembro de 2002, de 2,8%,
basicamente como conseqüência
da deterioração de determinantes
da demanda interna, particularmente das condições de crédito e
das expectativas, estas últimas influenciadas pelas incertezas advindas do cenário externo."
Espetáculo
Em junho, argumentos semelhantes foram usados pelo BC para explicar a nova redução na projeção de crescimento, que passou
para 1,5%. Dias antes de divulgada a estimativa, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva prometia
aquilo que chamou de "espetáculo do crescimento".
"Esperem que o mês de julho
será o do espetáculo do crescimento. É o mês em que a gente vai
começar a fazer a curva que deve
ser feita", disse o presidente Lula
em discurso a metalúrgicos no
ABC paulista. Em setembro, porém, o Banco Central reduziu para 0,6% a expectativa de crescimento. Em 30 de dezembro, a última projeção do ano: 0,2%.
Procurado pela Folha, o BC não
quis comentar o caso. A reportagem também deixou recado na
caixa postal do assessor de imprensa de Palocci, Marcelo Netto,
mas não obteve resposta.
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